Sobre a crise no Oriente Médio
Roberto Robaina escreve sobre o assassinato do general iraniano Qassim Suleimani pelos Estados Unidos.
A crise atual do Oriente Medio pode estar mostrando o enfraquecimento da hegemonia dos EUA no mundo e desnudando, certamente, quem são os verdadeiros responsáveis pela ameaça à paz.
Kissinger, um famoso estrategista dos interesses do imperialismo norte-americano, escreveu em seu livro sobre a Nova Ordem Mundial acerca de quatro prováveis catalisadores de uma conflagração mundial de larga escala. Entre elas está o crescimento do conflito no Oriente Médio com o crescimento da força e da influência do Irã como país independente. Do ponto de vista de Kissinger é claro que este risco deve ser evitado. Afinal, a base do poder norte-americano está em impedir a verdadeira independência nacional de inumeros países.
Eis a razão imperial de Trump e do Pentágono para promoverem o assassinato do líder militar iraniano cuja atividade influenciava toda a região. Tratou-se, na prática, de uma declaração de guerra, com os métodos típicos do terrorismo de Estado. Assim, com tal ação, foi dada uma prova precisamente de que a guerra em larga escala é a opção para a qual pode nos conduzir o domínio do capital norte-americano ao não aceitar perder seu controle militar do Oriente Médio, cujo risco se expressa na perda de suas bases militares e na expulsão de suas tropas.
Veremos nos próximos dias se o parlamento iraquiano dará o passo de votar a expulsão de seu território das tropas dirigidas por Trump. Será uma decisão justa, na medida em que foi a guerra contra o Iraque – promovida por Bush sob a falsa acusação do envolvimento do país com o atentado de 11 de setembro – que agravou a violência na região e tem inibido as possibilidades de avanços democráticos no próprio Irã, no Iraque, na Síria, que só podem ocorrer com a autodeterminação dos povos.
Por fim, aqueles que ainda de boa fé pensam que os governos dos EUA defendem valores democráticos, deveriam se perguntar por que então os governos deste país não se opõem à monarquia da Arábia Saudita que sequer disfarçou sobre o assassinato, no interior mesmo da embaixada da Turquia, de Jamal Khashoggi, jornalista que vivia nos EUA e era independente do regime ditatorial. Até a CIA reconheceu que o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman foi o mandante do assassinato. Mas tudo ficou por isso mesmo. Mais que isso: Trump copia a prática do príncipe e resolveu promover o assassinato de seus opositores no exterior. Eis o real que não se pode desconhecer.