Libertação das mulheres: a tradição marxista

Sobre a história do movimento feminista marxista nos Estados Unidos.

Sharon Smith 16 mar 2019, 11:25

“Se a libertação das mulheres é impensável sem o comunismo, então o comunismo é impensável sem a libertação das mulheres”[1] – Revolucionária russa Inessa Armand

Os marxistas clássicos do século XIX e do começo do século XX – Karl Marx, Fredrich Engels, Clara Zetkin, Rosa Luxembrugo, V. I. Lênin, Alexandra Kollontai, e Leon Trotsky – desenvolveram uma estrutura teórica amarrando a luta pela libertação das mulheres à luta pelo socialismo. Do mesmo modo que suas teorias necessitam de atualizações[2], suas enormes contribuições foram muitas vezes rejeitadas ou ignoradas.

Contudo, a história daquelas que levaram adiante a tradição marxista sobre opressão às mulheres durante a metade do século XX têm sido frequentemente invisibilizada – ainda que essas ativistas e teóricas tenham prosseguido uma linha indispensável que se seguiu entre a vitória do sufrágio feminino nos anos 1920 (muitas vezes referida como uma “primeira onda” do feminismo nos EUA) e a ascensão do movimento dos anos 1960 pela libertação das mulheres (conhecida como sua “segunda onda”).

Marx e Engels localizaram a raiz da opressão às mulheres em seu papel na família nucelar em sociedades de classe. Eles entenderem que o papel da mulher como “reprodutoras” biológicas resulta no seu status subordinado dentro da família nuclear, e consequentemente, em toda a sociedade. Nas sociedades capitalistas, mulheres em famílias proprietárias reproduzem herdeiros, mulheres em famílias da classe operária reproduzem gerações de força de trabalho para o sistema.

A classe capitalista se tornou dependente deste método de “reprodução privatizada” dentro da família da classe operária porque ele diminui sua responsabilidade financeira pela reprodução da mão de obra, que é, ao invés disso, largamente fornecida por trabalho doméstico não pago realizado primordialmente por mulheres. A pré-condição à libertação das mulheres exige, então, o fim o trabalho não pago dentro da família. Isso, por sua vez, necessita de uma transformação socialista da sociedade, que não pode ser alcançada gradativamente, mas apenas através de um processo de revolução social, com uma batalha decisiva entre classes.

Marx e Engels identificaram precocemente a agência revolucionária da classe trabalhadora, ou proletária, como a única classe capaz de liderar a transformação para uma sociedade socialista. No Manifesto Comunista, eles argumentaram: “O que a burguesia produz, acima de tudo, são seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis”[3]. Como Hal Draper notou:

A clássica formulação do principio de auto-emancipação de Marx foi escrito em 1864 como a primeira premissa das Regras da Primeira Internacional – de fato, em sua primeira cláusula:

“Considerando que a emancipação das classes trabalhadoras deve ser conquistada pelas próprias classes trabalhadoras…”[4]

Essa estratégia revolucionária classista não diminui a importância em combater a opressão às mulheres entre os teóricos marxistas do final do século XIX e começo do século XX. Como Leon Trotsky argumentou: “Para mudar as condições de vida, nós precisamos aprender a olhá-las através do olhar de uma mulher”[5].

Como Marx e Engels antes deles, essa geração de marxistas reconheceu a agência revolucionária de toda a classe trabalhadora – e enxergou as mulheres da classe trabalhadora como um componente-chave para alcançar seu potencial revolucionário. Eles enfatizaram a condição das mulheres da classe trabalhadora e tentaram organizar movimentos explícitos de mulheres trabalhadoras.

Marxistas europeus, da Alemanha à Rússia, estiveram frequentemente na vanguarda da luta pela libertação das mulheres enquanto avançavam a teoria marxista no que era chamado de “a questão da mulher”. Eles o fizeram não apenas num momento de um crescente conflito inter-imperialista que levou à Primeira Guerra Mundial, mas também num contexto de ascensão de movimentos socialistas revolucionários. A eclosão da guerra trouxe consigo um redemoinho de patriotismo em todos os países beligerantes e se tornou uma questão divisória dentro do próprio movimento socialista, enquanto que partidos socialistas da Segunda Internacional inteiros se lançaram nos esforços de guerra de suas “próprias” classes dominantes.

O abismo entre as socialistas revolucionárias e aquelas que elas chamavam de “feministas burgueses” não se deu por conta de diferenças estratégicas ou táticas menores, mas por conta de princípios políticos cruciais. No caso da Rússia Czarista, por exemplo, as mulheres da classe dominane se jogaram no esforço de guerra em uma troca cujo retorno era o direito ao voto. A Liga pela Igualdade das Mulheres clamou às mulheres russas para “dispensar toda sua energia, intelecto e conhecimento ao seu país. Essa é nossa obrigação para com nossa pátria, e isso nos dará o direito de participar como iguais aos homens na nova vida de uma Rússia vitoriosa”[6].

Como as socialistas Hal Draper e Anne G. Lipow descreveram, os socialistas revolucionários

(…) deram forte suporte a toda demanda democrática por direitos iguais às mulheres. Mas esse movimento se diferiu das feministas burgueses não só no contexto programático em que ele colocou essas “demandas democráticas”, mas também – e consequentemente – na sua escolha pelas demandas imediatas a enfatizar. Ele se via, em termos marxistas, como um movimento de classe, e isso se traduz em um movimento de mulheres trabalhadoras[7].

A auto-organização das mulheres socialistas

Engels encorajou o socialista alemão August Bebel, autor de Mulher e Socialismo, em 1878, a ajudar a fundação de um movimento socialista de mulheres trabalhadoras dentro do Partido Socia-Democrata da Alemanha (SPD na sigla em alemão). O resultado foi a formação de uma secretaria liderada por mulheres em 1891, com Clara Zetkin – membro líder do SPD – em seu centro político e organizativo.

Zetkin liderou seu trabalho até a divisão da Segunda Internacional a respeito do apoio à Primeira Guerra Mundial, quando ela deixou-a para se juntar a um pequeno número de outros revolucionários antiguerra, incluindo membros do Partido Bolchevique Russo, para fundar um movimento socialista internacional de princípios contra a guerra imperialista. Depois disso, Zetkin continuou seus trabalhos fora da Segunda Internacional.

No momento da fundação da secretaria de mulheres do SPD em 1891, mulheres na Prússia eram legalmente impedidas de participar de encontros políticos ou se filiar a partidos políticos. Finalmente, em 1902, como Bebel notou: “o Secretário de Estado prussiano condescendeu a dar permissão às mulheres para participar de encontros em clubes políticos, mas sob a condição de que elas tomassem assento numa parte do salão especialmente reservada para elas”[8].

As conquistas da secretaria das mulheres, vistas nesse contexto, foram substanciais. Sua publicação, Gleichheit (Igualdade), chegou à circulação de 23 mil exemplares em 1905 para 112 mil em 1913.  Equanto isso, a participação feminina no partido subiu de 4 mil membros em 1905 para 141 mil em 1913[9].

O movimento das mulheres trabalhadoras alemãs logo se tornou o epicentro de um movimento internacional de mulheres socialistas da Segunda Internacional, tendo como prioridade a organização de mulheres trabalhadoras em sindicatos. Em 1907, Zetkin organizou a primeira conferência internacional de mulheres socialistas em Stuttgart, realizada nos dias que antecederam o congresso da Segunda Internacional. No congresso, a Segunda Internacional votou pelo sufrágio internacional de todas as mulheres e homens.

A questão de lutar para o sufrágio “universal” ou “parcial” das mulheres foi ponto de forte controvérsia. Algumas organizações pelo sufrágio das mulheres reivindicaram (e, em alguns países europeus, venceram) sufrágio parcial para as mulheres – com os direitos ao voto baseados na posse de propriedade e no pagamento de taxas (ou seja, restringindo os direitos ao voto àquelas mulheres com meios financeiros). Mas, em muitas desses mesmas sociedades, o sufrágio masculino também era parcial, negando o direito ao voto de homens da classe trabalhadora. Portanto, o sufrágio parcial apenas aumentou o poder de voto das classes superiores.

