Futebol: ponta de lança da crise nacional
Não queremos Copa América! Queremos Vacina! Todos às ruas nos protestos contra a copa e no dia de lutas unitário no próximo dia 19. Fora, Bolsonaro!
Às vésperas do início da Copa América, o torneio tem despertado controvérsias e colocado o futebol no centro do debate político nacional. A decisão do governo Bolsonaro de sediar o evento, em acordo com a Conmebol, tem caráter político. Depois de a Colômbia desistir de sediar o evento por conta da rebelião de massas que tomou o país, a Argentina, que também sediaria partidas, igualmente anunciou sua desistência por conta da pandemia da Covid-19. Para garantir seus contratos milionários de transmissão e de patrocínios, a Conmebol buscou apoio em Jair Bolsonaro, que busca retomar a inciativa diante da crise permanente e da perda de sua popularidade, para levar o evento ao Brasil, apesar do descontrole da pandemia, que rapidamente se aproxima das 500 mil mortes no país.
Os jogadores da seleção brasileira e o técnico Tite não esconderam sua insatisfação, num contexto de crise da direção da CBF, que levou ao afastamento de seu presidente, Rodrigo Caboclo, envolvido num escândalo de assédio moral e sexual contra uma funcionária da entidade. Bolsonaristas e o vice-presidente Hamilton Mourão chegaram a pedir a demissão de Tite. Durante alguns dias, circulou a hipótese de boicote, por parte da seleção brasileira, da Copa América, o que comprometeria todo o torneio. Ao final, os jogados assinaram um manifesto criticando a realização da Copa América, mas aceitando entrar em campo, o que gerou frustração em muitos.
O episódio, de todo modo, expõe o governo. Bolsonaro sempre fez questão de aparecer com camisetas de time de futebol e tentou trazer o evento como forma de desviar o debate público das revelações da CPI da Covid-19, do golpismo bolsonarista escancarado pelo inquérito do STF e da crise militar das últimas semanas. A camiseta da seleção tornou-se símbolo dos protestos da direita desde 2015. Em 2019, os jogadores confraternizaram na final da Copa América com Bolsonaro. O cenário, agora, aponta mudanças com o descontentamento com a imposição de uma Copa América contestada nas portas da terceira onda da pandemia de Covid-19.
Cresce o mal-estar
Tal como o no ato do último dia 29, quando artistas tomaram posição e foram às ruas, o desconforto, mesmo que tímido, entre os jogadores e as declarações duras contra a decisão do governo de jornalistas esportivos e do público do esporte indicam que o sentimento de mal-estar cresce e está a ponto de generalizar-se na sociedade. Motivos não faltam: a miséria cresce nas grandes cidades; o governo demonstra diariamente sua incompetência e sua sanha autoritária; as promessas de recuperação econômica ainda são miragens para as grandes massas; a falência de pequenos e médios empresários; as evidências criminosas da gestão do meio ambiente; a corrupção generalizada no governo, como as denúncias do chamado “orçamento secreto”; além do estímulo à violência policial, que se manifesta nas brutais operações em favelas e periferias, como a que nesta semana matou a jovem grávida Kathlen Romeu, apenas um mês depois da chacina em Jacarezinho.
A dinâmica pela frente é ainda pior. Especialistas insistem nos riscos da crise hídrica nacional, de caráter histórico, que deve levar a restrições no consumo de energia, além de aumento da inflação com o acionamento de usinas térmicas com produção mais cara. O povo já sente os efeitos do descaso do governo na conta de energia elétrica, enquanto seus ministros e sua base parlamentar articulam a rapina na privatização da Eletrobrás. Não se descarta um novo “apagão” ou racionamento de energia, como o vivido em 2001. Na CPI da Covid-19, os depoimentos de membros e ex-membros do governo cheios de contradições e mentiras são uma ofensa diária ao povo enquanto os números de mortes diárias superam novamente 2,5 mil. A relação do bolsonarismo com as FFAA e polícias militares, após Bolsonaro fazer o comando do Exército manter Pazuello impune, é outro tema sensível que toma o debate do país.
O retorno de ocupações urbanas (como a luta recente em São Caetano do Sul) e a retomada das ocupações rurais, após as grandes manifestações de 29 de maio, mostram que o mal-estar, dentro e fora dos gramados, começa a se expandir em amplas camadas do povo.
Não queremos Copa América: queremos vacina e impeachment!
O calvário da Covid-19 no Brasil não tem fim. Em junho, os números de contágios e mortes novamente escalam. Especialistas avaliam se se está no início de uma terceira onda e o país está próximo de alcançar a trágica marca de meio milhão de óbitos, enquanto o calendário de vacinação segue instável e sujeito a redução semana a semana das expectativas de doses oferecidas pelo governo. As manifestações do dia 29 colocaram a indignação nas ruas. Com muito apoio popular, centenas de milhares se pronunciaram em 200 cidades do Brasil.
Enquanto isso, Bolsonaro arma sua tropa e pretende organizar um grande desfile golpista com motociclistas em São Paulo no próximo sábado. Mas a sanha golpista do bolsonarismo terá uma resposta. Não queremos Copa América! Queremos Vacina! Todos às ruas nos protestos contra a copa em todo o país e no dia de lutas unitário no próximo dia 19. Fora, Bolsonaro!