Lutar aqui e agora: é um erro fatal aguardar 2022
Ficou evidente, nas últimas semanas, a ação consciente das direções majoritárias da oposição para desmontar o calendário de lutas pela queda de Bolsonaro.
Ficou evidente, nas últimas semanas, a ação consciente das direções majoritárias da oposição para desmontar o calendário de lutas pela queda de Bolsonaro, que havia ganhado força com a retomada das ruas ainda no final do primeiro semestre do ano. Após construir um calendário com atos espaçados, de caráter “domingueiro”, sem conectar com as várias lutas isoladas em curso, o cancelamento sem qualquer discussão da manifestação do dia 15 de novembro foi um aceno para a “troca de agenda” que os setores petistas querem sinalizar.
Questionar a orientação das direções majoritárias da oposição de abandonar as ruas e apostar tudo na eleição não significa deixar de reconhecer as dificuldades de convocatória e mesmo que o impeachment de Bolsonaro tornou-se perspectiva distante. No entanto, abandonar a pressão das ruas é um grave erro. O governo encontra-se enredado numa espiral de novas crises enquanto a inflação corrói os salários e o povo enfrenta um sofrimento inédito.
Apesar de seu “recuo” com a carta de Temer, Bolsonaro busca ganhar tempo, negociando sua filiação partidária e um arranjo que reúna a escória parlamentar venal em sua chapa presidencial, garantindo ao mesmo tempo as condições para aumentar os recursos direcionados a emendas e ao fundo eleitoral, além do programa “Auxílio Brasil”, que amplia os pagamentos do Bolsa Família. Com isso, Bolsonaro pretende assegurar sua passagem para o segundo turno e, depois, apostar no caos para permanecer no poder.
Por outro lado, existem lutas e protestos. Um bom exemplo é a grande marcha da FNL, que partiu de Sorocaba com sucesso, reunindo 1500 camponeses pobres, e deve caminhar por uma semana até chegar a São Paulo. A guerra campal na aprovação do Sampaprev2, na noite de ontem (10), foi uma amostragem da disposição de luta de setores amplos da vanguarda.
É preciso aprender com o passado
O grande risco da política da direção majoritária do PT não é apenas eleitoral. É semear ilusões de que estamos vivendo “tempos normais” e, desse modo, dar fôlego para uma recuperação da popularidade de Bolsonaro, aceitando a (falsa) premissa de que ele é melhor adversário para Lula voltar à presidência. As negociações de Lula com lideranças da direita, como os chefes do mesmo MDB que eram até há pouco chamados de golpistas, e as especulações ao redor de uma chapa presidencial com Alckmin mostram que a direção do PT sinaliza à burguesia e aos cacos do regime político.
De forma alguma está garantida a “estabilidade” para derrotar Bolsonaro apenas nas urnas. Ao contrário, com a tendência inflacionária (os preços da gasolina já superam R$ 8,00 por litro em algumas regiões), analistas já vislumbram até a hipótese de recessão em 2022. Há variáveis ainda abertas, mas nada animadoras para o governo e o país, como a crise energética. Sabemos que Bolsonaro tem um plano: manter bases de apoio pagando o “Auxílio Brasil”, aproximar o centrão e seus batalhões mais fiéis (agro, parte das PMs, direita neopentecostal) para não aceitar a saída do poder. O tempo será de guerra e não de paz.
A responsabilidade do PSOL e da esquerda
Na última reunião da Executiva Nacional, o campo político do qual somos parte fez uma proposta: diante da crise nacional, a oposição e o PSOL deveriam engajar-se em duas campanhas urgentes: a primeira para terminar com a política de paridade de preços internacionais da Petrobrás, retirando a empresa do controle do rentismo e de fundos transnacionais e reduzindo imediatamente os preços dos combustíveis. Ao mesmo tempo, é preciso exigir o retorno do auxílio emergencial de R$ 600,00.
Por outro lado, é preciso seguir a mobilização contra os ataques e os crimes de Bolsonaro. Várias lutas estão em curso no país. Ao contrário de dar “fôlego”, precisamos lutar para que Bolsonaro termine seu mandato atrás das grades. Para isso, é preciso coordenar as lutas que existem, mesmo que atomizadas, como os garis do Rio de Janeiro e os metalúrgicos da Gerdau no Rio Grande do Sul.
Como mencionado, a marcha recém-iniciada da FNL é um exemplo: liderada por Zé Rainha e Diolinda, a marcha chegará a São Paulo no dia 14 de novembro e já é um acontecimento importante para todo estado de São Paulo. Também está em curso a resistência do funcionalismo público no Brasil contra a reforma administrativa na Câmara e em defesa da previdência em várias cidades. As cenas de violência policial contra os servidores municipais em São Paulo, para aprovar a toque de caixa o Sampaprev2, mostram a disposição de ataque dos governos. E em 20 de novembro, as manifestações do Dia da Consciência Negra reunirão milhares de lutadores em todo o país. Este é o caminho para derrotar Bolsonaro e lutar por outro Brasil!