Mulheres líderes da Segunda Internacional, incluindo Zetkin, Luxemburgo, Kollontai, e Eleanor Marx claramente distinguiram a demanda socialista pelo sufrágio das mulheres daquele das “mulheres de classe média”. Elas defenderam o sufrágio universal no contexto da luta de classes.

Em um artigo de opinião preparado para a conferência das mulheres de Stuttgart em 1907, Zetkin argumentou a favor do direito ao voto a todas as mulheres, sem distinção de classe:

Mas, quando nós reivindicamamos Sufrágio Feminimo, só podemos fazê-lo no terreno, não que deva ser um direito ligado à posse de uma certa quantidade de propriedade, mas que deve ser inerente à própria mulher…

Desse ponto de vista da história, nós reivindicamos a igualdade política das mulheres e o direito ao voto como um reconhecimento dos direitos políticos devidos ao nosso sexo. Essa é uma questão que se aplica ao papel das mulheres sem exceção. Todas as mulheres, não importando sua posição, devem reivindicar igualdade política como um meio para uma vida mais livre, e uma calculada para render ricas bênções para toda a sociedade. Contudo, no mundo das mulheres, como também no mundo dos homens, existe a lei de classe e a luta de classse, e parece estar plenamente estabelecido que, por vezes, entre as trabalhadoras socialistas e as mulheres pertencentes à classe média pode haver tantos antagonismos… Essa classe média deve agitar pelo Sufrágio, não só pelos seus próprios interesses, de modo a enfraquecer o poder do sexo masculino, mas elas também devem trabalhar na causa de toda reforma social, e dar todo o apoio que puderem nessa questão. Mas, enquanto estamos prontas como socialistas para usar todo nosso poder político para trazer essa mudança, ainda somos obrigadas a notar as diferenças entre nós e elas[10].

Classe social e opressão às mulheres

Em 1909, a revolucionária russa Alexandra Kollontai escreveu o que se provou ser uma contribuição definidora à análise marxista da opressão às mulheres, A Base Social da Questão da Mulher, na qual ela argumentou:

O mundo das mulheres é divido, assim como o mundo dos homens, em dois campos: os interesses e as aspirações de um grupo o traz para perto da classe burguesa, enquanto que o outro grupo tem conexões próximas ao proletariado, e suas reivindicações por libertação abrangem uma solução total à questão da mulher. Portanto, embora os dois campos sigam o slogan geral da “libertação da mulher”, suas intenções e interesses são diferentes. Cada um dos grupos inconscientemente toma seu como ponto de partida os interesses e aspirações de suas próprias classes, o que dá uma coloração de classe específica aos alvos e questões que eles colocam para si mesmos… embora aparentemente radical nas demandas das feministas, um não pode preder de vista o fato de que as feministas não podem, em virtude de sua posição de classe, lutar por aquela transformação fundamental da sociedade, sem a qual a libertação das mulheres não pode ser completada[11].

Mas o outro lado da abordagem de Kollontai envolve um esforço em convencer os homens da classe trabalhadora sobre a necessidade de apoiar as demandas das mulheres trabalhadoras. Os bolcheviques intervieram em greves e lutas envolvendo a maioria de trabalhadores do sexo masculino, argumentando que interesses de classe de trabalhadores homens colocam-nos na luta por demandas como proteção maternal e salários iguais para as mulheres.

Em preparação ao Primeiro Congresso de Sindicatos de Toda a Rússia em 1917, Kollontai clamou para que os homens da classe trabalhadora apoiassem salários iguais para as trabalhadoras, argumentando que:

O trabalhador consciente de classe deve entender que o valor do trabalho masculino depende do valor do trabalho feminino, e que, ameaçando substituir trabalhos masculinos com trabalhos femininos mais baratos, o capitalista pode fazer pressão nos salários dos homens, reduzindo-os ao nível dos salários das mulheres. Assim, apenas uma falta de entendentimento pode levar alguém a ver a questão da remuneração igualitária para trabalhos iguais como puramente uma “questão de mulher”[12].

Ao mesmo tempo, seria impreciso assumir que marxistas clássicos desconsiderassem o estado das mulheres de classe média ou mesmo das mulheres burguesas. Ao contrário, Clara Zetkin expressava clara empatia à mulher subjugada dentro de sua família nuclear. Como ela argumentou em 1896, a lei da família ditava às esposas das classes superiores que seus maridos são seus superiores. “Ela ainda é dependente de seu marido. A tutela do sexo mais frágil sobreviveu na lei da família que ainda afirma: E ele deve ser seu mestre”[13]. Ela também argumenta que:

A mulher burguesa não apenas exige seu próprio pão, mas também reivindica nutrição espiritual, e quer desenvolver sua individualidade. É exatamente entre esse estrato que encontramos essa trágica, ainda que psicologicamente interessante, figuras Nora, mulheres que estão cansadas de viver como bonecas em casas de bonecas e querem compartilhar o desenvolvimento da cultura moderna. Os esforços econômicos, intelectuais e morais das advogadas dos direitos das mulheres burguesas são completamente justificaiveis. (Grifos meus)[14].

Na mesma contribuição, Zetknin também argumenta que mulheres de classe média

não são iguais aos homens na forma de possuidores da propriedade privada como são nos círculos superiores. As mulheres desses círculos ainda precisam alcançar sua igualdade econômica perante os homens e elas só podem fazê-lo realizando duas demandas: a demanda por treinamento profissional igualitário e a demanda por oportunidades de trabalho iguais aos dois sexos. Essa batalha de competição faz com que as mulheres deste estrato social reivindiquem seus direitos políticos de modo a poderem, ao lutar politicamente, quebrar todas as barreiras que foram criadas contra sua atividade econômica[15].

Há uma importante distinção, notada acima por Zetkin, entre as mulheres da classe dominante e as mulheres de classe média. As mulheres de classe média, como todos os membros da classe média, experimentam circunstâncias financeiras, de emprego e de vida amplas. A classe média alta se aproxima do modo de vida da classe dominante, enquanto que a classe média baixa encara condições que são dificilmente distinguíveis daquelas dos trabalhadores. Assim, as mulheres de classe média podem ser atraídas para direções políticas diferentes – algumas gravitando em direção à burguesia e outras se identificando com o interesse dos trabalhadores.

De fato, Zetkin, escrevendo em 1896 com tremenda previsão, remarcou a crescente tendência em direção à proletarização do “trabalho mental”, que afeta acadêmicos e outras profissões – um fator que é muito mais relevante hoje do que na época de Zetkin:

Dento da intelligentsia burguesa, outra circusntância leva à piora das condições de vida: o capitalismo necessita da força de trabalho inteligente e cientificamente treinada. Ele, portanto, favoreceu uma superprodução de proletários do trabalho mental e contribuiu ao fenômeno de que as posições sociais antigamente respeitadas e lucrativas dos membros da classe profissional estão se desgastando cada vez mais[16].

O primeiro movimento de libertação das mulheres dos EUA

O movimento pelo sufrágio das mulheres do começo do século XX nos EUA se diferenciava de algum modo de seus homólogos europeus, mas suas dinâmicas eram semelhantes. Enquanto o governo dos EUA garantiu “sufrágio universal” aos homens, ele não impediu os estados do Sul de impor os tributos de votação das Leis de Jim Crow e outras restrições que pretendiam negar o voto especificamente para os homens negros.

Portanto, a segregação de Jim Crow impôs efetivamente sufrágio parcial aos homens, negando o direito ao voto aos homens negros nos antigos estados confederados. Ao lado dessa questão vital, as sufragistas dos EUA reivindicaram “sufrágio universal” para as mulheres (embora às mulheres negras ainda era negado o direito ao voto nos estados das leis de Jim Crow). A Associação Nacional Americana do Sufrágio Feminino (NAWSA, na sigla em inglês), conduzida por brancas, permitiu que afilidas do Sul praticassem segregação racial e reivindicassem votos apenas às mulheres brancas.

