Guerra de preços e preço da guerra

Guerra de preços e preço da guerra

Estamos diante de um verdadeiro efeito cascata, com alta generalizada da inflação e corrosão dos salários.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 24 mar 2022, 15:35

As cenas de horror comovem o mundo. A cada dia que passa, mais mortes, mais caos, mais refugiados e mais consequências para os povos de todo o planeta. A alta dos preços é um efeito imediato da guerra na Ucrânia, levando a fortes protestos em várias partes do mundo, como no Iraque, Sudão e Hungria.

Enquanto a Rússia acelera a sua agressão contra a Ucrânia, as bolsas de valores ficam atentas aos preços dos combustíveis, gerando situações inusitadas, como a notícia de uma provável reaproximação comercial entre a Venezuela e os Estados Unidos. Nosso país não está imune à guerra e a crise social, que se arrasta ao longo de todo o mandato de Bolsonaro, dá um salto com a escalada dos preços.

O governo tenta defender o indefensável, no caso do favorecimento de pastores ligados a Bolsonaro por parte do ministro da educação, Milton Ribeiro. Já as castas dos grandes partidos observam e atuam nos prazos das janelas partidárias, com vistas à eleição de outubro. E, diante desse quadro político, o principal problema das famílias trabalhadoras está na alta dos preços, superior à vivida no começo da pandemia.

A disparada

O que primeiro salta aos olhos e ao bolso é a disparada no preço dos alimentos. Para quem faz o supermercado, a diferença em poucas semanas foi gritante. Nas redes sociais, multiplicaram-se “memes” sobre o preço da cenoura que, segundo o IBGE, teve aumento de 55,41% em fevereiro. O mais básico dos alimentos, o pão, diante da escassez de trigo, já supera os R$ 20 por quilo em muitas cidades brasileiras.

A disparada dos combustíveis segue afetando o povo trabalhador e tende a piorar por conta do aumento dos preços do petróleo e da política de paridade de preços internacionais (PPI) da Petrobrás sob controle do rentismo. Após um ano de 2021 de reajustes, em março houve um novo aumento de 18,8% da gasolina, 24,9% do diesel e 16,1% do gás de cozinha nas refinarias.

O efeito da guerra desnuda outra condição estrutural do país, uma profunda decadência. Com uma condição dependente e subordinada no mercado mundial, que Bolsonaro fez questão de aprofundar, insumos básicos não são mais produzidos aqui. Parte da base mais radicalizada do bolsonarismo apenas agora se deu conta da dependência externa da produção de fertilizantes e agrotóxicos, aprofundada pela liquidação das unidades produtoras de fertilizantes pela Petrobrás.

Estamos diante de um verdadeiro efeito cascata, com alta generalizada da inflação e corrosão do salário, além da política de aumento dos juros por parte do Banco Central, que trará mais retração econômica.

Derrubar o PPI é uma necessidade imediata

A pergunta que está na boca do povo é: como fazer para que os preços dos combustíveis não cheguem às alturas? Muitos motoristas e trabalhadores de aplicativos já pensam em deixar a profissão com seus ganhos corroídos pela alta dos preços e pela exploração dos aplicativos.

Na aparência, Bolsonaro demonstra desconforto com o general presidente da Petrobrás, deixando notório o mal-estar que existe no governo com a subida dos preços, sobretudo pela reclamação de parte das bases de apoio ao presidente. Para manter seu discurso, Bolsonaro criticou publicamente o atual presidente da Petrobrás, Joaquim Silva e Luna, mas não toma qualquer medida concreta para mudar retirar o controle das mãos de rentistas e acionistas minoritários que ditam os rumos da empresa para obter pagamentos astronômicos de lucros e dividendos às custas do arrocho sobre o povo brasileiro.

Cabe à esquerda socialista conseguir tocar uma ampla base social, com questões simples para que se entenda como podem cair os preços, limitando o impacto das flutuações dos preços internacionais do petróleo. Para isso, não existe outra saída senão a de derrubar o PPI, que atrela os preços da empresa no mercado brasileiro aos preços internacionais, apesar de boa parte dos combustíveis consumidos no país serem extraídos e refinados no Brasil. É preciso retirar a Petrobrás das mãos dos especuladores.

O que falta para a mobilização?

A situação vai de mal a pior e tende a se agravar, já que não há qualquer perspectiva de melhora no horizonte. É preciso derrotar Bolsonaro e sua agenda, desmascarando suas medidas demagógicas, como o mais recente uso eleitoreiro do auxilio Brasil para oferta de empréstimos consignados.

Ao mesmo tempo, é necessário apontar a insuficiência das direções da oposição, com seu chamado tímido para mobilizações em 9 de abril. Não se pode fazer algo estreito que seja apenas um palanque eleitoral. Temos que construir a unidade entre os setores que foram às ruas no ano passado pelo “Fora, Bolsonaro” – contando também com a mobilização nas escolas e universidades após o retorno às aulas – com os sindicatos petroleiros e setores diretamente atingidos pelo aumento dos combustíveis, como caminhoneiros e trabalhadores de aplicativos. A importante vitória da chapa da esquerda na eleição do sindicato de petroleiros de Duque de Caxias no Rio indica que existe espaço para construir uma unidade com teor combativo. Enfrentar Bolsonaro e o bolsonarismo desde já, nas ruas e nas eleições, construindo um projeto independente e alternativo: eis o papel que devem cumprir o PSOL e a esquerda socialista.


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