Sim, nós pagamos por isso tudo

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Gabriela Schmidt escreve sobre o significado da ida do bilionário Jeff Bezos à borda do espaço sideral.

Gabriela Schmidt 21 jul 2021, 12:05

Nestes dias temos visto as exibições dos bilionários da exploração espacial. Depois de Richard Branson com o primeiro voo espacial comercial, pela sua empresa Virgin Galactic, hoje a Blue Origin de Jeff Bezos passou a marca dos 100 quilômetros de altitude. Vimos pela internet o impressionante voo de 10 minutos, pela primeira vez sem piloto e com uma tripulação exclusivamente civil, levando o homem mais rico do mundo à borda do espaço sideral.

Propositalmente há exatos 52 anos da chegada de Apollo 11 à lua, em 2021, não é mais o caso de um salto tecnológico motivado por um interesse público dos Estados Unidos – ainda que guiado por prioridades militares. O acontecimento desta terça-feira é expressivo da nova realidade onde os grandes projetos da humanidade são capturados pelos interesses privados. É nova no sentido de que hoje as Big Techs se tornaram os conglomerados mais valiosos da história do capitalismo[1], com gente como Elon Musk e Jeff Bezos no comando desse império. Mas, esse presente com tons futuristas se apoia nas velhas e às vezes sinistras relações de exploração.

Em muitos sentidos, as tecnologias são conquistas da sociedade para o avanço da humanidade em direção à longevidade, à qualidade de vida e à capacidade de resolver os problemas humanos. Não há nelas nada de intrinsecamente positivo ou negativo. Ao mesmo tempo, não são um objeto qualquer na luta de classes. As implicações sociais do seu uso, especialmente quando apropriada como bem privado, é chave para a reprodução de desigualdades. Chegou-se ao absurdo caricato em que o protagonista espacial de hoje faz o salário anual dos seus empregados mais precários da Amazon a cada 11 segundos[2].

O problema não é só moral (é também!), mas que a corrida espacial desse pequeno grupo de homens bilionários baseia-se na exploração dos conhecimentos científicos e das infraestruturas dos programas do espaço público do século XX e, muitas vezes, de financiamento ou incentivo do governo[3]. Então, além da população ser privada de tais avanços tecnológicos, maquia-se uma certa hipocrisia.

Aliás, na era da nuvem e do sideral, é importante lembrar que por trás das grandes inovações tecnológicas há sempre atividades humanas, do trabalho nas fábricas da Amazon à produção de ciência do espaço. Esquecê-las é fetichismo (4.0).

Os bilionários como Bezos adoram falar pelo destino da humanidade: desejam superar fronteiras, explorar recursos e poluir outro lugar, construir colônias humanas na órbita da Terra e muito mais. Entre eles próprios, não há espaço para todos, disputam para ver quem chega primeiro. Mas, ao contrário disso, o desenvolvimento tecnológico deve estar a serviço dos propósitos da maioria: é necessário a sociedade estar a frente, e que se comece a construir uma utopia justa, de um futuro com viagens ao espaço e extinção de bilionários.


[1] Eugênio Bucci em entrevista para a Folha de São Paulo, sobre o seu livro “A superindústria do Imaginário” (2021). Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/07/pessoas-trabalham-de-graca-para-redes-sociais-afirma-eugenio-bucci.shtml?pwgt=kuy5jl07jsomr47mw7hllqttymtj69wfahl10mm3q2ogfgn6&utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwagift>.

[2] How Long Does it Take Tech CEOs to Earn Your Salary. Disponível em: <https://simpletexting.com/tech-ceo-salary/ >

[3] Crawford, Kate. Atlas of AI: Power, Politics, and the Planetary Costs of Artificial Intelligence, p.  231. New Haven: Yale University Press, 2021


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