O racismo evidente não era, contudo, limitado às seções do sul, como demonstrou em uma carta a um congressista local a líder do Partido Nacional das Mulheres (NWP na sigla em inglês) Carrie Chapman Catt: “As mulheres de Nova York são agora politicamente iguais aos homens de Nova York, mas as mulheres do Sul são politicamente inferiores aos pretos[17][18].

Mulheres afroamericanas, incluindo Mary Church Terrel e Ida B. Wells-Barnett, organizaram-se pelo sufrágio feminino em conjunto com a NAWSA, mas primeiramente através da National Association of Colored Women e o Alpha Suffrage Club. Well-Barnett cumpriu um papel central ao integrar a parada do sufrágio feminino em 1913, ainda que ela tenha sido convida a falar no final da marcha. Ela respondeu com raiva: “Se as mulheres de Illinois não se levantarem agora nessa grande parada democrática, então as mulheres negras estarão perdidas”[19].

As socialistas e radicais dos EUA poderiam ter aderido a suas homólogas europeias na luta pelo sufrágio universal para homens e mulheres a despeito de sua classe ou raça. Infelizmente, isso não se mostrou ser o caso.

Nos Estados Unidos, no começo do século XX, socialistas e outras radicais eram frequentemente membros, ao mesmo tempo, do anarcossindicalista Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo, IWW)e do Partido Socialista (PS), partícipe da Segunda Internacional. Tanto o IWW quanto o PS estavam comprometidos com a emancipação das mulheres da classe trabalhadora e aproximavam a luta de classes com a vitória das mulheres pelo direito ao controle de natalidade, embora discordassem sobre o valor da vitória do sufrágio feminino.

Enquanto a IWW era abertamente antirracista, ela se recusava em se envolver em atividades eleitorais e se opunha terminantemente ao movimento sufragista, que chamavam de       “fadistas ricas pelo sufrágio feminino”[20]. A efusiva organizadora do IWW, Elizabeth Gurley Flynn, declarou claramente: “Para nós, a sociedade move-se entre as ranhuras de classe e não de sexo”[21]. Ao mesmo tempo, organizadores da IWW eram sinceros lutadores da igualdade das mulheres trabalhadoras. A IWW fez questão de encorajar as mulheres a tomar a liderança de greves e outras lutas, o que teve enorme sucesso na greve do setor têxtil de 1912 na cidade de Lawrence. Flynn argumentou: “A IWW tem sido acusada de colocar as mulheres no front. A verdade é que a IWW não as coloca na retaguarda e elas vão para o front[22].

Lucy Parsons, viúva do mártir da Revolta de Haymarket Albert Parsons e uma líder radical por seus próprios direitos, enfatizava o poder das mulheres trabalhadoras em seu discurso à conferencia fundacional da IWW em 1905:

Nós, mulheres deste país, não temos cédulas mesmo se quiséssemos usá-las, e a única maneira de sermos representadas é pegar um homem para nos representar. Vocês, homens, fizeram tanta bagunça nos representando que não temos muita confiança em pedir a vocês, e eu me sinto muito antiquada em pedir aos homens para me representar…

[As mulheres] são os escravos dos escravos. Nós somos exploradas mais impiedosamente do que os homens. Quando os salários precisam ser reduzidos, a classe capitalista usa as mulheres para reduzi-los, e se há algo que vocês, homens, devem fazer no futuro é organizar as mulheres[23].

Ao contrário do boicote efetivo da IWW ao movimento sufragista, o Partido Socialista trabalhou ao lado das sufragistas – mas sem uma política que desafiasse sistematicamente sua adesão ao status quo segregacionista. De fato, o PS esteve divido entre sua a sua ala esquerda e direita na crucial questão da segregação racial. Na esquerda, Eugene Debs, talvez o principal orador do Partido Socialista, opunha-se à segregação racial e se recusava a discursar diante de audiências segregadas. Na direita, Victor Berger argumentava que o socialismo nos EUA e no Canáda só seria possível se eles permanecessem países de “homens brancos”. Berger também advertiu que, se a onda de imigração aos EUA não fosse interrompida, “este país seguramente se tornará um país de negros e amarelos dentro de algumas gerações[24][25].

Enquanto Debs tentava evitar debates internos no PS, Berger e a direita do partido dominavam seus aparatos organizacionais, exercendo, assim, considerável influência sobre a política do PS.

A direita do PS valorizou conquistas de cargos eleitorais, e cada vez mais considerava isso como o caminho para ganhar uma sociedade socialista. Após debates internos, o PS votou para estabelecer uma Comissão Nacional das Mulheres em 1908 – encarregada não apenas de supervisionar o trabalho entre as mulheres, incluindo o sufrágio, mas também de “organizar o ataque à superioridade masculina entre os socialistas”[26]. Como a historiadora Ira Kipnins observou, contudo, “as mulheres socialistas pareciam ter carregado a luta por direitos iguais com pouquíssima ajuda dos membros masculinos do partido”[27].

Muito desse trabalho foi centrado ao redor de educar e ajudar as mulheres da classe trabalhadora terem acesso a controles de natalidade confiáveis, um modo de limitar o tamanho da família e gestações consecutivas sob condições de pobreza difundida. Historiadores despenderam muita atenção no papel pinoeiro do primeiro movimento pelo controle de natalidade da então socialista Margaret Sanger, que depois se converteu a posições eugênicas racistas.

Mas muitas outras mulheres radicais na IWW e no PS receberam muito menos aclamação embora mantivessem um comprometimento em lutar pelo direito das mulheres a controlar suas próprias vidas reprodutivas. Em uma época em que mesmo dispersar informação sobre contracepção era ilegal, essas ativistas encararam ataques politicos e prisões enquanto davam cabo a seus trabalhos entre as mulheres.

Antoinette Konikow, uma revolucionária russa que migrou para os Estados Unidos em 1893, dedicou-se ao projeto, permanecendo central para o movimento socialista revolucionário dos Estados Unidos até sua morte em 1946. Konikow vinculou explicitamente o direito das mulheres a controlar sua fertilidade à luta das mulheres por igualdade. Como ela escreveu em seu paflleto de 1923, Maternidade Voluntária, “As mulheres nunca poderão obter independência real enquanto suas funções de procriação não estiverem sob seu próprio controle”[28]. Konikow nunca se desviou dessa abordagem, prevendo temas que emergiram em movimentos de libertação das mulheres nos anos 1960.

O escritório de Konikow era regularmente revistado e ela deixava seus arquivos médicos codificados para prevenir que policiais perseguissem seus pacientes. Como a feminista socialista Diana Feeley comentou “Embora a larga maioria de seus pacientes fossem mulheres imigrantes pobres, quando a Dra. Konikow foi presa, ela descobriu que a fiança havia sido paga rapidamente por alguma mulher rica, quem, dadas as leis repressivas de Massachesetts, pode ter tido que se dirigir a essa revolucionária em busca de ajuda”[29].

Como médica, Konikow descreveu como o treinamento universitário deixava os médicos ignorantes em relação a métodos de controle de natalidade e, assim, incapazes de ajudar suas mulheres pacientes que buscavam urgentemente controlar sua fertididade. Em resposta, ela escreveu o The Physician’s Manual of Birth Control (Manual do Médico de Controle de Natalidade) em 1931, que incluía não apenas uma discussão detalhada da anatomia feminina, mas também informações sobre o que ela considerava como o mais confiável método de controle de natalidade de sua época – o diafragma e o espermicida[30].

