O “levante dos livros” contra Bolsonaro começa em 15 de maio
A resposta aos ataques de Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub à educação iniciou-se.
Na semana passada, em todo o Brasil, a organização da resposta aos ataques de Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub à educação iniciou-se: professores, servidores e estudantes de escolas e universidades reuniram-se nas primeiras assembleias e manifestações para debater a luta contra os cortes orçamentários e o desmonte das universidades públicas e do sistema de pós-graduação. O objetivo é construir um forte dia de paralisação e luta na próxima quarta-feira 15 de maio.
Dias antes, sob a justificativa de enfrentar a suposta “balbúrdia” nas universidades, Weintraub anunciara o projeto da extrema-direita para a educação brasileira: asfixia financeira, com cortes generalizados para as instituições federais de ensino, CAPES e CNPq, atingindo o ensino superior na sua totalidade, e desmoralização da atividade intelectual, de professores e estudantes – os vetores da difusão do chamado “marxismo cultural”, a grotesca caricatura do clã Bolsonaro para a academia. Trata-se de uma “guerra total” em toda linha, iniciada com um primeiro passo para a liquidação e privatização da pesquisa e da ciência nacionais. Os cortes atingem, também, todos os Institutos Federais, uma importante conquista que mudou a cara da educação técnica, levada às cidades mais pobres do país, às grandes regiões metropolitanas e a polos mais distantes. Por sua vez, na pós-graduação e pesquisa, o corte chega, em valores brutos, a 41,9% do orçamento.
Bolsonaro é despreparado e empírico, mas usa na política conceitos de sua trajetória militar. A estratégia que está desenvolvendo para combater o “marxismo cultural” é a de terra arrasada. A ideia, tomada das antigas guerras napoleônicas, combinando a ciência militar e a agricultura, é destruir qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo enquanto este avança ou recua em determinada área. A principal tática desta estratégia é o corte do fluxo de suprimentos. Eis a linha que o governo pretende impor com os cortes de Weintraub.
A situação do governo é instável. O mau desempenho da economia acende todos os alarmes da burguesia enquanto os operadores de Bolsonaro batem cabeça no Parlamento. A classe dominante segue unida pela aprovação da reforma da previdência num momento em que o movimento de massas está bastante aquém de uma resposta à altura. Ao mesmo tempo, os elementos de mal-estar social continuam acumulando-se: o desemprego não cede, a inflação de alimentos corrói os salários dos mais pobres e segue no horizonte o problema adiado, mas não resolvido, dos preços do diesel e das ameaças de nova greve de caminhoneiros.
A novidade, a partir da resposta inicial das universidades e escolas, é a possibilidade de se inaugurar uma luta de massas contra os ataques do governo. A manifestação dos estudantes do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e a grande passeata em Salvador confirmaram o ânimo de luta dos estudantes. O ato da UFF, com cerca de 10 mil estudantes no último dia 8 em Niterói, foi o mais expressivo. Também houve diversas assembleias importantes, como na UnB, que reuniu mais de mil estudantes. As universidades estaduais paulistas também entraram em movimento, com assembleias fortes na USP, na capital e no interior, e na Unicamp. Os professores das enormes redes de educação estadual paulista e do município de São Paulo também participarão da paralisação do dia 15, o que permite antever uma marcha com milhares de pessoas na Avenida Paulista na próxima quarta-feira.
Fica claro que, a partir do dia 15 de maio, começará a entrada combinada das diferentes esferas da educação na luta contra os ataques do governo, o que pode nacionalizar o movimento para além das universidades.
Contra a “guerra total” de Bolsonaro e Weintraub, ampliar a defesa da educação e ganhar maioria social
O desafio da luta contra os cortes é dar coesão e amplitude para uma luta que pode alcançar maioria social e comover a sociedade. Há espaço para isto: circulou um estudo de Fábio Malini mostrando que apenas 8% das manifestações no Twitter a respeito do tema apoiavam o governo. É preciso também dialogar com as condições específicas e dificuldades dos estudantes, que têm sofrido com o mal-estar social e a insegurança sobre o futuro. Com os ataques diários do governo, notam-se os danos à saúde emocional e psicológica da juventude, o que se transforma numa dificuldade adicional para a mobilização.
