As recentes eleições na França
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As recentes eleições na França

Uma análise dos resultados do 1º turno das eleições francesas do último dia 10/04.

Luc Mineto 11 abr 2022, 07:55

De acordo com a última projeção disponibilizada, o segundo turno das eleições francesas será um novo duelo entre o candidato neoliberal Emmanuel Macron (27,6%) e a fascista Marine Lepen (23,0%). O candidato da França Insubmissa (esquerda) Jean Luc Melenchon com 22,3% por pouco não se qualifica.

Atras destes três, tanto a esquerda como a direita tradicional que outrora monopolizavam o campo eleitoral e sofrem uma grave derrota. Nenhum dos seus candidatos consegui alcançar o patamar dos 5% que garante o acesso a reembolso das despesas de campanha. Isso vale para a candidata da direita Valerie Pecresse dos Republicains com 4,8% (ante 20% do Fillon em 2017). Talvez pior ainda a situação da esquerda (que paga anos de compromissos e capitulações desde a eleição de Miterrand em 1981) com os meros 2,3% do Fabien Roussel (Partido Comunista) e os 1,7% da Anne Hidalgo do partido socialista.

O candidato do partido ecologista EELV (Europa Ecologia-Os Verdes), Yannick Jadot (et tem que ter muita boa vontade para o considerar de esquerda) com 4,7% não consegue repetir o bom resultado das eleições europeias.

A extrema direita com três candidatos se reivindicando dela (além de Lepen, tinha Eric Zemmour e Dupont-Aignan) sai reforçada et chega a obter 32,2% dos votos ante 26% em 2017.

O candidato do NPA Philippe Poutou, com 0,8%, realizou uma boa campanha, mantendo um debate sempre fraterno com a candidatura de Melenchon, mas demonstrando sempre a mesma pugnacidade contra o Macron, a direita e a extrema direita e mantendo erguidas as bandeiras do anticapitalismo, antirracismo e internacionalismo.

Mas a surpresa veio do patamar alcançado por Jean Luc Melenchon. Sua candidatura num primeiro tempo limitada aos 10%, acabou decolando nas últimas semanas, nos últimos dias, beneficiando de uma real dinâmica nos setores da juventude, inclusive nas segunda e terceira gerações de migrantes como relata o jornal Liberation: “nos bairros populares fizeram todos a mesma observação: nunca tinham visto tanta gente nas mesas de votação para um primeiro turno das eleições presidenciais. Havia filas”… “Em Nanterre, havia filas alucinantes nas seções eleitorais e, acima de tudo, de pessoas que normalmente nunca encontramos nas seções eleitorais, concordou o sindicalista Mornia Labssi”. Quem quiser avaliar os avanços realizados pela França Insubmissa ao comparar os 22,2% de ontem aos 19,6% de 2017 não pode esquecer que em 2017 a França Insubmissa beneficiou na época do apoio do PC e de parte da militância de EELV.

Essas eleições apontam que o centro de gravidade político da França esta mesmo a direita: de Macron à Zemmour, eles recolheram 2/3 do eleitorado, a metade em benefício da extrema direita. Milhões de pessoas se deixaram seduzir pela extrema direita, que tem a sua disposição partes importantes da imprensa e da mídia, e beneficia do apoio cada vez mais importante da burguesia,

Desde de ontem, tanto Melenchon quanto Poutou deixaram um recado sem ambiguidade: “nenhum voto para a extrema direita, nenhum vote para Marine Lepen”. Mas como em 2017, ainda não declaram apoio ao Macron, afinal a sua política neoliberal, antipopular, suas capitulações frente as derivas da extrema-direita, autoritárias, repressivas, antimigrantes e xenofóbicas trilharam os caminhos pelos quais a extrema direita foi avançando. E a polícia de Macron que mutilou os manifestantes Coletes Amarelos e persegue os migrantes na fronteira com a Itália o na cidade de Calais.
E importante bater a extrema direita no pleito do segundo turno, dia 24. Mas o sistema antidemocrático da quinta república francesa nunca nos será favorável. Para fazer recuar de verdade a extrema direita e preciso não manter ambiguidades sobre suas narrativas, e reforçar a auto-organização dos mais explorados. Sabemos que o racismo recua na medida em que as pessoas sem documentação e as pessoas racizadas se mobilizam. E disso mesmo que precisamos uma mobilização unitária, uma frente única das organizações.

O discurso de Melenchon para os militantes da FI desde as primeiras estimativas foi forte. “Sim, é uma decepção. Mas estamos orgulhosos do trabalho realizado. A luta continua! Enquanto a vida continuar, a luta continuará“, diz o candidato da França Insubmissa. “Nós construímos com nossas mãos tantas vezes sob desprezo e insultos. A única tarefa agora é a do mito de Sísifus. A pedra cai no fundo da ravina, então nós a puxamos para cima. Vocês têm condições de travar a batalha”. Então o líder da FI ensaia uma chamada para a emergência de uma nova geração; “claro, os mais jovens me dirão: bem, ainda não chegamos lá! Mas chegamos muito perto, façam melhor”. A France Insubmissa sai destas eleições como a força hegemônica da esquerda, e passa a ter uma responsabilidade central na organização desta resposta.

Luc Mineto


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