O PS também se dedicou a apoiar trabalhadoras grevistas e a econorajar sua organização sindical dentro do American Federation of Labor (Federação Americana do Trabalho, AFL), embora a federação trabalhista não aceitasse mulheres, negros ou imigrantes em suas colunas. Nesse projeto, mulheres membros do PS colaboraram com sufragistas e outras reformistas de classe média, embora fricções substanciais às vezes existissem entre reformistas e trabalhadoras[31].

A greve das trabalhadoras textêis de Nova York em 1909 e 1910, muitas vezes tida por historiadores do trabalho como a “insurreição dos 20 mil”, envolveu um grande número de força de trabalho imigrante e adolescente feminina que lutavam para ir até o fim, com a maioria – embora não todas – das oficinas ganhando reconhecimento sindical com o Local 25 do International Ladies Garment Workers Union.

Quando a greve começou, as grevistas receberam forte apoio não apenas do PS, mas também das sufragistas e da Women’s Trade Union League (Liga dos Sindicatos das Mulheres, WTUL), de classe média, conheciada como “aliadas” das greves. O PS manteve seu compromentimento com a greve, embora o interesse das alidas de classe média tenha sumido enquanto a greve se arrastava e após os grevistas votarem contra um contrato proposto pelos empregadores. Uma membra irritada do WTUL fez uma proposta para “começar uma campanha contra o socialismo”, porque o “socialismo é uma ameaça… Só faz esses estrangeiros ignorantes descontentes, coloca-os contra o governo, fá-los querer destruir tudo”[32].

Mas a inspiração dos trabalhadores de vestuário foi profunda. Quando o Partido Socialista organizou as marchas do “Dia das Mulheres” em 1910, sua marcha pelas ruas de Nova York foi uma demonstração massiva de solidariedade e consciência de classe entre trabalhadoras, incluindo consideráveis contigentes de trabalhadoras têxteis, levando à frente demandas por melhores salários, melhores condições de trabalho, junto à demanda pelo direito ao voto.

O heroísmo das trabalhadoras têxteis inspirou Clara Zetkin a mover uma resolução para a Segunda Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras de 1910 declarar o Dia Internacional das Mulheres um feriado socialista anual, uma tradição que continua até nossos dias.

Em fevereiro de 1917, trabalhadoras têxteis em Petrogrado organizaram uma manifestação no Dia Internacional das Mulheres sob o tema “Oposição à guerra, altos preços, e a situação da mulher trabalhadora”, que resultou em um movimento grevista massivo que, por sua veuz, destronou o czar. Esse dia tornou-se, efetivamente, o primeiro dia da Revolução Russa.

A Rússia Revolucionária e os desafios em realizar a libertação das mulheres

Os líderes da Revolução Russa de 1917 desde o começo fizeram o combate da opressão à mulher um aspecto central de seu projeto revolucionário. Durante sua curta existência, o governo revolucionário ofereceu um vislumbre do que uma genuína sociedade socialista pode oferecer ao criar as condições materiais para as mulheres serem libertadas – mas também os desafios que devem ser enfrentados para tornar a libertação das mulheres uma realidade em um contexto pós-revolucionário.

A seguir, eu examino brevemente as conquistas e também suas limitações em alcançar genuína igualdade às mulheres – indicando o nível no qual lutas seguintes serão necessárias para erradicar a opressão da mulher após uma revolução socialista.

Para ter certeza, o governo revolucionário promulgou uma legislação estabelecendo igualdade social e política total para as mulheres: o direito ao voto e a ocupar cargos públicos, o direito ao divórcio como uma requisição de qualquer parceiro, o princípio de pagamentos iguais para trabalhos iguais, pagamentos de licença-maternidade durante quantro meses antes e depois do nascimento, e o cuidado das crianças por meio de gastos governamentais. O aborto – visto apenas como uma questão de saúde – tornou-se legal em 1920, e as mulheres ganharam o direito de obter abortos livres em hospitais estatais. Apenas aquelas que praticavam abortos visando ao lucro eram vistos como criminosos.

Além disso, a revolução revogou todas as leis que criminalizavam a homossexualidade junto a outras leis que regulavam a sexualidade[33]. O bolchevique Grigorri Btkais descreveu o impacto da Revolução Russa sobre a sexualidade em 1923:

[A legislação soviética] declarou a absoluta não interferência do Estado e da sociedade em questões sexuais, enquanto ninguém for ferido, e o interesse de ninguém estiver invadido – no que se refere à homossexualidade, sodomia e várias outras formas de gratificação sexual, que são todas tidas na legislação europeia como ofensas contra a moralidade – a legislação soviética trata-as como as tão chamadas relações sexuais “naturais”[34].

Mas igualdade legal, embora crucial, não alcançou libertação na vida cotidiana dentro da família. Como Lênin explicou em 1919:

As leis sozinhas não são suficientes, e nós não estamos de jeito nenhum satisfeitos com meros decretos. Na esfera da legislação, contudo, nós demos tudo que era preciso de nós para colocar as mulheres em uma posição de igualdade e temos todo o direito de nos orgulharmos disso. A posição das mulheres na Rússia Soviética é agora ideal se comparada com sua posição na maioria dos Estados avançados. Nós nos dizemos, contudo, que isso, é claro, é apenas o começo[35].

Lênin comumente refere-se à opressão da mulher dentro da família como “escravidão doméstica”, e ele expressava alarme com o seu presseguimento na Rússia pós-revolucinária. Em uma entrevista com Zetkin em 1920, muitos anos após a revolução, Lênin falou em detalhes sobre os obstáculos que as mulheres continuavam a encontrar em suas vidas domésticas. A seguinte citação de Lênin deixa claro que os marxistas russos não esperavam que a opressão às mulheres desapareceria automaticamente após a revolução, mas reconheciam a necessidade de continuar a luta:

Muito poucos maridos, nem mesmo proletários, pensam em quanto eles poderiam aliviar os fardos e preocupações de suas esposas, ou as aliviar completamente, se eles desse uma mão nesse “trabalho de mulher”. Mas, não, isso iria contra o “privilégio e a dignidade do marido”. Ele quer ter descanso e conforto. A vida doméstica da mulher é um sacrifício diário de si mesma para milhares de ninharias insignificantes. As antigas leis de seu marido, seu senhor ou mestre, sobrevivem despercebidas… Eu conheço a vida dos trabalhadores, não apenas pelos livros. Nosso trabalho comunista entre as massas de mulheres, e nosso trabalho político em geral, envolve considerável educação entre os homens. Nós devemos erradicar o antigo ponto de vista do proprietário de escravos, tanto no Partido como entre as massas. Essa é uma das nossas tarefas políticas, uma tarefa tão urgentemente necessária como a formação de uma equipe, composta de camaradas, homens e mulheres, com formação teórica e prática completa para o trabalho do Partido entre mulheres trabalhadoras[36]

Trotsky argumentava da mesma forma: “Instituir a igualdade política de homens e mulheres no Estado Soviético era um problema e o mais simples… Mas para alcançar a atual igualdade de homens e mulheres dentro da família é um problema infinitamente mais difícil”. Ele concluiu: “Todos nossos hábitos domésticos devem ser revolucionados para isso poder acontecer. E mesmo assim é óbvio que, ao menos que se tenha igualdade do marido e da mulher na família, no sentido normal assim como nas condições de vida, nós não podemos falar seriamente sobre sua igualdade no trabalho social e mesmo na política[37]”.

Os bolcheviques, assim, nunca nutriram a ilusão de que a vitória da revolução socialista é tudo o que é preciso para acabar com a opressão às mulheres. Não se pode esperar que velhos costumes a atitutes mudarão do dia para a noite, eles só podem ser transformados com o tempo, enquanto novas gerações crescerem sem a bagagem ideológica perpetuada pelas opressivas sociedades de classe ao longo dos séculos.

De fato, é mais apropriado perceber o nível no qual os bolcheviques entendiam que a revolução não era o fim, mas o começo da luta para ganhar a libertação das mulheres. Mais importante, eles entenderam a centralidade de libertar as mulheres da labuta da “escravidão doméstica”, embora difícil, como a chave para sua libertação futura em todas as esferas da vida.

