Não olhe para cima: a salvação não está no céu

“Não Olhe para Cima”, filme recém lançado pela Netflix, é o tema da última coluna do ano de Leandro Fontes.

Leandro Fontes 28 dez 2021, 11:55

Nós vamos morrer! Esse é o grito de alerta do novo lançamento da Netflix, o filme “Não Olhe para Cima” pegou como pólvora e acendeu debates sobre o modelo societário dos EUA. O longa-metragem em si não é uma obra-prima como o “Poderoso Chefão” ou um “Cidade de Deus”. Longe disso, porém, assim como “Round 6″ (ou Jogo da Lula),”Não Olhe para Cima” trouxe à tona, com uma linguagem inteligente de um tipo de “besteirol americano” e com um super elenco estrelado (Leonardo diCaprio, Jennifer Lawrence, Rob Morgan, Jonah Hill e Meryl Streep), uma contundente crítica ao sistema capitalista.

O filme de Adam McKay é uma sagaz comédia que, tendo como eixo a defesa da ciência e o alerta para crise climática, incorporou a sátira caricatural do governo norte-americano em tempos de Trump e ao negacionismo como ideologia da direita reacionária. Não é por nada que os personagens do filme são tão parecidos com o bolsonarismo brasileiro, cópia tupiniquim do trumpismo, começando pelo personagem de Meryl Streep, a presidenta dos EUA que é um mix de Trump e Bolsonaro. Mas, as coincidências não param por aí, no filme é possível identificar personagens que se encaixam como uma luva nas figuras repugnantes como a de Carlos Bolsonaro, o empresário Luciano Hang da Havan, o general Braga Netto, entre outros.

Além disso, “Não Olhe para Cima” não poupou críticas – nada subliminares – à imprensa burguesa, o alienante entretenimento midiático, a consciência atrasada e reacionária das altas patentes do exército ianque e os limites das novas ferramentas digitais como whatsapp. Tudo isso estruturado pela ideia da sociedade idiotizada do consumo, da ascensão social, do individualismo e da prioridade das coisas supérfluas em detrimento da vida.

A moral da história, a missão mobilizada pelo governo ianque para deter o cometa que iria aniquilar, num golpe só, o planeta, foi abortada para que o um grande capitalista de uma sofisticada empresa de aparelhos tecnológicos, que financiava as campanhas eleitorais da presidenta dos EUA, personagem de Meryl Streep, lucrasse com outro plano que pudesse adquirir as partículas preciosas do cometa. Mesmo que o significado dessa manobra fosse o risco iminente da extinção da humanidade, os chefes do poder optaram pelo risco. De tal maneira, Adam McKay indo na direção oposta dos clichês enlatados como “Independence Day”, não decepcionou e concluiu a produção estrelada de modo apocalíptico. Quer dizer, o Planeta Terra virou farofa por conta da ganância de um burguês bilionário aliado promiscuamente a um governo negacionista de extrema-direita.

Evidentemente, “Não Olhe para Cima” é uma ficção. Não estamos na iminência da destruição do planeta e da extinção da humanidade. Entretanto, a pandemia demonstra que o negacionismo mata em escala exponencial. Aliás, este é apenas um dos postos avançados e extremados do capitalismo, que produz desemprego, desigualdade social, fome, destruição do meio ambiente, intolerância, guerras, concentração da riqueza para poucos e miséria para muitos. Por isso, esse sistema-mundo precisa ser derrubado e outro deve ser construído em seu lugar.

Todavia, a superação do capitalismo não será obra de uma mão divina no céu após o pedido de misericórdia de pobres mortais. Tampouco o delírio surrealista, como o final irônico de “Não Olhe para Cima”, de um novo começo em outro planeta está sob a mesa. A superação do capitalismo será realizada por ação direta dos trabalhadores que produzem a riqueza do mundo, mas que não detém o poder como classe social. Assim sendo, para salvar o mundo da barbárie, a ciência por si só não é suficiente. É preciso derrotar os expropriadores dos povos e destruidores da natureza. Portanto, retirar o poder das mãos dos capitalistas é uma necessidade histórica da humanidade. Seria exigir demais pedir para que Adam McKay agregasse explicitamente essa posição em seu filme? Talvez sim. No entanto, em tempos de namoro entre Lula e Alckmin, é obrigação dos socialistas agitarem e propagarem essa orientação.

P.S. Por que o general cobrou pelo lanche grátis?


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