O raio-x da morte no Brasil

No Brasil de Bolsonaro, um laboratório da extrema-direita, a tragédia tem cor e CEP.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 30 jul 2020, 20:51

Dentro de uma semana, apesar de enorme subnotificação, o Brasil registrará na sua história a macabra marca de 100 mil mortes causadas pela Covid-19. Em poucos meses, as feições da sociedade se alteraram por completo e a gestão desastrosa de Bolsonaro levou o país a dividir, com os Estados Unidos de Trump, o posto de epicentro mundial do contágio e das mortes pelo vírus. Ainda na primeira quinzena de agosto, o número de infectados deve passar dos três milhões, sempre levando em conta que somos também os campeões mundiais da subnotificação, portanto, da maquiagem de dados.

Enquanto as cidades assistem atônitas a um processo de retomada de um suposto “novo normal”, no qual os mais desprotegidos estão expostos ao contágio e à morte, Bolsonaro também quer aparentar um “novo normal” com sua postura menos belicosa. Depois de perder espaço no terreno das ruas, cercado pelo STF, Bolsonaro optou por uma estratégia mais silenciosa, ancorado na resiliência de sua popularidade e na necessidade da burguesia de dar andamento a um ajuste pesado sobre as costas do povo.

No Brasil de Bolsonaro, um laboratório da extrema-direita, a tragédia tem cor e CEP. O Ministério da Saúde, controlado por militares, está “gerindo” um genocídio social: a Covid-19 mata mais a população pobre e negra nos bairros periféricos. A “reabertura econômica” não está sendo feita para defender a vida, senão, o inverso: defende a morte e a liquidação dos poucos direitos que ainda perduram. É necessário compreender o atual momento para organizar a resistência dos trabalhadores enquanto a crise vai ganhando proporções dramáticas.

O desastre Pazuello

Enquanto o mundo inteiro torce pela validação de uma primeira vacina, o que, apesar de avanços, ainda é uma interrogante aberta, o Brasil lida com uma das piores gestões da pandemia em todo o planeta. E Bolsonaro, após a queda de dois ministros, Mandetta e Teich, levou sua ala militar para essa trágica aventura.

Desde que os militares passaram a ocupar o Ministério da Saúde, as mortes saltaram de 15 mil para mais de 90 mil mortes. Escândalos, como a manipulação da divulgação de dados, a liberação de menos um terço dos recursos previstos para o combate à Covid-19 (com denúncias de direcionamento político das verbas) e até mesmo a recente nomeação de uma amiga de Pazuello para a chefia do Ministério em Pernambuco mostram como as Forças Armadas se comprometeram com a política desastrosa de Bolsonaro para a pandemia.

Ao mesmo tempo em que faltam coordenação e recursos, paulatinamente a pressão pela “reabertura” das atividades econômicas dobrou governadores e prefeitos, num contexto de taxas crescentes de contaminação e morte na maior parte do país. É o caso de São Paulo, apesar de até mesmo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã e líder do comitê de crise da Covid-19 do governo estadual, afirmar que cai um “Boeing por dia” no estado.

A pandemia e a luta de classes no Brasil

Nessa semana, a Oxfam divulgou relatório mostrando que os 42 bilionários brasileiros enriqueceram ainda mais durante a pandemia, aumentando suas fortunas em US$ 34 bilhões – quase R$ 200 bilhões – em termos absolutos. No conjunto da América Latina, 73 bilionários ampliaram suas fortunas em US$ 50 bilhões nos últimos meses.

Ao mesmo tempo em que as análises do contágio mostram a vulnerabilidade das periferias e dos bairros populares, as projeções mostram como o nível de vida do povo vem sendo reduzido de forma veloz. O aumento do desemprego e a redução dramática da população empregada revelam a dimensão da crise econômica. Se, por um lado, a perda de renda dos mais pobres foi mitigada com o auxílio emergencial, por outro, os próprios porta-vozes do governo e da burguesia preveem um drástico aumento das taxas de desemprego e do empobrecimento em meados do segundo semestre, assim que termine a vigência do auxílio.

O plano de Guedes, por sua vez, pretende transformar a crise numa oportunidade para impor uma nova rodada de destruição de direitos trabalhistas, com a infame proposta de “carteira verde e amarela”, vinculada a uma reforma tributária que tem como real objetivo desonerar empresas e transferir os custos indiretos do trabalho (como as contribuições previdenciárias patronais) para o conjunto da sociedade por meio de uma CPMF vitaminada. É o mundo dos sonhos da burguesia: acumulação privada e socialização dos custos de produção.

Os sinais do esgarçamento social avolumam-se: além das mortes por Covid-19 nas periferias, as estatísticas revelam o que já nos acostumamos a ver em denúncias na internet e na imprensa: o aumento da violência e da letalidade policiais durante a pandemia, sobretudo afetando a juventude e os trabalhadores pobres e negros.

A crise vai seguir e se aprofundar: é preciso lutar!

Enquanto Bolsonaro segue sua agenda de ataques ao povo e de subordinação a Trump, as lutas começam a pipocar pelo país. Depois de um mês de julho marcado pelo “Breque dos Apps”, os metroviários de São Paulo, ameaçados de perdas importantes, realizaram um importante movimento, que chegou a deflagrar uma greve, com o dirigente principal do sindicato desmoralizando o governo Doria e a Rede Globo ao vivo, defendendo os direitos de toda a classe.

Por tudo isso, será preciso seguir uma agenda de lutas e de organização da resistência da maioria social. As condições de vida vão se agravar muito, abrindo novos conflitos e dificuldades para o povo. 

A suposta calmaria das últimas semanas é a antessala da potência de questionamentos e da raiva social, que precisa ser organizada. O segundo semestre será marcado eleições, nas quais o PSOL vai-se postular como uma alternativa, mas também por lutas como a que a educação começa a desenvolver. É preciso unificar as lutas e afirmar: Fora, Bolsonaro!


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