Mais uma vez, parte do destino do Brasil se joga em Angola. Mais uma vez, a Igreja dá as cartas

Gilvandro Antunes analisa a crise entre a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus e o governo angolano e seus desdobramentos no Brasil.

Gilvandro Antunes 17 maio 2021, 19:56

A crise entre a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus e o governo angolano abriu um debate na sucessão presidencial no Brasil para 2022. Na pauta, quem poderá defender os interesses da igreja do bispo Edir Macedo melhor em solo africano: Bolsonaro ou Lula. O que não entrou em pauta foi o papel da IURD em Angola e Moçambique. A crise entre o governo angolano e a Igreja Universal já se estabelece a dois ou três anos, quando essa instituição foi condenada por prática ilegal de culto, fraude fiscal e evasão de divisas. Como no Brasil, as igrejas neopentecostais tentam em solo africano se estabelecer a partir das lacunas de poder e influência da igreja católica entre os mais pobres. A diferença, é que em Angola e Moçambique (de forma mais modesta), a Igreja Universal já se estabelecera desde o início com forte poder econômico. Esse poder, por sua vez, obtido com fartos recursos da população mais pobre no Brasil, generosas legislações protetivas de sua arrecadação e a condescendência das autoridades brasileiras com os crimes fiscais e até comportamentais da igreja, de seus bispos e pastores. Durante muito tempo, é verdade, o crescimento da Igreja Universal contou com o apoio do governo angolano, interessado tanto nas benesses de Edir Macedo, que não eram suas bênçãos, quanto em manter-se ligado aos capitais oriundos do Brasil, sobretudo das empreiteiras. Ocorre, no fundo, que a “bênção” das empreiteiras acabou e o capital da Igreja só aumentou, quando deveria ser o contrário. Mas se Igreja católica angolana perdera muito espaço após a revolução de independência conquistada pelo povo sob a liderança do Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), a IURD crescera com o governo do mesmo MPLA onde a revolução é coisa das festas de comemoração da independência. Ocorre que os governos angolano e moçambicano não querem reza sem capital brasileiro e Bolsonaro, como um típico neocolonialista racista e fanfarrão acha que na África não há desenvolvimento econômico em que o Brasil possa ser parte, aliás a diplomacia do governo Bolsonaro, se é que podemos chamar de diplomacia, só visa os Estados Unidos de Trump e Israel como aliados. Agora, com Biden no poder, só Israel. Durante a bonança econômica que propiciou a exportação de capitais das empreiteiras brasileiras e da Vale do Rio Doce para a África lusofônica Lula foi mais habilidoso, cuidando dos interesses dos grandes empresários atrás de dinheiro africano em primeiro lugar e terceirizando os cuidados da Igreja Universal em solo africano para seus aliados do centrão. Agora, Bolsonaro não faz nenhum nem outro, pois não exporta capitais nem cuida dos interesses de Edir Macedo e Angola. O fato é que de todos os interesses do Brasil em Angola e Moçambique o povo negro não é prioridade, ainda que sob o governo Bolsonaro essa perspectiva seja bem mais aterradora do que um eventual governo Lula. Edir Macedo custou a entender que em um país independente como Angola a fé não move montanhas e sim o capital e Bolsonaro não sabe que, no capitalismo, a principal diplomacia é a do dinheiro na forma de capital. Nisso Lula é muito mais habilidoso e, mesmo que tardiamente, o bispo Macedo percebeu. Lula, não nos enganemos, também percebeu que seus interesses no Brasil passam pela bênção da Igreja Universal.


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