O ponto de inflexão revolucionário

A Revolução Russa de 1917 inspirou uma onda de lutas revolucionárias ao longo da Europa. A possibilidade de que a revolução se estenderia às sociedades mais avançadas economicamente, particularmente a Alemanha, deixou o governo revolucionário nos primeiros anos com esperanças vivas. Essa esperança foi apagada com a derrota final da Revolução Alemã em 1923. A Rússia, com sua economia em desordem, foi deixada isolada. O terreno politico foi, então, transformado: a década que se seguiu testemunhou a contrarrevolução stalinista na Rússia e a ascendência do fascismo na Europa.

A Revolução Russa também marcou um ponto de inflexão para a esquerda nos Estados Unidos. O PS havia conseguido sobreviver à guerra intacto porque o partido matinha uma postura antiguerra firme. Mas, em 1919, os revolucionários russos formaram a Terceira Internacional, ou Internacional Comunista, com a afiliação de dezenove partidos e organizações. A Revolução Russa, assim, acelerou o já crescente conflito entre a esquerda e a direita do PS, com os revolucionários do partido apoiando os bolcheviques e a ala reformista opondo-se a eles. Em 1919, o PS perdeu a sua maioria de esquerda, que rompeu com ele para formar o que se tornaria o Patido Comunista (PC) – afiliado à Terceira Internacional. A maioria dos membros da IWW – muitos já tendo sido expulsos ou deixados o PS – seguiu-os em seguida.

A década de 1920, contudo, revelou-se um período difícil àqueles que procuraram defender a tradição marxista. O governo dos EUA conduziu ataques em massa e deportação de imigrantes supeitos de atividade socialista e anarquista. Além disso, enquanto Stalin consolidava seu poder na União Soviética em 1928, o PC expulsou a minoria no partido que apoiava a oposição trotskista ao stalinismo.

O resultado foi a emergência de dois movimentos socialistas distintos – um pró-Stalin e outro pró-Trotsky – que juntos correspondiam às alas políticas da esquerda socialista até a emergência da New Left (Nova Esquerda) na década de 1960.

Nesse sentido, algumas das mais dedicadas e talentosas mulheres líderes do começo do século XX terminaram em organizações diferentes, com visões políticas opostas em algumas questões políticas fundamentais. Konikow, que estava entre os fundadores do movimento trotskista dos EUA, continuou seu trabalho promovendo modos de contracepção seguros e escreveu extensivamente sobre o direito das mulheres ao controle de natalidade no jornal Trotskyist Militant nos anos 1930 e início dos 1940. Gurley Flynn entrou no PC em 1936 e manteve uma coluna regular no Daily Worker.

Nesse sentido, veteranas dos movimentos radicais do começo do século XX cumpriram um papel central ao transmitir seu comprometimento à emancipação das mulheres para uma geração mais jovem de mulheres da esquerda dos Estados Unidos. 

Organização das mulheres na Grande Depressão

No tumultuoso movimento pelo reconhecimento sindical nos anos 1930, o comprometimento à emancipação das mulheres muitas vezes foi posto de lado no curso da luta de classes – sem uma clara reivindicação pela igualdade política das mulheres.

Um dos exemplos mais marcantes do movimento trabalhista é a importante greve de ocupação na cidade de Flint durante o inverno de 1936-7, quando trotskistas (membros naquele momento do Partido Socialista) e comunistas trabalharam juntos numa brilhante coesão que levou sua greve contra a General Motors (GM) à vitória. A membra do PS Genora Johnson (que se tornaria Genora Dollinger), naquele momento a esposa de 23 anos do grevista Kermit Johnson, formou a Brigada de Emergência das Mulheres de Flint.

Embora formada principalmente por esposas de grevistas, a Brigada de Emergência esteve longe de ser um típico auxilio de “senhoras”[38], conscientemente se referindo à sua organização como formada por “mulheres” e não por “senhoras”[39]. As mulheres da Brigada de Emergência usavam um uniforme com boinas e braçadeiras vermelhas, que foram escolhidas, tal como revelado postariomente por Dollinger, em parte porque “era a bandeira vermelha, é uma cor socialista”[40].

A Brigada de Emergência podia ser mobilizada a qualquer momento para defender a greve, carregando pedaços de madeira que se assemelhavam a tacos de basebol. Como o New York Times notou à época, as mulheres da Brigada de Emergência “não se contetaram com a resistência passiva, e usaram tacos do tamanho de tacos de basebol, diminuídos no final para facilitar o balanço e o manuseio”[41]. Em mais de uma ocasião, a Brigada de Emergência encarou a polícia – provocando-os a bater ou atirar em um grupo de mulheres.

Uma das táticas mais inteligentes da Brigada de Emergência era o “carro de som” que era rapidamente enviado quando havia um sinal de problema fora da planta. O segundo carro chegaria direto aos piquetes em luta através de seu alto-falante. Essa tática provou-se indispensável na batalha diversionária dos estrategistas grevistas para desviar a polícia ao fingir a ocupação da planta 9 da Chevy (ao na verdade tomarem a planta 4) em 1º de fevereiro. Essa estratégia, embora absolutamente bem-sucedida, colocou, contudo, vidas de grevistas em jogo enquanto lutavam com a polícia na planta 9. Como a pesquisadora Janice Hassett descreveu: “A polícia da GM trocou tiros com os grevistas, e usou tacos e gás lacrimogeno para movê-los ao fundo da planta. A Brigada de Emergência, ‘sempre pronta para emergências’, estava na mão e usou seus próprios tacos para quebrar as janelas e permitir a entrada de ar dentro da planta”[42].

O PC, devido ao seu tamanho maior e sua atenção consistente de combate ao racismo nos anos 1930, fez incursões para construir uma organização multirracial naquela era. Mulheres do Black Communist começaram a organizar sistematicamente mulheres negras da classe trabalhadora durante os anos 30. Mulheres do Harlem Communist, como o historiador Erik S. McDuffie descreve em Soujorning for Freedom (Peregrinando por Liberdade), organizaram-se contra o aumento dos preços da alimentação em mercearias cujos proprietários eram brancos, incluindo a seguinte manifestação em 1935:

         Em 3 de junho de 1935, “esquadrões voadores” de mulheres e crianças negras marcharam desafiadoramente ao longo da 125ª Rua no Harlem entre a Sétima e a Oitava avenida, a principal via comercial da vizinhança. Ao coro de “Os preços da carne precisam abaixar”, reivindicavam uma redução de 25 por cento do preço da carne.

         Os manifestantes mantiveram reuniões de bairro espontâneas a respeito dos altos preços de alimentação e outros problemas que pressionavam a comunidade como o alto desemprego, as más condições de moradia e os serviços sociais inadequados. Eles significavam negócios. Grupos de mulheres arremessaram objetos em direção às mercearias de propriedade dos brancos, confrontando comerciantes brancos assustados sobre por que eles vendiam comidas de baixa qualidade a preços altos para sua clientela negra[43].

McDuffie concluiu: “A manifestação foi bem-sucedida. Ao final daquela noite quase cinquenta lojas concordaram em reduzir imediatamente os preços em 25 por cento”[44]. O Harlem Action Committee Against the High Cost of Living (Comitê de Ação do Harlem Contra o Alto Custo de Vida), liderado por Bonita Williams, de origem indígena, organizou esse protesto imediatamente bem-suceddido. Williams e Audley Moore eram duas das líderes de base do PC no Harlem que organizavam simultanemante lutas contra o desemprego e despejos, greves contra o aluguel, e organização sindical durante esse período turbulento.  

