Peru: ni calco ni copia, ejemplo!
Esquerda peruana tem apostado na possibilidade de construção do novo, sem saudosismos da velha esquerda.
O Peru é um país com larga tradição revolucionária e tem um povo combativo que sempre construiu sua história com nas ruas e no combate, desde sua resistência ao invasor espanhol, até os dias de hoje.
O Peru é um país que conquistou a reforma agrária. Ela não foi um presente do General Velazco em 1978 como a história oficial tenta contar. Ela começou em 1963 com a luta dos indígenas e camponeses sob a liderança de Hugo Blanco nas terras de Convención y Lares, inclusive em armas, para defender-se dos latifundiários que assassinavam, escravizavam e chegavam a marcar com ferro quente a pele dos indígenas que consideravam sua propriedade.
As mulheres peruanas protagonizam, desde Ni Una Menos, a luta contra o patriarcado e por uma saída na qual o poder de fato que têm naquela sociedade, seja também seja um poder de direito. O Peru resiste em luta de norte a sul à proliferação da grande mineração que destrói o meio ambiente e contamina as águas para o lucro de poucos. O Peru, nas ruas, encarna uma luta importantíssima contra a corrupção que contaminou o sistema político num conluio entre as empreiteiras brasileiras e os governos peruanos, desde Fujimori, passando por Alan García, Humala, PPK e chegando agora Vizcarra. Desde que nasceu o Peru resiste. Agora a história chama novamente aquele país a dar seu exemplo, na crise em que passa América Latina, neste interregno entre a morte do velho e o nascimento do novo.
Passamos na América Latina pelo fechamento de um ciclo e abertura de outro. Um ciclo inaugurado por rebeliões contra o neoliberalismo. Do Caracazo ao Argentinazo, passando pelas insurreições no Equador e na Bolívia que marcaram a primeira década dos anos 2000. Um ciclo fechado por governos (independentes do imperialismo, sob a liderança de Chávez e social-liberais sob a liderança de Lula) que não romperam com a lógica do subdesenvolvimento com abundância de divisas e dos regimes políticos corruptos capturados pelas grandes corporações capitalistas. Neste interregno, elementos mórbidos como Bolsonaros, Piñeras e Macris emergem. Vestem os trapos do passado e seu programa mais aprofunda que resolve a crise, mas também surgem importantes movimentos sociais e políticos que podem dar um novo sentido às lutas e, a partir do balanço honesto das experiências “progressistas”, superar as traições e equívocos apontando uma superação socialista da crise que passamos. Partidos como Convergencia Social (FA) no Chile, PSOL no Brasil e Nuevo Perú são expressões políticas dessa necessidade. Puerto Rico e a insurreição que tirou o presidente mostram qual o método correto, a ação independente das massas.
O Peru foi vítima tardia das determinações gerais da onda “progressista”. Teve o nacionalismo de Humala moderado por Lula e os interesses da Odebrecht. Recebeu no pacote de obras das empreiteiras brasileiras um nível de corrupção insustentável que levou o regime político ao colapso, três ex-presidentes à prisão, um ao suicídio e a população à revolta. Mas a esquerda peruana soube romper e construir a tempo um referente por fora da conciliação de classes “progressista”. O Nuevo Perú e seus líderes como Verónika Mendoza e Tito Prado, apostaram na mobilização como forma de combater a corrupção e têm insistido na necessidade de novas eleições e uma nova constituição para o país. Venceram o primeiro round. Têm apostado na possibilidade de construção do novo, do desenvolvimento dos novos movimentos sociais e políticos, sem saudosismos da velha esquerda. O Peru faz seu caminho ni calco ni copia, como dizia Mariátegui, mais uma vez nos dá um exemplo e precisamos aprender com ele.