Alguns elementos para seguir a luta contra Bolsonaro e por vacina para todo povo em 2021

2021 será um ano de crise e de acirramento da luta social. Temos a obrigação de defender a vida dos brasileiros: vacina para todos, já! Fora, Bolsonaro!

Israel Dutra e Thiago Aguiar 28 dez 2020, 21:32

As expectativas do planeta, na virada de 2020 para 2021, voltam-se para a ativação dos planos de imunização em massa, com as primeiras doses das vacinas anticovid-19 sendo utilizadas em diferentes países. Após um ano marcado pela pandemia que afetou os alicerces sociais, econômicos e sanitários em todo o mundo, a fabricação da vacina em tempo recorde, em que pese o controle pelas grandes corporações farmacêuticas, foi uma importante conquista.

No Brasil, com a gestão desastrosa de Jair Bolsonaro, a expectativa pelos imunizantes converte-se em apreensão. Não há um plano nacional de vacinação em larga escala: não há datas, além das previsões inconsistentes e mutáveis do Ministério da Saúde, e sequer foi estabelecida uma ação comum com os governos locais, como o de São Paulo, que largou na frente com a produção da vacina Coronavac no Instituto Butantan. Sem ação coordenada, o Brasil já vive uma segunda onda ou repique, concluindo o ano perto da marca de 200 mil óbitos e 8 milhões de casos, além dos graves efeitos econômicos.

Com o fim do auxílio emergencial, a queda na renda amplia-se. O desemprego voltou a tocar em máximas históricas, alcançando 14,6% no terceiro trimestre, e a inflação de alimentos é sentida com força na mesa das famílias.

Na esfera política, após as eleições que foram marcadas pelo triunfo da direita não bolsonarista e por uma performance interessante do PSOL – analisados em documento da Coordenação Nacional do MES do início de dezembro –, cabe à esquerda apresentar um plano de ação capaz de responder às necessidades mais prementes do povo. Os governos seguem debochando da população, como fez Bruno Covas na capital paulista ao aprovar, no mesmo dia, seu aumento salarial de 45% e a retirada o direito à gratuidade no transporte público para idosos entre 60 e 65 anos.

A seguir, apresentamos alguns elementos da luta política das próximas semanas, passadas as festas e o recesso atípico de Ano Novo, com ceias modestas e reuniões com número menor de pessoas.

A derrota de Trump mudou o ambiente político internacional

A mudança de governo nos Estados Unidos é o evento mais significativo dos últimos meses. Depois de anos de ascensão da extrema- direita, nucleada ao redor de Donald Trump, a derrota eleitoral enseja novos ares. Fruto de uma combinação de fatores, como a rebelião antirracista de Mineápolis após o assassinato de George Floyd, a péssima gestão de Trump da pandemia e a ampliação da resistência da sociedade civil estadunidense, a nova gestão na Casa Branca abre uma nova situação internacional. Sabemos que não se pode confiar em Biden e que, como dirigente máximo da burguesia imperialista, sua agenda vai gerar, mais cedo do que tarde, choques entre os povos e com a classe trabalhadora. Trump, por sua vez, mantém sua base social eleitoral, já que os resultados foram muito mais modestos para o democrata do que as pesquisas e os articulistas aguardavam. 

Por outro lado, é fundamental destacar as importantes tendências abertas após a derrota trumpista: o debilitamento da extrema-direita no mundo; a continuidade das crises orgânicas e uma mudança pendular na América do Sul. 

A extrema-direita segue resiliente porque conserva bases de massas, mas a derrota de Trump é um sinal para o conjunto dos povos: fragiliza Bolsonaro no Brasil e debilita figuras como Modi na Índia, além de arranhar as lideranças ascendentes desse movimento internacional que congrega figuras ligadas ao esgoto das fake news, a ala mais à direita do que chamam de “populismo” e os setores diretamente neofascistas.

Com a crise agravada pela pandemia, os primeiros efeitos são de incerteza sobre a gestão dos governos. Em várias partes do mundo, arrastam-se crises gerais nos regimes, eclodem protestos massivos, descontentamento social e falta de alternativas.

Na América do Sul, 2020 encerra-se com algumas conquistas das lutas sociais e democráticas: derrotou-se o golpe na Bolívia; uma irrupção de massas deteve um golpe parlamentar no Peru; o plebiscito chileno enterrou a constituição pinochetista; além disso, na Venezuela, afastou-se a hipótese de invasão militar após o cerco de quase dois anos dos governos Duque, Bolsonaro e Trump; na Argentina, a agenda parlamentar do final de ano incluiu a aprovação de tributos sobre as grandes fortunas e o direito ao aborto, como grande conquista do movimento de mulheres. Entender a dinâmica internacional ajuda a ver o Brasil e suas contradições internas.

Depois do revés eleitoral, Bolsonaro busca demonstrar resiliência

No Brasil, passadas as eleições municipais, os problemas políticos e sociais dominam a conjuntura. O balanço eleitoral evidenciou uma série de derrotas para Bolsonaro e o fortalecimento de setores da direita não bolsonarista. Apesar disso, as pesquisas mostram que Bolsonaro segue com força relativa, mesmo que mudando sua base social, com maior presença entre setores assalariados, com aprovação entre 35 e 37% nas pesquisas dos institutos Datafolha e Ibope.