Sabe-se que o governo vai entrar com força para impor uma duríssima derrota para o movimento educativo que começa a levantar-se. Já se percebe nas redes sociais a presença crescente das usinas de robôs e fakenews para desinformar o povo e coesionar a base social do bolsonarismo, tentando levar o debate sobre os cortes para o terreno dos costumes, atacando as universidades como “antros de balbúrdia”. Mas ataques absurdos como estes afrontam a autonomia universitária e vários agentes acadêmicos, como os reitores e o quadro administrativo das instituições de ensino federais. Por sinal, vários dirigentes universitários têm-se manifestado em repúdio aos cortes e às calúnias de Bolsonaro e Weintraub contra as universidades.
A luta em várias frentes pode levar o governo a recrudescer a repressão. Não à toa, Bolsonaro deu enigmáticas declarações sobre o governo “estar preparado para um possível tsunami”. Por isso, é preciso defender a liberdade de organização e os ativistas. Para isso, o mais importante é massificar a mobilização pela educação, envolvendo todos os setores que possam ser aliados (técnicos, docentes, quadro administrativo) e forças políticas que atuam no movimento estudantil e docente, dando protagonismo para a auto-organização dos estudantes. Com isso, as manifestações do dia 15 podem ampliar-se e dialogar com a sociedade, ganhando simpatia para o “levante dos livros” em defesa das escolas, universidades e da pesquisa no Brasil.
Nossas figuras públicas estão a serviço dessa luta. Fernanda Melchionna, Sâmia Bomfim e David Miranda têm usado seus mandatos para apoiar esta luta, com seus pronunciamentos na tribuna e debates pelo país, além da proposta de iniciativa parlamentar que protege o orçamento educacional. Luciana Genro, Sandro Pimentel e Mônica Seixas têm-se mobilizado para apoiar as manifestações e demandas de estudantes, técnicos e docentes. O Juntos! está na linha de frente das mobilizações e assembleias, contribuindo para colocar em movimento estudantes e entidades estudantis. Ao mesmo tempo, nossa militância luta pela construção um polo combativo e democrático, que se manifeste nos DCEs e também no próximo Congresso da UNE, que se reunirá no início de julho e pode ser uma expressão da luta dessa nova geração de estudantes brasileiros. Por sua vez, os cursinhos da Rede Emancipa em todo o Brasil também estão engajados, promovendo debates e mobilizando estudantes e comunidades escolares.
As manifestações de 15 de maio são o primeiro capítulo do “levante dos livros”
O “levante dos livros”, impulsionado pelos estudantes, pode transformar-se num movimento “cidadão”, que envolva famílias, comunidades escolares e acadêmicas, artistas, parlamentares, entre outros. Para ser bem-sucedido, pode inspirar-se na forte luta estudantil da Colômbia, que colocou o governo de extrema-direita de Iván Duque na defensiva, obtendo conquistas, ou na experiência chilena, em que a onda de lutas de estudantes de 2006 a 2011 deixou marcas profundas em toda a sociedade.
Lutas como as mencionadas acima abrem espaço para a politização de uma geração que quer encontrar uma saída global, convergindo para o movimento mundial da chamada “geração millennial” em busca de um novo modelo de sociedade, aproximando-se da ideia genérica de socialismo e de liberdade, como se vê em muitos países.
Todo projeto grande e generoso, como o que a juventude brasileira busca ao defender a educação e o direito a um futuro digno, precisa dar seus primeiros passos com confiança e ânimo. Já há um calendário objetivo, que passa pela paralisação nacional do próximo dia 15 e pela ampliação da defesa da educação em movimentos de base ao longo do mês de maio. Estudantes, professores e trabalhadores da educação, dessa forma, podem dar uma contribuição importante para a necessária construção de uma greve geral no Brasil, como já tem apontado as centrais sindicais, conferindo-lhe conteúdo mais amplo – o de uma grande mobilização nacional contra a reforma da previdência e o desmonte dos direitos do povo brasileiro promovido por Bolsonaro.