A batalha da Bolívia e nossas responsabilidades
PSOL acompanhará as eleições na Bolívia.
No próximo domingo, 18 de outubro, após um conjunto de adiamentos e manobras, terá lugar a realização do primeiro turno das eleições presidenciais bolivianas. O país vive uma situação de intensa instabilidade política, após a deposição via golpe de Estado do governo Evo Morales e Garcia Lineira, diante de um conflagrado processo eleitoral com resultados controversos. Após auditoria da OEA- encabeçada por Luis Almagro- que rejeitou a vitória de Evo, galvanizando a confusão e o descontentamento social, setores do parlamento, da oposição de direita e das forças de repressão consumaram o golpe, exigindo a renúncia e o exílio de Evo. Estudos independentes contestaram o relatório final de Almagro e da OEA.
Assumiu o governo golpista de Jeanine Añez, que se verificou numa tragédia de qualquer ponto de vista. Añez, além de ilegitima, entra para a história como um dos piores governos- inclusive no âmbito da avaliação popular- da Bolívia.
O quadro eleitoral para nada é tranquilo, comandado e organizado pelas mesmas instituições que legitimaram o golpe do ano passado e atuaram para reprimir o protesto social, proscrever o MAS e suas principais lideranças, para silenciar a oposição. Mesmo no auge da pandemia, o conflito social esteve presente. Uma greve geral, com bloqueios de estrada, no começo de agosto, paralisou as principais cidades. A repressão do exército e de mílicias da extrema-direita não conseguiu impor um regime de força, que seria o resultado de uma derrota histórica da classe trabalhadora, o que de fato, não ocorreu, apesar do retrocesso que significou o golpe de 2019.
Isso também se expressa, de forma distorcida, no atual cenário eleitoral. Com Evo/Linera impedidos de concorrer, após disputa interna, o MAS lidera todas as pesuisas com fórmula Luis Arce, ex-ministro da economia e David Choquehuanca como vice; Vale registrar que o sistema eleitoral boliviano preve dois turnos, salvo no caso do primeiro colocado superar os 40% e mais de 10 pontos de diferença para o segundo colocado. Após um rearranjo de forças da direita, onde Añez e Tuto Quiroga retiraram suas candidaturas, o ex-presidente Carlos Mesa se torna alternativa mais viável da burguesia, estando em segundo lugar e lutando para evitar a vitória do MAS no primeiro turno. O outro candidato com peso eleitoral é o conservador e miliciano, Luiz Fernando Camacho, ligado a organização de extrema-direita UJC (União Juvenil Crucenista), ligada a burguesia de Santa Cruz de La Sierra. Camacho é diretamente alinhado com Bolsonaro e Trump; os outro candidatos menores tem pouco ou nenhuma expressão.
Os riscos e suspeitas de fraude são diversos. Atores internacionais, com a presença da própria OEA, se preparam para acomphar o pleito como observadores oficiais. O Parlasul, por iniciativa do PSOL e de sua líder Samia Bonfim, terá uma delegação. Samia encabeça a representação oficial, com parlamentares brasileiros, argentinos, entre outros, com fins de repudiar e denunciar qualquer manipulação e violência política.
O PSOL, votou em todas as suas instâncias, à solidariedade ao povo boliviano e o rechaço ativo ao golpe, se somando nos protestos e todos os tipos de iniciativas e articulações, com Fernanda Melchionna organizando com parlamentares europeus uma jornada de solidariedade que envolveu Adriana Salvatierra, senadora e líder do MAS. Agora estaremos, uma vez mais, nas trincheiras da luta: dois quadros partidários, Bruno Magalhães, do Observatório Internacional e Ana Carvalhaes, dirigente socialista e internacionalista de larga data, estarão em terras bolivianas para presenciar e informar o Partido e o ativismo, neste final de semana.
A luta nos países onde a comunidade boliviana se faz presente é fundamental. Estamos repercutindo as ações do comite de solidariedade ao povo boliviano, em São Paulo. A confusão instalada por autoridades eleitorais, a opção pela desinformação está sendo utilizada como arma na comunidade migrante para evitar a massiva votação na oposição, com as corajosas ativistas bolivianas, em sua maioria mulheres, denunciando e atuando para garantir uma votação expressiva.
Além de ter deixado de fora do padrão cerca de 4 mil residentes no Brasil, notícias dão conta que bolivianos estão sendo impedidos de votar no norte do Chile.
Contudo, as hipóteses de manipulação seguem, via notícias falsas, e outras artimanhas usadas pelos golpistas. Acompanhar e repercutir a votação em São Paulo é uma tarefa democrática vital, já que a possibilidade de vitória do MAS existe, com margem pequena, onde cada voto pode ser decisivo.
Com tanta incerteza, além de cumprir nosso papel como internacionalista, devemos apostar nossas forças na organização da solidariedade, colocando como tarefa essencial barrar a extrema-direita e o vetor golpista; além disso, se apoiar nos setores mais dinâmicos que se provam e se organizam por fora das direções tradicionais, construindo um polo capaz de enfrentar a direita sem optar pela conciliação de classes, abrindo caminho para uma nova situação política no país e no continente.