Bolsonaro também reorganizou sua base legislativa, após a crise do PSL, orientando-se para a alianças com o “centrão”. Num esquema de distribuição de emendas jamais visto, partiu para uma ofensiva essencial para controlar a Câmara dos Deputados, após o STF negar a possibilidade de reeleição de Rodrigo Maia, conferindo a Arthur Lira, do PP, a condição de representante direto do bolsonarismo na disputa para a sucessão da casa. Bolsonaro precisa impor Lira e conservar sua aprovação acima de 30% no primeiro semestre de 2021 para blindar-se da crise social que se avizinha. Esse é o sentido das demonstrações de resiliência por parte do Planalto, mesmo em meio aos desastres nacionais. A disputa da presidência da Câmara dos Deputados e, em menor medida, do Senado, ganha contornos fundamentais para a relação de forças entre governo e oposição no futuro imediato.

Por outro lado, as debilidades de Bolsonaro evidenciam-se de forma flagrante e as contradições no interior do bolsonarismo aumentam, como mostraram a demissão do ministro do turismo Marcelo Álvaro Antônio; as novas denúncias de envolvimento da ABIN e do GSI no esforço de proteção de Flávio Bolsonaro; a crise com os “youtubers” bolsonaristas Oswaldo Eustáquio e Allan Santos; além da prisão de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro.

Nos próximos meses, será decisiva a luta política para desgastar o governo central, lutar contra as fake news que se espalham e defender uma campanha de vacinação ampla.

As “duas batalhas” sociais em curso

Podemos dizer que existem duas grandes batalhas para o início de 2021: a primeira, que mobiliza toda a sociedade, é a luta pela vacinação imediata para todos. Enquanto já há dezenas de países, mesmo na América Latina, que já começaram a campanha de vacinação, o Brasil ainda não tem prazos ou indicações mais evidentes sobre quando e como vai funcionar seu plano de imunização. Bolsonaro instalou um clima de guerra, lançando dúvidas criminosas sobre a eficácia e segurança das vacinas, para atacar João Doria, a quem vê como seu rival em 2022. Uma máquina de fake news atua para espalhar mentiras e desinformação sobre as vacinas, em particular sobre a Coronavac, de procedência chinesa e em produção no Instituto Butantan. Como resultado, pesquisa recente apontou que assustadores 22% dos entrevistados recusam-se a tomar qualquer vacina e mais da metade rejeitam imunizantes de origem chinesa.

A baderna assassina conduzida por Bolsonaro na gestão da campanha de vacinação lança governadores e prefeitos em busca de imunizantes, colocando em questão como e quando chegará a vacina aos estados brasileiros, sobretudo para a população mais pobre das periferias e rincões distantes do Brasil. Doria, por sua vez, usa a vacinação como trampolim midiático e publicitário para suas aspirações eleitoreiras, contribuindo para o clima de desinformação e de politização da imunização, como se viu na recusa de divulgar a eficácia da Coronavac nos estudos já concluídos no Brasil e em sua viagem de fim de ano para Miami – um verdadeiro deboche com os milhares de mortos e suas famílias – rapidamente interrompida após o repúdio generalizado de seu comportamento oportunista.

A segunda batalha, por assim, dizer, é a manutenção do auxilio- emergencial como garantia de renda para milhões de famílias. Já cortado pela metade, ao final de dezembro foi paga a última parcela prevista, após a qual não há nenhuma providência do governo para mitigar a enorme crise social em curso. Guedes e seus prepostos voltam a falar em “consolidação fiscal”, privatização e ajustes quando até mesmo setores da burguesia e o FMI afirmam que a manutenção do auxílio-emergencial é a única saída para evitar uma catástrofe. São esses os piromaníacos criminosos que pensam ter nas mãos o destino do povo brasileiro.

O PSOL tem novas responsabilidades: por uma campanha em defesa da vacinação para todos os brasileiros!

O PSOL saiu de 2020 em outro patamar. Além de dirigir a prefeitura de uma capital importante, Belém, está entre os mais votados nas câmaras de vereadores das maiores cidades do país. Com novos parlamentares tomando posse em 1º de janeiro, a referência social conquistada pelo partido deve estar a serviço da derrota do bolsonarismo e da defesa dos interesses de todo povo no combate à Covid-19.

É preciso exigir um plano nacional de imunização imediata de toda a população! A Executiva Nacional do PSOL e nossos parlamentares têm-se manifestado nesse sentido, exigindo o uso emergencial de vacinas certificadas internacionalmente após 72 horas, mesmo com eventual omissão da Anvisa aparelhada pelo bolsonarismo, e a formação de um conselho nacional tripartite com os entes federativos para organizar a campanha de imunização.

Além disso, devemos defender os trabalhadores da saúde e das atividades essenciais, apostando na auto-organização, no combate às fake news e na cobrança dos governos e autoridades para a apresentação imediata de um plano concreto de vacinação, com a compra, produção e distribuição de imunizantes para todos os brasileiros.

Sabemos que 2021 será um ano de crise e de acirramento da luta social. Temos a obrigação de defender a vida dos brasileiros: vacina para todos, já! Fora, Bolsonaro!


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Pedro Micussi