Williams e Moore, como muitos outros ativistas radicais do Harlem, tiveram sua primeira entrada na política como parte do movimento de Marcus Havery nos anos 1920, atraídos por sua mensagem de nacionalismo e orgulho racial. Ambas entraram no PC através de seu envolvimento com a campanha liderada pelo PC pela liberdade dos “Meninos de Scottsboro”, nove adolescentes negros que foram falsamente acusados de estuprar duas mulheres brancas em um trem em 1931. Após Williams fazer parte de uma forte marcha multirracial de milhares de pessoas no Harlem, ela lembra-se de ter pensado: “Se eles têm um movimento como esse, e se eles são conscientes dessa coisa que [Marcus] Garvey tem falado a respeito, então isso pode ser uma boa coisa para eu participar para libertar o meu povo”[45].

Como os exemplos acima mostram, mulheres socialistas e comunistas lideraram lutas importantes envolvendo mulheres nos anos 1930 sem tentar forjar um movimento pelo direito das mulheres. No caso de Williams e Moore, suas lutas eram mais explicitamente ligadas à libertação negra do que à libertação das mulheres. Em uma entrevista posterior com Hasset, Dollinger argumentou que uma luta pela “libertação das mulheres” teria sido “historicamente imatura” no movimento da classe trabalhadora de 1937.

Mas, como Hasset conclui após a Brigada de Emergência das Mulheres de Flint,

Apesar do fato dos esforços das mulheres não terem sido expressados em um “movimento de mulheres”, questões de gênero eram uma questão proeminente da greve de 1937. Genora Johnson enfatizava que “era uma mudança radical… Dar às mulheres o direito de participar em discussões com seus maridos, com outros membros do sindicato, com outras mulheres, de expressar suas visões… isso foi uma mudança radical para aquelas mulheres daquele tempo…”.

Não foi uma ação feminista e não foi um movimento de mulheres – foi um fenômeno dominantemente classista e trabalhista –, mas os eventos de 1936 e 1937 mostraram à nação e às próprias mulheres que elas não eram apenas o que elas haviam sido ensinadas para ser, que elas eram capazes de comportamentos organizados, orquestrados, e por vezes heróicos. Há razões para acreditar que nenhuma delas foi novamente “apenas uma mulher”[46].

Os anos 1940 e 1950

Um interesse renovado sobre as políticas de opressão às mulheres deu-se entre mulheres dentro da esquerda organizada logo após a Segunda Guerra Mundial. A época da guerra havia visto a indução em massa de mulheres em trabalhos industriais bem pagos, sob o pretexto de maximizar o esforço de guerra, para serem expulsas no final da guerra para dar espaço aos veteranos que retornavam. Muitas mulheres brancas retornaram à tarefa de dona de casa combinando ou não um trabalho parcial, enquanto que mulheres negras eram novamente direcionadas às mesmas ocupações domésticas em tempo integral e de baixa remuneração que elas ocupavam antes da guerra.

A Segunda Guerra Mundial também expôs a hipocrisia racista em lutar para estender as “liberdades democráticas” dos Estados Unidos[47] que, em sua própria casa, excluíam os afroamericanos do processo democrático.

Mulheres dentro e ao redor dos movimentos comunista e trotskista começaram a reexaminar teorias de opressão às mulheres, com algumas delas incorporando os efeitos não apenas da desigualdade de classe, mas também do racismo. Fazendo isso, elas começaram a desenvolver um trabalho de base político que ajudou a pavimentar o caminho da futura luta pela libertade das mulheres.

A líder do Partido Comunista Claudia Jones talvez tenha escrito a mais proeminente exposição das opressões interseccionais sofridas pelas mulheres negras antes da década de 1960. O artigo de Jones, “Um fim à negligência em relação aos problemas da mulher negra!”, publicado em 1949 na Political Affairs, primeiro afirma claramente: “Mulheres negras – enquanto trabalhadoras, enquanto pretas[48], e como mulheres – formam o estrato mais oprimido de toda a população”[49].

Jones continua:  “É incumbência dos sindicalistas progressistas perceber que, na luta por direitos iguais para os trabalhadores negros, é preciso ter uma abordagem especial às trabalhadoras negras, quem, em proporções muito maiores às outras trabalhadoras, são as principais provedoras de suas famílias”[50].

Jones explicitamente desafiava “homens brancos progressistas” a reconhecer

que essa luta por igualdade das mulheres negras é de seu próprio interesse, na medida em que a superexploração e opressão às mulheres negras tende a deprimir os padrões de todas as mulheres… Desafiar persistentemente toda observação chauvinista em relação à mulher negra é vitalmente necessário, se quisermos romper a compreensível desconfiança de parte das mulheres negras que são rejeitadas pelo chauvinismo branco que elas muitas vezes vêm expressado em círculos progressitas[51].

No mesmo ensaio pioneiro, Jones enfatiza a agressão sexual como uma das questões centrais enfrentadas pelas mulheres negras:

Mas nada dramatiza tanto o status oprimido das mulheres negras do que o caso de Rosa Lee Ingram, mãe viúva de catorze crianças – duas delas mortas –, que enfrenta prisão perpétua na penitenciária da Georgia pelo “crime” de se defender dos avanços indecentes de um “supremaciosta branco”… Isso expõe o álibi hipócrita de linchadores de mulheres negras que estiveram historicamente escondidos por trás das saias de mulheres brancas quando tentavam abafar crimes sujos com o “cavalheirismo” de “proteger as mulheres brancas”[52].

Jones conclui que a devida atenção ao sofrimento das mulheres negras iria permitir que sua “participação ativa” em cumprir sua “missão histórica” de toda a “classe trabalhadora estadunidense”: “a conquista dos Estados Unidos Socialistas[53] – a última e completa garantia da emancipação das mulheres”[54].

Jones não foi capaz de prosseguir seu trabalho dentro do PC devido à implacável perseguição política do governo dos Estados Unidos. Jones, nascida em Trinidad, foi pela primeira vez aprisionada em 1948 por suas atividades políticas, e presa outras três vezes nos anos seguintes. Ela foi considerada culpada sob os termos do Internal Security Act de 1950, que bania “estrangeiros” de serem membros do Partido Comunista. Ela também foi considerada culpada, junto com Gurley Flynn, por “atividades não estadunidenses” sob o Smith Act em 1951.

Em 1955, o governo dos Estados Unidos deportou-a, mas o governo de Trinidad e Tobago recusou-se a aceitá-la. O governo britânico concordou com aceitá-la no terreno “humanitário” e ela viveu lá até morrer de infarto aos 49 anos. Embora Jones tenha prosseguido com seu estreito envolvimento com o movimento antirracista na Grã-Bretanha até seu falecimento precoce, ela não retornou ao trabalho teórico sobre a opressão às mulheres negras que ela havia iniciado no PC.

Contudo, outras mulheres negras comunistas continuaram a luta ao longo desse período, fazendo campanha para Rosa Lee Ingram e contra os estupros sistemáticos de mulheres negras – às vezes, sobrepondo-se e apoiando ativistas dos direitos civis como Rosa Parks.

Além disso, o PC começou a organizar comissões locais de mulheres para ajudar a encorajar a participação ativa de mulheres dentro do partido. Isso incluía em alguns lugares aulas de educação para mulheres para ajudá-las a se preparerem a ocupar posições de liderança. Essas aulas promoviam cuidados infantis e transporte para facilitar a participação das mulheres da classe trabalhadora. Em janeiro de 1947, por exemplo, o PC de Bronxville organizou um jantar especial de mulheres – no qual as participantes mulheres aproveitaram uma palestra sobre “o papel da mulher hoje” e discutiram os problemas que elas enfrentavam, enquanto os homens “cozinharam e serviram comida, cuidaram das crianças, e lavaram a louça”[55].

Durante o pós-guerra, mulheres trotskistas também se engajaram em revisitar a questão da opressão às mulheres.

Em 1952, a então trotskista Selma James foi coautora do panfleto, A Woman’s Place for the Trotskyist Johnson–Forest Tendency (Um Lugar para a Mulher para a Tendência Trotskita Johnson-Fores)[56], que se voltava sobre o peso das responsabilidades familiares carregadas pelas mulheres da classe operária naquela época. James e sua coautora usaram pseudôminos para se proteger e não perderem seus empregos em razão da histeria anticomunista, embora James nunca tenha perdido os seus.

