As mentiras de Pazuello na CPI
Cresce a indignação contra o genocídio e as mentiras do governo. Dia 29 de maio, todos às ruas pelo impeachment: Fora, Bolsonaro!
O principal fato político da semana foi o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello na CPI da Covid-19 no Senado. Em conjunto com o depoimento de Ernesto Araújo, a inquirição de Pazuello foi o embate central entre governistas e opositores, acompanhada ao vivo pela imprensa. Enquanto isso, no Brasil real, a pandemia não dá tréguas: a média móvel segue acima dos dois mil óbitos diários por Covid-19 e segue a incerteza sobre a distribuição das vacinas. Ao mesmo tempo, deteriora-se a situação econômica, diante do descalabro do ajuste de Guedes e Bolsonaro, que coloca milhões na pobreza e assiste à fome tomar as cidades do país.
Diante dos senadores e das câmeras de tevê, Pazuello mentiu descaradamente: abriu mão de suas responsabilidades na crise de Manaus e na própria gestão desastrosa na pasta da saúde, após as quedas de Mandetta e Teich. A CPI precisa levar à responsabilização do governo e de Bolsonaro como agentes centrais do genocídio em curso. Apenas com pressão popular, será possível converter a indignação generalizada em luta pelo impeachment.
Por outro lado, a semana também foi marcada pelas denúncias da Polícia Federal contra Ricardo Salles, a chefia do Ibama e sua ofensiva de “passar a boiada”. Aos poucos, escancara-se o que já era óbvio: há um conluio entre órgãos ambientais, madeireiros, grileiros e garimpeiros, que se associaram para desmatar e exportar ilegalmente produtos florestais. A imprensa também destacou, hoje (21), as movimentações financeiras suspeitas da banca de advocacia de Salles durante seu período como ministro.
De frente para o crime
Segundo senadores membros da CPI, Pazuello mentiu 14 vezes durante o seu depoimento. Após conseguir no STF o “direito” de não se incriminar e permanecer em silêncio, o general abusou das mentiras: ignorou documentos e declarações suas que comprovam o conhecimento do ministério sobre a falta de oxigênio em Manaus, mencionou uma suposta invasão hacker para explicar o absurdo aplicativo que prescrevia cloroquina a pacientes, não respondeu sobre as negativas às ofertas de vacinas… Eis apenas algumas de suas declarações no depoimento, em que a todo momento procurou blindar Bolsonaro.
Pazuello, no entanto, reconheceu que Bolsonaro estava presente na reunião que decidiu não intervir na crise do Amazonas no ápice de crise sanitária, quando já faltavam leitos e oxigênio. O senador Eduardo Braga, ainda em 15 de janeiro, propusera a intervenção federal, da qual o governo federal se eximiu. O general ainda atribuiu sua saída do ministério a uma “missão cumprida”, após ter ficado na cadeira por cerca de um ano, período em que morreram quase 300 mil brasileiros. Não surpreende, portanto, que esse personagem tenha sido recentemente fotografado passeando num shopping de Manaus sem máscara, numa afronta direta aos quase 16 milhões de brasileiros contaminados pela Covid-19 e às cerca de 450 mil vidas perdidas nos país.
Enquanto o general debochava da CPI e do país, a imprensa noticiava denúncias de corrupção no período em que esteve à frente da pasta: uma tentativa de reforma de galpões no Rio de Janeiro com dispensa de licitação, utilizando a pandemia como justificativa. A empresa que o ministério pretendia contratar já havia sido denunciada, segundo a reportagem da TV Globo, em escândalos em contratos anteriores com as Forças Armadas.
Por tudo isso, é evidente que a CPI da Covid-19 no Senado deve responsabilizar diretamente Bolsonaro e seus cúmplices no governo. É preciso exigir cadeia para os responsáveis pelo genocídio e impeachment de Bolsonaro, já!
Nossa resposta
Diante de tal quadro, como enfrentar as mentiras deslavadas do governo? Como transformar a indignação em ação? Novos ventos sopram no continente e apontam um caminho. Após a rebelião popular no Paraguai contra a gestão da pandemia, um novo levante já dura semanas: a entrada em cena da luta do povo colombiano. No Chile, por sua vez, o modelo neoliberal que inspira Guedes e Bolsonaro sofreu uma dura derrota na votação constituinte. Eis alguns exemplos que nos servem para encorajar a retomada das mobilizações: processos, como descreveu Vladimir Safatle, de “revoltas moleculares” que tomam a América Latina.
Estamos numa situação complicada por conta do descontrole da pandemia, do crescimento do desemprego e do próprio imobilismo das principais direções políticas e sindicais da oposição, que têm chamado apenas “lives” esperando as próximas eleições. É preciso reforçar a agitação, com cartazes de rua, carros de som e outdoors, combinando a agitação pelo “Fora, Bolsonaro” com a defesa das incipientes manifestações que ocorrem. Assim, apoiamos as greves sanitárias de professores de alguns municípios, dos agentes de saúde de Porto Alegre e dos metroviários de São Paulo, que arrancaram melhores condições de negociação após semanas de descaso do governo Doria. O movimento negro foi às ruas no último dia 13 de maio, denunciando o massacre de Jacarezinho. As universidades responderam ao anúncio de cortes com uma grande passeata da UFRJ e com um dia nacional de lutas em 19 de maio. O clima político e social começou a esquentar.
Por tudo isso, o centro de nossas atividades é a convocatória de um grande ato nacional no próximo sábado (29), com o mote “Povo na Rua! Fora, Bolsonaro”, organizado por boa parte dos movimentos sociais e populares, as centrais sindicais, a UNE, a UBES, a Fenet e o Andes. É hora de transformar a indignação do país em luta pelo impeachment: Basta de genocídio! Basta de empobrecimento! Vacinação em massa, já! Fora, Bolsonaro! Todos às ruas em 29 de maio!