Sudão: 13 mortes e uma centena de feridos devido à repressão militar
Manifestantes sentados em frente ao Comando Geral das Forças Armadas em Cartum foram atacados pelas forças de segurança.
Os manifestantes estavam no local do costume, na atitude do costume, acampados. Desde Dezembro que o sit-in em frente Comando Geral das Forças Armadas tem sido o ponto de encontro da primavera sudanesa. A força destas mobilizações fez cair Al-Bashir que acabou por ser deposto pelos militares que tinham sido seus aliados.
Esta segunda-feira o resultado da concentração habitual foi diferente. As forças de segurança dispersaram violentamente a manifestação causando pelo menos 13 mortes e mais de uma centena de feridos. A junta militar no poder, auto-denominada Conselho Militar Transitório, justificou a sua ação pela necessidade de controlar grupos de criminosos que estavam nas redondezas. Pela voz do Tenente General, Shams El Din Kabbashi, os militares asseguraram que “o campo de protesto não foi dispersado” e que os problemas ocorridos se devem ao facto dos elementos criminosos visados pelos militares terem fugido em direção à concentração.
Mas a repressão parece ter atingido todos os manifestantes presentes segundo as imagens que circulam em vários órgãos de comunicação social. E as forças da oposição denunciam que o mesmo tipo de ataque sucedeu noutras cidades como em Omdurman e em al-Qadarif.
A violência é também confirmada pelas embaixadas ocidentais. O embaixador britânico em Cartum declarou ter ouvido o som de armamento pesado durante mais de uma hora. E a embaixada norte-americana através do twitter responsabilizou os militares pela tragédia e disse a junta “não pode liderar responsavelmente o povo do Sudão”. Muitos dos jornalistas estrangeiros encontram-se retidos num hotel por pessoal de segurança não identificado.
Esta ação violenta surge depois de uma bem sucedida greve geral de dois dias que os movimentos cívicos convocaram para exigir a transição de poder dos militares para os civis.
As pontes de diálogo entre a coligação de partidos e movimentos que têm participado nos protestos e os militares quebraram-se e a situação entrou num impasse.
A intervenção militar chegou mesmo aos hospitais de Cartum onde havia manifestantes feridos e que procuravam refugio da perseguição. Um grupo de médicos ligado à oposição diz que um hospital foi cercado e outro foi alvo de disparos.
A Associação de Profissionais Sudaneses, uma das principais forças organizadas que têm promovido os protestos, alegam que se trata de “um massacre sangrento” e pedem ajuda ao povo. Vários sindicatos já decidiram que haverá novas greves como forma de protesto contra a violência militar.
Do lado do general Mohamed Hamdan Dagalo, o chefe dos militares, parecem continuar firmemente os seus aliados internacionais, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita.