Glauber Braga, militante socialista: a voz do programa anticapitalista do PSOL

Glauber Braga, militante socialista: a voz do programa anticapitalista do PSOL

Sobre a necessidade da defesa de um programa independente, radical e anticapitalista

Vinicius Kassouf Lena 16 dez 2021, 13:53

Na última segunda-feira, 13/12, tivemos o debate promovido pela oposição do PSOL na sede da APEOESP em São Paulo. Na terça-feira, dia 14/12, tivemos a divulgação do levantamento Ipec, realizado entre os dias 9 a 13 de dezembro, com 2002 pessoas ouvidas em 144 municípios, em que mostra os 48% de Lula frente aos 21% de Bolsonaro.

Exposto o contexto pontual, somado à profunda paralisia das movimentações de rua pelo Fora Bolsonaro que vínhamos acompanhando desde maio, a militância dita socialista não pode abdicar da defesa de uma proposta que não seja no mínimo anticapitalista.

No debate de segunda, Braga iniciou sua fala colocando as 3 principais críticas à sua pré-candidatura:

  1. A preocupação de seus apoiadores e simpatizantes à saída de seu mandato da Câmara dos Deputados;
  2. A irrelevância de sua candidatura no cenário de polarização entre Bolsonaro e Lula;
  3. A divisão da esquerda ao se colocar como pré-candidato do PSOL.

Ao primeiro apontamento, Braga agradeceu o elogio ao mandato como deputado federal, mas também colocou uma grande preocupação. Preocupação esta que deve ser a preocupação a priori de toda militante e de todo militante socialista: estar à disposição para o que seja necessário a partir daquilo que indicam nas circunstâncias e no momento histórico.

Tal preocupação a priori é fundamental para que nossos militantes não se percam na institucionalidade — como o apego a determinado cargo, por exemplo — e assim possam sempre priorizar pela construção coletiva de um programa, moldando-se às suas necessidades, para que cumpramos com os interesses e anseios reais das classes subalternas das quais pertencemos.

Aos segundo e terceiro apontamentos, Braga apontou a contradição que o leitor mais atento aqui provavelmente já tenha notado: ou a sua pré-candidatura é irrelevante ou divide a esquerda. Não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo.

A contradição da crítica é facilmente notável pois o que está por detrás dela é a fragilidade envergonhada de fazer do PSOL o mais do mesmo. O que está por detrás dela é a cooptação do PSOL, um partido que nasceu do compromisso e da coerência com a classe trabalhadora, ao caráter messiânico de submissão aos “salvadores” eleitorais.

Quem divide a esquerda é a direita que quer fazer com que os nossos, partidos e organizações de luta, não apresentem o seu programa — e é isso que nós não podemos aceitar.” — Glauber Braga.

Onde estão os entusiastas da frente ampla e da frente de esquerda sob a liderança de Lula? Ora, se a preocupação é o fascismo de Bolsonaro, por que acham que ele esperará por 2022 uma eleição acontecer? Ou, pior ainda, por que consideram factível que se submeterá à uma abstração democrática pós-eleições caso derrotado seja? Não deveriam todos ocuparem as ruas e delas não saírem mais até que a “democracia” realmente esteja a salvo?

De repente, a iminência do golpe passou a ser tolerada, e todo discurso preocupado com acordar no dia seguinte em uma reedição de 1964 ou no porão do DOPS se mostrou vazio. E na base do discurso vazio os atos se esvaziaram.

Mais vazios ainda estão os estômagos dos brasileiros. Mais de 116 milhões vivendo com algum tipo de insegurança alimentar — algo muito bem lembrado por Braga no momento anterior à sua apresentação dos pontos de reflexão do Programa — enquanto as direções de partidos e de movimentos da esquerda hegemônica aguardam por 2022.

E é nessa espera por 2022 que Glauber coloca a sua primeira reflexão:

É preciso reverter as privatizações e as contrarreformas sem aderirmos, contudo, à falácia de que basta eleger um Congresso que tenha a maioria naquele espaço para aprovar projetos para a maioria do povo.