O panfleto incluía a seguinte passagem, prenunciando as observações de Betty Friedan em A Mística Feminina, mas com uma esposa da classe trabalhadora, e não da classe média, em mente:

Mesmo se uma mulher trabalha, assume-se desde o começo que a principal responsabilidade da casa é da mulher e o principal trabalho de apoio é do homem. O marido deve sair e dar sustento a você e à criança. Você precisa ter certeza de que a casa está limpa, as crianças foram cuidadas, as refeições preparadas, a roupa lavada, etc. Isso parece ser um modo justo de fazer as coisas. Mas logo você perceberá que o trabalho de ficar em casa e de cuidar dela não é igual àquele pintado nos filmes. O trabalho doméstico é um trabalho sem fim, monótono e repetitivo. Depois de um tempo fazendo coisas dentro de casa, como passar roupa ou acordar cedo para fazer o almoço ou o café da manhã, [você percebe que] não é algo que você queira fazer. É algo que você tem que fazer[57].

Em 1954, James manteve uma coluna quinzenal chamada “Um lugar para a mulher”, no Correspondence, o jonral da Tendência Johnon-Forest. Em uma coluna, “Miss Universo”, James descreveu sua experiência observando o concurso da beleza, expressando muito do sentimento das mulheres liberacionistas que iriam se reunir diante do concurso de Miss Amerca em 1968. James percebeu, por exemplo, que “O concurso deveria ser não apenas de beleza, o mestre de cerimônia seguia dizendo. Era também de atitude e estatura… Mas a vestimenta mais importante era o maiô de Catalina exatamente no mesmo estilo para cada uma das moças”[58].

James também observou que embora o concurso fosse global, todas as mulheres que desfilaram antes dos espectadores do cinema e da televisão compartilhavam as características de mulheres brancas estadunidenses: “enquanto eu assistia às finais, me pareceu que, embora as mulheres fossem de tipos diferentes, todas elas pareciam as mesmas… É claro, havia um ‘tipo’ que não estava representado. Não havia nenhuma mulher negra no concurso de beleza”[59].

Também em 1954, Evelyn Reed do Socialist Workers Party (dos Estados Unidos), que frequentemente abordava a opressão às mulheres nas páginas da Quarta Internacional, argumentou que as responsabilidades das mulheres como mães são utilizadas para fazê-las inferiores aos homens em todos os aspectos da vida:

É estabelecido como um… axioma imutável que as mulheres são socialmente inferiores porque elas são naturalmente inferiores aos homens. E qual é a prova? Elas são as mães! A natureza, é dito, condenou o sexo feminino a um status inferior… Não é a natureza, mas a sociedade de classe, que roubou das mulheres o direito de participar em funções mais altas da sociedade e colocou a ênfase primária em suas funções animais de maternidade. E esse roubo foi perpetuado através de um duplo mito. De um lado, a maternidade é representada como um sofrimento biológico que surge dos órgãos maternais da mulher. Ao lado desse materialismo vulgar, a maternidade é representada como sendo algo quase mítico. Para consolar as mulheres de seu status enquanto cidadãs de segunda classe, as mães são santificadas, dotadas de auréolas e abençoadas com “instintos especiais”, sentimentos e conhecimentos sempre além da compreensão dos homens. A santidade e a degradação são simplesmente dois lados da mesma moeda do roubo social das mulheres sob a sociedade de classes[60].

Como a historiadora Kate Weigand argumentou, “embora o movimento das mulheres de 1960 e 1970 se diferenciava em muitos aspectos do que veio antes disso, o movimento não emergiu como uma entidade completamente desenvolvida em meados dos anos 1960. Ao contrário, as feministas da segunda onda construíram sobre o trabalho de vários grupos que as precederam, incluindo o trabalho de mulheres que inspiraram e foram inspiradas pelos esforos da velha esquerda em levar as questões das mulheres seriamente após 1945″[61].

Em 1983, a feminista e estudiosa negra Barbara Smiht reconheceu em particular a influência da dramaturga Lorraine Hansberry por sua defesa primordial da sexualidade lésbica. Hasberry, mais conhecida por ter escrito o aclamando Uma Passa no Sol com apenas vinte e sete anos também, era uma ativista de esquerda e uma pensadora feminista negra. Em 1957, no mesmo ano em que ela completou Uma Passa no Sol, Hansberry se jountou ao Daughters of Bilitis, primeira organização lésbica dos Estados Unidos. Ela contribuiu com uma série de cartas para a sua publicação, The Ladder, assinando-as apenas com as iniciais “L. H.” para proteger a sua privacidade.

Na introdução ao seu livro, Home Girls: A Black Feminist Anthology (Mulheres de Casa: Uma Antologia Feminista Negra)[62], Smith cita uma das cartas de Hansberry:

Já é hora em que “metade da raça humana” tenha algo a dizer sobre a natureza de sua existência. De outra forma – sem um pensamento básico revisto – a mulher intelectual provavelmente se encontrará tentando desenhar conclusões – conclusões morais – baseadas na aceitação de uma superestrutura social moral que nunca admitiu a igualdade das mulheres e é, portanto, imoral em si mesma. Seja no casamento, seja nas práticas sexuais, seja na criação das crianças, etc. Nesse tipo de trabalho, há muitas mulheres para aparecer, que serão capazes de formular um novo e possível conceito que a perseguição e a condenação homossexual têm como raiz não apenas a ignorância social, mas um dogma antifeminista filosoficamente ativo[63].

Smith comentou: “Eu gostaria que muito mais pessoas estivessem antentas que Lorraine Hansberry, uma das nossas mais respeitadas artistas e pensadoras, estava levantando num contexto lésbico algumas das mesmas questões que estamos levantando hoje, e pelas quais nós temos sido tão difamadas”[64].

Algumas mulheres da Old Left dos anos 1950 tornaram-se participantes e teóricas dos movimentos de libertação das mulheres nos anos 1960 e 1970. Gerda Lerner, por exemplo, que era ativa no PC nos anos 1940 e 1950, emergiu como uma eloquente estudiosa dos estudos das mulheres, que também defendeu as lutas das mulheres negras contra a desigualdade racial. Selma James, após deixar o movimento trotskista, foi cumprir um papel central na teorização do trabalho feminino doméstico e na fundação da campanha de salários pelo trabalho doméstico.

Em 1970, Evely Reed usou A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado de Engels para um contorno de seu argumento, postulando que, após o surgimento do capitalismo,

Foi então dado às mulheres duas alternativas sinistras. Elas poderiam ou procurar um marido como provedor e então serem encurraladas depois como esposas em cortiços urbanos ou apartamentos para criar a próxima geração de escravos salariais. Ou as mais pobres e infortunadas poderiam ser levadas ao trabalho marginal nas usinas e fábricas (junto com suas crianças) e suarem como a mais oprimida e subpaga seção da força de trabalho[65].

Como muitas socialistas feministas, Reed distinguia os papéis reprodutivos da classe dominante dos das famílias da classe trabalhadora para os donos dos meios de produção: as famílias da classe dominante reproduzem riqueza geracional através da herança, enquanto que famílias da classe trabalhadora servem para reproduzir força de trabalho.

No mesmo artigo, Reed também desafiava aqueles de outras tendências políticas “que dizem ser marxistas, mas recusam a reconhecer que as mulheres precisam liderar e organizar sua própria luta independente por emancipação, do mesmo modo que não conseguem entender por que os negros devem fazer a mesma coisa”. Aqui, ela refere-se, em primeiro lugar, aos socialistas, que acreditam erroneamente que as organizações independentes dos oprimidos põem uma ameaça à unidade da classe operária, que requer em última análise “a ofensiva combinada anticapitalista de toda a classe trabalhadora” para ganhar uma sociedade socialista.

