Breves comentários sobre a conjuntura

Precisamos criar as condições e forças para construir um novo estado de coisas.

Gilson Amaro 11 abr 2020, 15:40

No momento em que o Brasil começa a ter um acentuado aumento do número de infectados e mortes por causa da pandemia de coronavírus, no último boletim foram 141 — a tendência é que o crescimento siga, podendo se tornar exponencial — faz-se necessário observarmos algumas movimentações das forças políticas no país.

Por um lado, Bolsonaro dobra a aposta e intensifica sua campanha genocida. Ele fortalece a propaganda demagógica em torno da cloroquina (não é a primeira vez que evoca uma substância “milagrosa”, lembram da “pilula do câncer” a fosfoetanolamina?) e aumenta a frequência de seus passeios por Brasília. Talvez animado pela queda na adesão à quarentena, comprovada por dados recém divulgados, os quais mostram várias cidades bem mais movimentadas. De outro lado o PT decide não aderir ao “fora Bolsonaro” em meio à pandemia do coronavírus, e anuncia que irá cobrar do governo ações de enfrentamento à covid-19.

É preciso consciência que vivemos uma situação muito peculiar no Brasil. A deposição do chefe de Estado e governo, se tornou um dos elementos mais importantes no combate à atual crise sanitária, social e econômica. O sentido histórico do movimento da deposição de Bolsonaro, como resposta à campanha genocida deste que quer avançar um projeto de poder (que representa uma parcela da população e a burguesia brasileira) sobre pilhas de cadáveres de trabalhadores pobres do Brasil, tem um caráter civilizatório e inegavelmente positivo na luta de classes.

A postura eleitoreira, rebaixada e previsível do PT, prova a velha máxima do Barão de Itararé, afinal “de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”. Frente à atual crise sanitária, um partido que se diz de esquerda, anunciar que irá “cobrar” de Bolsonaro ações contra a pandemia é um escárnio típico das forças da ordem e status-quo da segregação social.

Estruturar uma suposta oposição e combate ao governo Bolsonaro orientado pelos conchavos, cálculos eleitorais, mapas e bússolas da falida Nova República não é apenas um erro, mas uma opção. Bolsonaro é contra as medidas mais básicas em defesa da vida na pandemia como as quarentenas e aposta na miséria e desespero do povo para gerar o caos e fortalecer sua luta contra as medidas sanitárias de prevenção. A vida acima dos lucros não pode ser apenas uma retórica, pois isso cabe até na boca de governadores higienistas e dos reacionários mercantilizadores da saúde, que agora são alçados no meio da crise, à heróis nacionais apenas por estarem, momentaneamente, em contraste com Bolsonaro.

A opção política de atuar pelos parâmetros dos conchavos e acordos das forças políticas mantenedoras da segregada ordem social brasileira, nos marcos do jogo institucional ainda existente, vai para além do PT e inclui outras forças e personalidades políticas à esquerda, que estão concretamente se localizando no campo da ordem do capital e possuem como horizonte máximo a gerência da desigualdade social. Nossa tarefa não pode ter como estratégia e destino abraçar setores da direita para derrotar a extrema-direita eleitoralmente. Agir e pensar assim é atestado de falência.

Precisamos criar as condições e forças para construir um novo estado de coisas, que passa por uma transformação radical do Brasil. Não entender o sentido histórico e gravidade da atual crise, e que o futuro terrível que temos pela frente, é indissociável do passado que o produziu, será repetir a história como farsa ou tragédia, como bem nos lembra um grande pensador.

Vivemos momentos dramáticos, e não podemos ter ilusões. A crise será de longuíssima duração e múltiplas dimensões. Para além das necessárias medidas sociais emergenciais, caso não surja um movimento concreto de combate a crise em sua raiz política econômica e social, esta seguirá se aprofundando ao custo de mortes e miséria dos trabalhadores.

Precisamos radicalizar a defesa das urgentes medidas sociais que estejam a altura das necessidades do povo para que todos e todas possam ter suas vidas salvas. De igual modo é indispensável entender que precisamos de um movimento que derrote o governo Bolsonaro e apresente uma alternativa concreta para o povo brasileiro.

#forabolsonaro


TV Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!

Greve nas Universidades Federais

Confira o informe de Sandro Pimentel, coordenador nacional de educação da FASUBRA, sobre a deflagração da greve dos servidores das universidades e institutos federais.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 21 abr 2024

As lutas da educação e do MST indicam o caminho

As lutas em curso no país demonstram que fortalecer a classe trabalhadora é o único caminho para derrotar a extrema direita
As lutas da educação e do MST indicam o caminho
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 48
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão