Só as ruas podem derrotar o golpismo de Bolsonaro

Só as ruas podem derrotar o golpismo de Bolsonaro

É preciso construir ampla unidade de ação para colocar milhões nas ruas no dia 2 de outubro, atraindo a maioria social que rejeita o governo.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 17 set 2021, 20:24

Nas últimas semanas, as crises social, econômica e política aceleraram-se com os atos de 7 de setembro, a ação dos caminhoneiros, a carta de Bolsonaro e o chamado da burguesia liberal à manifestação do dia 12, levando a um debate intenso em curso no país. A manifestação do dia 7, ainda que tenha ficado longe das expectativas de Bolsonaro, foi uma demonstração de que existe um setor minoritário, mas radicalizado, que está disposto a defender uma saída golpista nas ruas. A expressão de força mais considerável, contudo, apresentou-se no movimento dos caminhoneiros no dia seguinte, atuando como tropa de choque mais radicalizada do bolsonarismo.

O ato do dia 12, convocado pelo MBL, ainda que tenha servido para expor um claro deslocamento no andar de cima – com Doria, Leite e outros passando a manifestar-se pelo impeachment – revelou a fraqueza de convocatória desses setores, o que mostra a dificuldade da chamada “terceira via” e revela, também, poucas condições para que a burguesia liberal anti-Bolsonaro possa impor uma derrota nas ruas contra o plano bolsonarista.

A força acumulada pela unidade entre a esquerda e a centro-esquerda nas manifestações pelo “Fora, Bolsonaro”, em quatro grandes marchas nacionais, foi depreciada pela paralisia das direções, subordinadas à estratégia eleitoral de Lula. As manifestações da esquerda no dia 7 foram mal preparadas e ficaram aquém das jornadas anteriores de luta, a despeito da coragem de quem fomos para as ruas e convocamos sem medo os atos que serviram de contraponto à extrema-direita.

Diante de um cenário tão complexo, amplia-se o desgaste do governo, já verificado anteriormente. De acordo com a última pesquisa Datafolha, a rejeição a Bolsonaro alcança 53% dos entrevistados. A inflação dispara e as condições de vida do povo pioram. É preciso senso de urgência. Neste editorial, apontamos algumas tarefas imediatas para construir a força social necessária para derrubar Bolsonaro.

Aproximações sucessivas

As manifestações do dia 7 e a mobilização dos caminhoneiros são parte de uma estratégia que se pode definir como de “aproximações sucessivas”. A carta redigida por Temer e assinada por Bolsonaro também pode ser vista como parte dessa estratégia, uma combinação de jargão militar com cálculos que orientam o conjunto das iniciativas de Bolsonaro.

Essa estratégia foi também descrita num discurso de Mourão, ainda em 2019, numa reunião com maçons em Brasília. Basicamente, significa avançar em direção a um objetivo, recuar e assentar posição intermediária entre o ponto de partida e o objetivo manifesto. É assim que age Bolsonaro, dando dois passos adiante e um atrás, organizando sua base sem perder o discurso e o horizonte golpista.

Bolsonaro tem como objetivo final liquidar fisicamente o movimento operário e as organizações dos trabalhadores. Neste momento, suas baterias estão voltadas com toda força contra as instituições do regime democrático liberal, particularmente contra o STF, como forma de ampliar sua margem de ação. No entanto, o despreparo de Bolsonaro e de seu entorno são visíveis a olho nu, o que dificulta o sucesso de sua estratégia golpista, ao mesmo tempo em que as várias crises ampliam o isolamento do bolsonarismo na superestrutura e a ruptura de setores de massas com o governo.

A diferença entre unidade de ação e frente única

Bolsonaro quer dar um golpe, o que está de acordo com sua trajetória e com sua associação ideológica e política com a corrente fascista que expressa os porões da ditadura militar, que teve no torturador Brilhante Ustra e no golpista Sylvio Frota expressões importantes. Bolsonaro já deixou claro que busca levar a esquerda ao exílio ou à “ponta da praia”. Por tudo isso, sua ação não pode ser subestimada. O fascismo precisa ser esmagado.

Por isso, nós defendemos uma política de unidade de ação para enfrentar o golpismo bolsonarista. A unidade deve ser pontual, na ação, com quaisquer forças decididas a enfrentar o golpismo bolsonarista e a derrubar seu governo da morte. A construção da frente única, por sua vez, exige um compromisso programático mais sólido e um acordo mais permanente. Em ambos os casos, a condição de nossa participação é a possibilidade de ação independente e de disputa da direção. Outra coisa, diferente, é uma frente eleitoral, como a que propõe Lula, para governar com setores da burguesia e dos partidos tradicionais, acenando para grandes empresários como Josué Alencar e Luiza Trajano. Essa política deve ser rechaçada e não podemos compor projetos de governos de conciliação de classes.

A forja da unidade de ação deve ser feita disputando a orientação para uma linha distinta do lulismo, que não se joga na prática pelo impeachment por seus cálculos eleitorais e pela preferência por enfrentar Bolsonaro em 2022. A unidade de ação, para levar a maioria social às ruas, é a tática privilegiada para o período.

Preparar o enfrentamento

Por tudo isso, os próximos passos da luta pelo “Fora, Bolsonaro” são decisivos. É preciso construir ampla unidade de ação para colocar milhões nas ruas no dia 2 de outubro, atraindo a maioria social que rejeita o governo e construindo uma agenda que toque nos temas mais sensíveis para amplas camadas do povo. Isso significa falar da crise hídrica, do preço da gasolina e da luz; falar do combate ao desemprego e à fome. A mobilização deve apoiar-se também na luta dos servidores públicos contra a PEC 32. Ou seja, uma pauta da maioria social.

Ao mesmo tempo, é preciso ativar as reservas da juventude, vanguarda da mobilização no país nos últimos três anos. Também é necessário construir um chamado às baixas patentes das forças de repressão, separando-as das tentativas de cooptação do golpismo bolsonarista, além de disputar setores médios, como uma parte dos caminhoneiros que é explorada pelas grandes corporações do transporte, do campo e da cidade. Por fim, é preciso atuar no movimento dos trabalhadores, unindo e defendendo as lutas, preparando a autodefesa e um calendário para colocar a classe em movimento, em direção a uma paralisação nacional das categorias.

Entre as datas gerais – dia 2 de outubro e a possibilidade de um 15 de novembro parecido com as “Diretas Já” (um movimento que está sendo articulado) –, defendemos um calendário de protestos, combativos e criativos, com eixo na juventude estudantil e periférica para atuar sobre a situação nacional. O exemplo da luta dos povos indígenas é um caminho. É possível vencer o golpismo: fora, Bolsonaro!


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