Ela também nota que as lutas precisam continuar depois da revolução para atingir completamente a libertação das mulheres. Como ela argumenta:

A razão é que nenhum segumento da sociedade que tem sido sujeito à opressão, seja no que se refere aos povos do Terceiro Mundo ou às mulheres, pode delegar a liderança e a promoção de sua luta por liberdade para outras forças – mesmo se outras forças puderem agir como seus aliados… A máxima dos revolucionários irlandeses – “aqueles que serão livres precisam estourar a bolha” – aplica-se totalmente à causa da libertação das mulheres. As mulheres precisam elas mesmas estourar as bolhas para obter sua liberdade. E isso segue sendo verdadeiro seja após o triunfo da revolução anticapitalista seja antes dela[66].

Assim, muitas marxistas chegaram a um ponto de partida teórico mais ou menos semelhante ao de muitas feministas socialistas entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970 – e compartilharam o mesmo objetivo: usar a teoria marxista para melhor entender o trabalho não pago dentro da família e sua conexão com a opressão às mulheres como um todo na sociedade capitalista.


[1] Citado em Barbara Evans Clements, Bolshevik Feminist: The Life of Aleksandra Kollontai (Bloomington: University of Indiana Press, 1979), 155.

[2] Ver Sharon Smith, “Theorizing women’s oppression – Part 1: Domestic labor and women’s oppression”, International Socialist Review 88, March 2013.

[3] Karl Marx and Frederick Engels, Manifesto of the Communist Party, chapter 1, 1848.

[4] Hal Draper, “The Principle of Self-Emancipation in Marx and Engels”, Socialist Register 1971, 81–109.

[5] Leon Trotsky, “Against Bureaucracy, Progressive And Unprogressive”, Problems of Life (Methuen 1924)

[6] Richard Stites, The Women’s Liberation Movement in Russia: Feminism, Nihilism and Bolshevism 1860–1930 (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1978), 282.

[7] Hal Draper and Anne G. Lipow, “Marxist Women versus Bourgeois Feminism”, Socialist Register 1976, 179-226.

[8] August Bebel 1879/1910, Woman and Socialism, chapter XV.

[9] Draper e Lipow, op cit.

[10] Clara Zetkin, “Social-Democracy & Woman Suffrage”, 1906.

[11] Alix Holt, Selected Writings of Alexandra Kollontai (Westport: Lawrence Hill & Co., 1977), 59.

[12] Ibid. 126.

[13] Clara Zetkin, “Only in Conjunction With the Proletarian Woman Will Socialism Be Victorious”, Discurso no Congresso do Partido do Partido Social Democrata da Alemanha, Gotha, October 16th, 1896, Berlin, in Philip Foner, ed., Clara Zetkin: Selected Writings, International Publishers, 1984.

[14] Ibid.

[15] Ibid.

[16] Ibid.

[17] O termo negroes, presente na versão original em inglês, detém uma forte conotação pejorativa. Ao português, ele também é amiúde traduzido como crioulo. [N. do T.].

[18] Crista DeLuzio, ed., Women’s Rights: People and Perspectives (ABC-CLIO/Greenwood, 2009), 105.

[19] Ibid. 106.

[20] Ann Schofield, “Rebel Girls And Union Maids: The Woman Question in the Journals of the AFL and IWW, 1905–1920, Feminist Studies 9, no. 2 (Summer 1983), 338.

[21] Ibid.

[22] Meredith Tax, The Rising of the Women: Feminist Solidarity and Class Conflict, 1880-1917 (University of Illinois Press, 1980), 256.

[23] Robin Blackburn, ed., An Unfinished Revolution: Karl Marx and Abraham Lincoln (London: Verso Books, 2011), 251–52.

[24] A black-and-yellow country, na versão original [N. do T.].

[25] Ira Kipnis, The American Socialist Movement 1897–1912, Haymarket Books, 2005, 278–79.

[26] Ibid. 268.

[27] Ibid. 265.

[28] Diane Feeley, “Antoinette Konikow: Marxist and Feminist”, in Paul LeBlanc, ed., Revolutionary Traditions of American Trotskyism (New York, NY, 1988), 5. Reprinted from International Socialist Review 33 (January 1972), 19–23.

[29] Ibid.

[30] Ibid, 6.

[31] Ver Tax, op cit.

[32] Tax, 232.

[33] Stites; citado em Noel Halifax, Out, Proud and Fighting (London: Socialist Workers Party, 1988), 17.

[34] Citações em J. Lauritson and D. Norsad, The Early Homosexual Rights Movement 1864–1935 (New York, 1974); cited in Noel Halifax, Out, Proud and Fighting (London, 1988), 17.

[35] V. I. Lenin, Speech at the Working Women’s Congress, Moscow, 1919, Lenin’s Collected Works, 4th English Edition, (Moscow: Progress Publishers, 1965), Volume 30, 40–46.

[36] Clara Zetkin, “Lenin on the Women’s Question” (An Interview with Lenin on the Woman Question in 1920).

[37] Leon Trotsky, “From the Old Family to the New”, Pravda (July 1923).

[38] Ladies no original [N. do T.]

[39] Janice Hassett, “Never Again Just A Woman: Women of the Auxiliary and Emergency Brigade in the General Motors Sit-Down Strike of 1937”, from the American Socialist Collection of Sol Dollinger, March 11, 1994.

[40] Ibid.

[41] Ibid.

[42] Ibid.

[43] Erik S. McDuffie, Sojourning for Freedom: Black Women, American Communism, and the Making of Black Left Feminism (Duke University Press, 2011), 1.

[44] Ibid. 1.

[45] Ibid. 79.

[46] Janice Hassett, op cit.

[47] America’s “democratic freedoms”, no original. Como neste caso, nas recorrências subsequentes, o substantivo America e o adjetivo american serão traduzidos por Estados Unidos e estadunidense, respectivamente [N. do T.].

[48] As Negroes, no original [N. do T.].

[49] Beverly Guy-Sheftall (ed.), Words of Fire: An Anthology of African-American Feminist Thought (NY: The New Press, 1995), 109.

[50] Ibid. 115.

[51] Ibid. 117.

[52] Ibid. 119–120.

[53] Socialist America no original [N. do T.].

[54] Ibid. 120.

[55] Kate Weigand, Red Feminism (Johns Hopkins University Press, 2001), 74.

[56] A Tendência Johnson-Fores era uma organização fundada pelos marxistas C. L. R. James e Raya Dunayevskaya, sob os pseudônimos de J. R. Johson e Freddie Fores. Eles foram logos aderidos por Grace Lee Boggs, sob o pseudônimo de Ria Stone. A sua tendência argumentava que a União Soviética era uma sociedade capitalista de Estado, ao invés de um Estado burocrático coletivista (como argumentado pelo Workers Party) ou um Estado operário degenerado (como argumentado pelo Socialist Workers Party dos EUA). Entre 1940 e 1950, a Tendência Johnson-Forest foi, primeiro, parte do Workers Party e então do Socialist Workers Party, do qual romperam no fim para formar a sua própria organização, a Correspondence.

[57] Selma James, Sex, Race and Class—The Perspective of Winning: A Selection of Writings, 1952–2011 (Oakland: PM Press, 2012), 16–17.

[58] Ibid. 35.

[59] Ibid.

[60] Evelyn Reed 1954, “The Myth of Women’s Inferiority”, Fourth International (Vol.15 No. 2, Spring 1954).

[61] Weigand, op cit, 7.

[62] Barbara Smith, ed., Home Girls: A Black Feminist Anthology (New York: Kitchen Table: Women of Color Press, 1983), xxxii.

[63] Citado em Barbara Smith, ed., Home Girls: A Black Feminist Anthology (New York: Kitchen Table: Women of Color Press, 1983).

[64] Ibid.

[65] Evelyn Reed, “Women: Caste, Class or Oppressed Sex”, International Socialist Review, September 1970, vol. 31, no. 3, 15–17 and 40–41.

[66] Ibid.


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