Lutar aqui e agora: é um erro fatal aguardar 2022

Lutar aqui e agora: é um erro fatal aguardar 2022

Ficou evidente, nas últimas semanas, a ação consciente das direções majoritárias da oposição para desmontar o calendário de lutas pela queda de Bolsonaro.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 11 nov 2021, 17:05

Ficou evidente, nas últimas semanas, a ação consciente das direções majoritárias da oposição para desmontar o calendário de lutas pela queda de Bolsonaro, que havia ganhado força com a retomada das ruas ainda no final do primeiro semestre do ano. Após construir um calendário com atos espaçados, de caráter “domingueiro”, sem conectar com as várias lutas isoladas em curso, o cancelamento sem qualquer discussão da manifestação do dia 15 de novembro foi um aceno para a “troca de agenda” que os setores petistas querem sinalizar.

Questionar a orientação das direções majoritárias da oposição de abandonar as ruas e apostar tudo na eleição não significa deixar de reconhecer as dificuldades de convocatória e mesmo que o impeachment de Bolsonaro tornou-se perspectiva distante. No entanto, abandonar a pressão das ruas é um grave erro. O governo encontra-se enredado numa espiral de novas crises enquanto a inflação corrói os salários e o povo enfrenta um sofrimento inédito.

Apesar de seu “recuo” com a carta de Temer, Bolsonaro busca ganhar tempo, negociando sua filiação partidária e um arranjo que reúna a escória parlamentar venal em sua chapa presidencial, garantindo ao mesmo tempo as condições para aumentar os recursos direcionados a emendas e ao fundo eleitoral, além do programa “Auxílio Brasil”, que amplia os pagamentos do Bolsa Família. Com isso, Bolsonaro pretende assegurar sua passagem para o segundo turno e, depois, apostar no caos para permanecer no poder.

Por outro lado, existem lutas e protestos. Um bom exemplo é a grande marcha da FNL, que partiu de Sorocaba com sucesso, reunindo 1500 camponeses pobres, e deve caminhar por uma semana até chegar a São Paulo. A guerra campal na aprovação do Sampaprev2, na noite de ontem (10), foi uma amostragem da disposição de luta de setores amplos da vanguarda.

É preciso aprender com o passado

O grande risco da política da direção majoritária do PT não é apenas eleitoral. É semear ilusões de que estamos vivendo “tempos normais” e, desse modo, dar fôlego para uma recuperação da popularidade de Bolsonaro, aceitando a (falsa) premissa de que ele é melhor adversário para Lula voltar à presidência. As negociações de Lula com lideranças da direita, como os chefes do mesmo MDB que eram até há pouco chamados de golpistas, e as especulações ao redor de uma chapa presidencial com Alckmin mostram que a direção do PT sinaliza à burguesia e aos cacos do regime político.

De forma alguma está garantida a “estabilidade” para derrotar Bolsonaro apenas nas urnas. Ao contrário, com a tendência inflacionária (os preços da gasolina já superam R$ 8,00 por litro em algumas regiões), analistas já vislumbram até a hipótese de recessão em 2022. Há variáveis ainda abertas, mas nada animadoras para o governo e o país, como a crise energética. Sabemos que Bolsonaro tem um plano: manter bases de apoio pagando o “Auxílio Brasil”, aproximar o centrão e seus batalhões mais fiéis (agro, parte das PMs, direita neopentecostal) para não aceitar a saída do poder. O tempo será de guerra e não de paz.

A responsabilidade do PSOL e da esquerda

Na última reunião da Executiva Nacional, o campo político do qual somos parte fez uma proposta: diante da crise nacional, a oposição e o PSOL deveriam engajar-se em duas campanhas urgentes: a primeira para terminar com a política de paridade de preços internacionais da Petrobrás, retirando a empresa do controle do rentismo e de fundos transnacionais e reduzindo imediatamente os preços dos combustíveis. Ao mesmo tempo, é preciso exigir o retorno do auxílio emergencial de R$ 600,00.

Por outro lado, é preciso seguir a mobilização contra os ataques e os crimes de Bolsonaro. Várias lutas estão em curso no país. Ao contrário de dar “fôlego”, precisamos lutar para que Bolsonaro termine seu mandato atrás das grades. Para isso, é preciso coordenar as lutas que existem, mesmo que atomizadas, como os garis do Rio de Janeiro e os metalúrgicos da Gerdau no Rio Grande do Sul.

Como mencionado, a marcha recém-iniciada da FNL é um exemplo: liderada por Zé Rainha e Diolinda, a marcha chegará a São Paulo no dia 14 de novembro e já é um acontecimento importante para todo estado de São Paulo. Também está em curso a resistência do funcionalismo público no Brasil contra a reforma administrativa na Câmara e em defesa da previdência em várias cidades. As cenas de violência policial contra os servidores municipais em São Paulo, para aprovar a toque de caixa o Sampaprev2, mostram a disposição de ataque dos governos. E em 20 de novembro, as manifestações do Dia da Consciência Negra reunirão milhares de lutadores em todo o país. Este é o caminho para derrotar Bolsonaro e lutar por outro Brasil!


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi