Na Itália, as perspectivas abertas pela greve nacional dos entregadores

No dia 26 de março, milhares de trabalhadores das plataformas de delivery participaram de um dia histórico de greve.

Hélène Marra 22 abr 2021, 19:23

No dia 26 de março, milhares de trabalhadores das plataformas de delivery (chamados de riders na Itália) participaram de um dia histórico de greve que marca um passo importante na luta pelo reconhecimento dos direitos dos entregadores.

O “Dia Sem Entregas” foi apoiado por muitos clientes das plataformas, consumidores e coletivos que decidiram boicotar os serviços em solidariedade com os trabalhadores das entregas. O protesto dos entregadores também foi maciçamente apoiado pelas sindicatos de base (Clap- Trabalho autônomo e precário, Adl Cobas- Associação pelos Direitos dos Trabalhadores, Sial Cobas- Sindicato dos Trabalhadores Auto organizados, Si Cobas- Sindicato Inter categoria dos Trabalhadores Auto Organizados) ) e pelos sindicatos de categoria (Uiltucs-União Italiana dos Trabalhadores do turismo, Comercio e Serviços , Nidil Cgil- Novas Formas de Trabalho). Ocupações do espaço público, flash mob e manifestações foram organizadas em cerca de trinta cidades italianas para se opor ao contrato “pirata” assinado em setembro passado pela associação de plataformas Assodelivery e o sindicato minoritário UGL e de reivindicar a obtenção de um contrato coletivo nacional.

A luta sempre compensa

Este dia imediatamente trouxe uma primeira vitória importante que levou a celebração de um contrato para os trabalhadores da plataforma Just Eat, após uma negociação que abriu caminho para a inclusão da figura do entregador no contrato coletivo de trabalho nacional do setor de logística, transporte e entrega de mercadorias. Os entregadores da multinacional Just Eat têm agora reconhecidos renumeração horaria, mínimo de horas garantidas, ferias, seguro saúde, bônus, ajudas, reembolsos e direitos sindicais.

No dia seguinte à greve, o sindicato Deliverance Milano comemorou esta vitória, que constitui “um importante reconhecimento dos direitos inalienáveis dos trabalhadores” e uma demonstração da eficácia da luta pela justiça social travada nos últimos anos. Mas ele nos lembra que outras negociações estão em andamento, em particular com GlovoDeliverooUber Eats e Social Food, sobre questões relacionadas à contratualização, saúde e segurança dos trabalhadores.

Novas solidariedades

Também muito positiva foi a avaliação feita pelo Riders Union Bologna, que definiu o dia 26 de março como “um grande dia de luta”. Nesta cidade de grandes tradições de luta, a greve dos entregadores foi uma oportunidade para construir novas solidariedades. Algumas categorias particularmente afetadas pela crise, tais como estudantes, trabalhadores das escolas, da logística, da cultura e do entretenimento, mas também espaços sociais autogeridos e redes de mutualização que apoiaram a luta dos trabalhadores de entregas desde o início, juntaram-se à mobilização. Para os militantes, este sucesso é a demonstração do poder de agregação e união da figura do “entregador“, mas também da desconstrução progressiva da ideologia da “gig economy” (termo utilizados nos Estados Unidos para designar a a economia de empregos instáveis e mal renumerados. Refere-se às atividades das chamadas plataformas colaborativas como Uber ou Deliveroo que afirmam trabalhar com o sistema de microempresas), que esconde a exploração do trabalho por trás das falsas promessas de autonomia e auto empreendedorismo.

Os bolonheses estão anunciando novas assembleias para construir uma mobilização a longo prazo e exigir o direito a um salário e condições dignas para todos os trabalhadores. Em um contexto marcado pela reafirmação do bloco burguês por trás da figura do antigo número 1 do BCE (Banco Central Europeu) Mario Draghi, o slogan dos entregadores “Não para nós, mas para todos” poderia assumir uma forma organizacional e política capaz de ganhar as instâncias dos trabalhadores.

Rumo a uma luta internacional contra a uberização do trabalho?

O número crescente de lutas de trabalhadores de entrega em vários países do mundo está levando a julgamentos e medidas que rompem com a mistificação do trabalho autônomo e revelam em todos os lugares um sistema de escravidão e precarização profissional e existencial. As mobilizações também poderiam desencorajar os investidores, como demonstrado pelo colapso do valor de mercado da empresa britânica Deliveroo, que passou de +31% para -26% (a pior IPO da história, segundo a declaração de um analista ao Financial Times). Em fevereiro, a Suprema Corte do Reino Unido declarou o direito a um contrato empregatício para motoristas Uber, mas até agora não para entregadores da Uber Eats. Outros casos similares ocorreram em países como Espanha, Holanda, Argentina e Estados Unidos, onde empresas de economia gigante estão enfrentando numerosas condenações judiciais. Nada está ganho ainda, mas as perspectivas que se abrem em torno das formas de organização internacional dos trabalhadores das plataformas podem constituir uma nova alavanca na luta contra o capitalismo.

Artigo originalmente publicado em L’Anticapitaliste. Reprodução da tradução realizada pela Fundação Lauro Campos.


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