Uma aula emocionante

Sobre a aula inaugural da Rede Emancipa no Rio de Janeiro.

Pedro Fuentes 11 mar 2020, 16:41

Tivemos a sorte de participar da aula inaugural da Emancipa na UERJ no sábado à tarde. É sabido por todos os militantes, e amigos do MES que estas aulas são muito importantes para medir a dimensão da Emancipa, e que são sempre muito numerosas e expressivas, medem a força real que esse projeto de educação popular alcança. No Rio, entre São Gonçalo (700) e Rio (900), o número foi 40% superior ao do ano anterior. Isto é no campo quantitativo, que já mostra a consolidação e o fortalecimento da Emancipa em número de alunos e de militantes que se sumam ao ativo de Emancipa para construir este projeto.

O que mais impressionou desta aula, tanto a mim como a outros camaradas com quem falei, foi a densidade político-social e emocional deste evento. Confesso que no meu caso e em outros essa emoção nos fez derramar lágrimas várias vezes. Há várias razões que explicam isso e sobre elas temos que contribuir para tirar conclusões políticas que fortaleçam o Emancipa.

Um primeiro aspecto foi a densidade e qualidade dos 900 participantes, a grande maioria dos quais eram negros de Belford Roxo, Jacarepaguá, Baixada Fluminense, Vila Isabel e de outras partes de favelas ou periferia que tiveram que percorrer um longo caminho para chegar a aula. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro deu para Emancipa o seu maior anfiteatro pelo respeito que Emancipa conquistou e pelo trabalho de professores militantes naquela universidade. O mais notável além que a maioria era destes lugares e negra, foi ver o seu entusiasmo pela sala de aula, perceber como tanto os pais como os futuros alunos se sentiram parte dela. Aplaudiram e interromperam grande parte dos discursos. Você podia andar pelas fileiras de cadeiras e perceber este entusiasmo e depois notar que uma grande maioria ficou durante as quatro horas da aula. A direção de Emancipa e seus militantes conseguiram que todos os presentes participassem na atividade. E conseguiram fazer subir o tom político desde a importância de chegar à Universidade para o fora Bolsonaro, para que a Universidade não seja para as elites e para os ricos.

Uma parte fundamental da aula foram as apresentações artísticas. A presença do BNegão, do grupo de teatro que se apresentou de artistas que se fizeram no cárcere e dos nossos camaradas da Faculdade de Arte foi de um nível político e de diálogo que mostra que Emancipa é capaz de levar a cultura popular a suas aulas. Não se pode deixar de pensar que seria muito possível construir Emancipa Cultural como complemento da atividade social-educativa.

Impressionou ainda mais o número e a qualidade dos militantes da Emancipa e sua moral militante, sua identidade com o projeto emancipatório. Acho que tinha umas 150 a 200 camisetas verdes e dá para perceber que essa militância e a joia deste movimento social que está em construção. Sua paixão pela Emancipa e sua tarefa e seu nível para realizá-la. Todas as falas, testemunhos dos alunos que passaram o vestibular, dos camaradas que saíram da prisão DEGASE, e que agora se tornam militantes, é o que dá vida à Emancipa. Emancipa é um movimento social vivo, com seu programa de ruptura com a educação do capitalismo que fala da necessidade de outra educação que não se enquadra dentro deste sistema, por causa de sua política e moral que isto é conseguido e conquistado coletivamente e não individualmente. E seus militantes sabem dialogar com as necessidades dos setores explorados. Conceito que também vale para David Miranda que como muitos membros de Emancipa vem de uma favela do Rio.

Mas tão importante que todo isso é que Emancipa é um organismo vivo que tem seu próprio metabolismo, que como todos os organismos tem parte e tudo, que seu corpo está crescendo, avançando e amadurecendo, que em suas veias corre sangue oxigenado que torna isso possível. Se o compararmos com outras organizações, como alguns sindicatos, o seu aparelho e alcance é menor, mas na sua essência e substância é maior. Esses estão mortos com vida, e Emancipa é vida com vida. Muitas vezes são burocracias onde uma minoria super-estruturada e burocratizada decide em assembleias pobres, onde tudo já está decidido a partir do caminhão de som. Emancipa é a antítese; tudo é feito com esforço e não com dinheiro e aparelhos. Seus professores e organizadores militantes são parte viva das tarefas e políticas da Emancipa, e isso se reflete nas salas de aula, que são participativas.

É um orgulho para o MÊS poder sentir a força deste projeto que está sendo feito. Penso que há algumas coisas importantes a contribuir para consolidar este progresso. A participação do Emancipa nas mobilizações foi fundamental para educar estudantes, professores, e para dar conteúdo político ao movimento social. Isso também tornou possível uma relação fluida entre Juntos e Emancipa. Quando tem mobilizações estudantis há muitos “emancipeiros” que vestem a camiseta de Juntos porque sentem que Juntos é um parceiro para a defensa de uma outra educação. E vice-versa acontece nas aulas e as atividades de emancipa. As aulas públicas feitas pelo Emancipa como parte das mobilizações estudantis e de professores no ano passado deram essa tônica que seguramente está se estendendo aos ativistas e dirigentes do SEPE. Tem que ser um orgulho também saber que este projeto de movimento social no qual a militância do MÊS está engajada tem também um número importante de militantes independentes, que não fazem parte do PSOL e que coincidem conosco na luta por outra educação. Somos parceiros, companheiros de luta por uma educação socialista. Com todos e todas esses camaradas estamos juntos, para continuar a luta para terminar com este governo e avançar a outra sociedade igualitária. Queremos deixar colocado como ideia uma tarefa que poderia ser tomada pelo nosso movimento. Parece que estão reunidas as condições que em este ano se dê um passo a mais para ter Emancipa na Cultura ou Emancipa cultural. Há muitos artistas, intelectuais, professores que estão lutando por uma cultura popular alternativa, e Emancipa pode contribuir para essa tarefa.

Fonte: https://portaldelaizquierda.com/pt_br/2020/03/uma-aula-emocionante/


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