Morreu Maradona, morreu um ícone anti-imperialista de nosso continente

Diego Armando Maradona foi uma dádiva da cultura operária latino-americana e assim ele precisa ser celebrado.

Charles Rosa 28 nov 2020, 12:08

Aos 60 anos de idade, o ídolo global Diego Armando Maradona encerra sua curta e intensa vida. Para uma parcela dos aficcionados do esporte mais popular do planeta, trata-se de um dos melhores peritos que a bola e os gramados já conheceram. Para outros, estamos falando de um Deus, um ser mitológico cujo comportamento excêntrico dentro e fora dos campos jamais será esquecido e/ou emulado.

Criança oriunda de Lanús, nos arredores de Buenos Aires, Dieguito iniciou sua trajetória profissional em 1976 no Argentinos Juniors, clube operário fundado em 1904 com o nome de “Mártires de Chicago” em homenagem aos operários mortos na cidade estadunidense em 1 de maio de 1886. A técnica precoce e magistral de sua perna esquerda logo o projetou entre os principais jogadores argentinos, o que não foi o bastante para o credenciar a uma vaga na Copa de 1978 ganha pela anfitriã Argentina. Somente oito anos depois, aos 26 anos de idade, Maradona teria a oportunidade de conduzir seu país ao título máximo do futebol mundial. E o fez com inigualável maestria, principalmente nas quartas-de-final contra a Inglaterra, em que executou uma dupla vingança simbólica contra os invasores das Ilhas Malvinas: um gol com a mão (“La mano de Dios”) e um gol antológico driblando metade do time adversário.

Em sua atividade clubística, Maradona encontrou seu auge no Napoli, camisa celeste pelo qual conquistou o competitivo campeonato Italiano e a Copa da UEFA. No sul da Itália, região mais empobrecida e discriminada da Velha Bota, Maradona consolidaria a posição de ídolo massivo, chegando à insólita situação de receber o apoio napolitano contra a seleção italiana na semifinal da Copa de 1990 realizada em solo italiano.

Sempre rebelde e contestador como atleta, nunca deixou de implicar com a burocracia que comandava a FIFA, pagando um alto preço por isso na Copa de 1994 nos EUA. Após fazer um acordo de bastidores com João Havelange e sua trupe (Maradona tomaria remédios para emagrecer, sem o crivo do controle anti-dopping, em nome dos interesses comerciais da entidade maior do futebol), se viu traído pela FIFA e jamais se livrou da pecha de “drogadito”.

Fora dos campos, nos anos 90, Maradona assumiu posições cada vez mais anti-establishment até convergir para a Cuba de Fidel. A partir deste encontro histórico, do qual resultaram tatuagens de Fidel e Che, Maradona passa a emitir declarações anti-imperialistas que o conduziram ao bolivarianismo de Hugo Chávez e Evo Morales (ver relato de Israel Dutra sobre o Encontro de Mar del Plata). Há pouco tempo, em encontro com o primeiro-ministro Mahmoud Abbas, Maradona afirmou que o seu coração era palestino.

O fato é que raramente a bússola política de um atleta foi tão anti-imperialista como a do gênio Maradona, por mais que algumas de suas companhias merecessem maior questionamento (vide a aproximação com Menem, Ortega ou Maduro). Talvez apenas Sócrates o alcance como jogador em simbologia revolucionária. Mas ser amado por um povo como Maradona é… impossível! Do início ao fim, Diego Armando Maradona foi uma dádiva da cultura operária latino-americana e assim ele precisa ser celebrado.

Artigo originalmente publicado no site da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.


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