O espaço parlamentar se movimenta a partir da mobilização do povo organizado. Não é única e exclusivamente a partir de uma relação que tem de se estabelecer com a institucionalidade eleita — centrão, direita e companhia.” — Glauber Braga.

Esta fala de Braga se mostra completamente compreensível nos acontecimentos recentes na América Latina. Chile, Colômbia e Equador são alguns dos exemplos aos nossos olhos e que são proibidos às militantes e aos militantes socialistas de fazerem vista grossa.

O segundo ponto de reflexão foi a importância dos referendos. A importância dos referendos traz à participação popular a responsabilidade para si, minando a terceirização da responsabilidade para o quadrado institucional.

Se eleito, a intenção de Braga é percorrer todas as regiões do Brasil formando comitês e dialogar sobre a revogação das privatizações e das contrarreformas. Uma ação que seja prioritariamente movimento.

Braga segue com o seu terceiro ponto de reflexão com a universalização da saúde e da educação pública por meio da ampliação exponencial da tributação sobre a rede privada e grandes corporações de ambas as áreas.

Dessa forma, será possível de realizar para a saúde aquilo que Braga está chamando de “SuperSUS”, e garantir também que a educação receba o necessário do orçamento federal para que seu acesso seja garantido em todas as regiões brasileiras.

No quarto ponto, Braga reforça de que é preciso ter lado na história. Não dá para agradar todo mundo.

Para enfrentarmos de fato a fome, é preciso que enfrentemos o modelo de produção e de exploração que é típico do Brasil: o agronegócio exportador. E por isso escolhemos o lado da agricultura familiar e da agroecologia: temos que destruir as estruturas que dão sustentação à concentração da terra e da riqueza do nosso País. É REFORMA AGRÁRIA PRA VALER!

Seguindo com o quinto ponto, Braga coloca algo que é indigesto no debate para a esquerda: a questão da segurança pública. Mais precisamente, o problema do hiperencarceramento.

É preciso trabalhar com a compreensão de que o hiperencarceramento em massa — que é a representação do aprisionamento da juventude negra brasileira — precisa ser enfrentado com o fortalecimento de uma estratégia que ganhe força do ponto de vista do abolicionismo. O hiperencarceramento é um instrumento do neoliberalismo!

O sexto ponto passa pela importância em saber que a luta de classes é atravessada pelo racismo estrutural, pela lgbtfobia, pelo machismo e pelo capacitismo.

Nesse sentido, Braga se coloca à disposição para apresentar propostas de formação de planos conjuntos feitos, confeccionados e colocados em prática por companheiros e companheiras militantes de luta.

E, por fim, o sétimo ponto é a constatação óbvia de que não estamos isolados do mundo.

É prioritário para nós construir uma articulação com os movimentos de outros países da América Latina de caráter anti-imperialista — e isto não pode ser considerado algo lateral para o nosso programa. Afinal, dados os exemplos que demos acima sobre os outros países de nossa América Latina, dialogar com estes países é fundamental para que, além de Bolsonaro, possamos derrotar as estruturas que o levaram ao Poder e que o dão sustentação.

Vemos acumular entre o restante do PSOL o discurso moderado, submetendo-se a uma correlação de forças institucionais que não apostam e nem querem apostar na capacidade de mobilização das massas. E tal submissão é impensável para o militante que se diz socialista.

Militância política e linha de orientação não se constroem a partir de torcida, elas se constroem a partir daquilo que é a nossa preparação para o pior cenário.

Não vamos nos esconder debaixo da mesa e que a esquerda que tem radicalidade política não vai abrir de mão de fazer essa disputa e que tenha como objetivo principal reforçar a nossa independência política e nosso programa.”

— Glauber Braga.

Radicalidade: eis a necessidade histórica que reafirme a nossa independência política e que culmine sobretudo na ampliação do diálogo com a juventude. Temos que estar à disposição do fortalecimento da estratégia socialista!

Viva o Partido Socialismo e Liberdade. Viva aquelas organizações e forças políticas que não transferem ao quadrado institucional todas as nossas expectativas. Viva a luta daqueles e daquelas que não se entregam e que não escolheram o lado fácil da história.” — Glauber Braga.


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