Coalizão conservadora deve governar Madrid e Ada é derrotada em Barcelona

Embora vitoriosa nas urnas, a atual alcaldesa madrilenha e candidata de Más Madrid, Manuela Carmena, não deve seguir no cargo. Na capital catalã, Ada Colau perde por pequena diferença de votos.

Isaque Castella 30 maio 2019, 11:44

Em um fim de semana cheio, no qual ocorreram simultaneamente eleições municipais, autonômicas e europeias no Estado Espanhol, o tradicional PSOE confirmou a hegemonia consolidada nas eleições gerais de 28 de abril. O partido de Pedro Sánchez levou quase todas as comunidades autônomas, retomou o comando de vários municípios e foi o que mais conquistou cadeiras no parlamento europeu. A ameaça ultraconservadora materializada pelo crescimento da extrema-direita em torno do Vox – que acabou, contudo, se saindo pior em relação aos cenários projetados pelas pesquisas –  pode ser elencada enquanto um dos fatores que deu novo fôlego aos “socialistas”.

Já para os progressistas mais radicais, na acepção democrática do termo, o momento definitivamente não é bom. Em que pese a direita não ter avançado, o 26M parece não ter trazido os resultados esperados para duas representantes do que muitos têm chamado “nova esquerda” espanhola. Eleitas com discursos fortemente conectados ao movimento de “Los Indignados” e provenientes do ativismo social, Ada Colau e Manuela Carmena, presidentas das câmaras, respectivamente, de Barcelona e Madrid, as duas únicas cidades com mais de milhão de habitantes, estão prestes a deixarem os cargos sem êxito na formação de maioria para governar, caso as tendências se confirmem e alianças aprioristicamente improváveis não sejam articuladas aos 45 do segundo tempo. Por trás dos números eleitorais, um processo mais complexo e significativo merece ser observado com atenção. Trata-se da crise sem fim que bateu à porta do grande protagonista da política espanhola nos últimos anos, ao emergir enquanto força real e ameaçar a hegemonia dos partidos do regime, a saber, a formação política “Podemos”.

Alinhado a um projeto de democracia radical e plural, e aliado aos novíssimos movimentos sociais, à quarta onda do feminismo global e às demandas de maiorias sociais com pouca voz, Podemos, um fenômeno progressista, tem vivido intensos conflitos internos e enfrentando pesadas críticas por parte de antes apoiadores, os quais percebem o partido perdido politicamente diante de um cenário político fragmentado. É fato que o “renascimento” conjuntural do PSOE conseguiu captar parcela significativa do eleitorado mais à esquerda, o que, todavia, também, e não somente, se deve à própria perda de capacidade de Podemos de se apresentar enquanto alternativa antissistêmica concreta para além de suas disputas infindáveis.

Um grande sintoma da crise foi a debandada de um de seus principais líderes, Íñigo Errejón, que formou o movimento Más Madrid ao lado de Manuela Carmena, ex-juíza, eleita em 2015 por uma ampla plataforma chamada Ahora Madrid, sendo Podemos parte da composição à época. Faltando apenas quatro meses para as eleições, o que aconteceu foi que Íñigo deixou a cabeça da lista de sua formação original para integrar a lista regional de Más Madrid. Na corrida pela reeleição, a alcaldesa, preferindo membros do partido com quem divide o trabalho às indicações de Podemos e também de Izquierda Unida, desagradou os antigos aliados, dentre eles Pablo Iglesias, que acabou, ao final, nem lançando candidatura própria no município.

No último domingo, Manuela teve boa votação, ficando em primeiro lugar nas urnas, resultado do reconhecimento de sua boa administração, o que não significa, democraticamente falando, que esta esteja imune às críticas, que de fato existem por parte de seus apoiadores mais à esquerda, os quais consideram que a alcaldesa poderia ter adotado uma política social mais “agressiva” em seu governo. Embora sua popularidade continue alta, Carmena, juntamente ao PSOE, não consegue formar maioria para se manter nas funções. Tudo indica que o PP (Partido Popular), retomando Madrid, governará com os liberais de Ciudadanos e os ultradireitistas de Vox.

Já na Catalunha, embora o contexto se apresente de forma completamente distinta, um traço se repete: a perda de força de Podemos, que, em 2015, compondo a formação Barcelona en Comú, elegeu Ada Colau para comandar o munícipio. Liderança de lutas nas ruas, ao lado daqueles que sofrem despejos, no movimento de Afetados pela Hipoteca, ela se tornou uma referência para a esquerda em pouco tempo, sobretudo por sua perspectiva internacionalista, mesmo em uma região na qual a luta por independência (em grande medida nacionalista) é o principal motor da política. Ada chegou, recentemente, a ser uma das principais porta-vozes na luta internacional por justiça para a vereadora carioca Marielle Franco e a mandar um recado para Bolsonaro, dizendo, na oportunidade, que Marielle o tiraria do poder.

Criticada por alguns por um suposto excesso de personalismo, Colau carrega consigo, desde o ativismo, quando chegou a ocupar estabelecimentos como bancos, uma credibilidade incontestável. Foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de Barcelona, um símbolo do municipalismo cidadão, da defesa dos imigrantes e da abertura ao diálogo como postura preponderante ao radicalismo nacionalista.

Dessa vez, não deu para Ada. Apesar de a plataforma Barcelona en Comú ter conquistado o mesmo número de cadeiras do que a esquerda tradicional da Catalunha, esta teve menos de 4 mil votos de vantagem e deve estar à frente do novo governo, que, contudo, possivelmente será de aliança entre as esquerdas. A situação da capital catalã está longe de ser tão preocupante quanto à madrilenha, o que não nos possibilita deixar de lamentar, a princípio, a perda de uma grande alcaldesa.


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