A 4ª transformação não significou uma mudança de modelo econômico

A 4ª transformação não significou uma mudança de modelo econômico

Eric Toussaint entrevistado por Dora Villanueva («La Jornada» – México).

Eric Toussaint 11 maio 2022, 16:33

Cidade do México – A chamada quarta transformação no México, conduzida pelo Presidente Andrés Manuel López Obrador, não significou uma mudança no modelo econômico como tal, apenas alguns ajustes políticos foram feitos que permanecendo dentro dos limites do bem-estar, apesar de existir uma janela histórica para o país exercer sua soberania, segundo Éric Toussaint, porta-voz da rede internacional do Comitê para a Abolição de Dívidas Ilegítimas (CADTM). Sublinhemos que o presidente Andrés Manuel López Obrador, que iniciou seu mandato em 2018 e terminará em 2024, prometeu realizar a quarta transformação do México. A primeira transformação corresponde às primeiras décadas da independência, que foi conquistada em 1821; a segunda corresponde às reformas liberais e republicanas no terceiro quarto do século 19, sob a presidência de Benito Juarez; a terceira ocorreu durante a revolução mexicana que teve início em 1910 e sobretudo ao longo de 1934-1940, durante o mandato de Lazaro Cardenas. A quarta transformação pretendia pôr fim às políticas neoliberais que dominam desde a década de 1980 e retomar e aprofundar as vias encetadas pelas três primeiras transformações. [1]

«Isto não é uma transformação real, é menos desumanidade por parte do Estado», diz o historiador em uma entrevista com La Jornada sobre algumas das políticas implementadas pela atual administração. No entanto, do ponto de vista financeiro, «permanece dentro do mesmo modelo, há pequenas adaptações, mas a lógica não mudou e eu acho que é muito preocupante».

O país perdeu a oportunidade de aproveitar uma «janela histórica para agir de forma soberana», pois com o alto preço do petróleo e a contradição inter-imperialista – esta última entre o capitalismo chinês, russo e norte-americano – o México poderia tomar medidas para nacionalizar e socializar serviços públicos como eletricidade, seu sistema financeiro e de produção, acredita Toussaint.

Ele salienta que, apesar das ameaças feitas pelas empresas de eletricidade, o México está nas melhores condições para mudar seu modelo econômico e nacionalizar seus recursos «se realmente ele quere transformar, senão é mais do mesmo». Esta mudança vai desde pôr fim ao desenvolvimento do país em função da economia americana, até a socialização da banca.

«O México depende de seu vizinho do norte há dois séculos. Se não há transformação mais profunda para alcançar um crescimento mais independente, mais soberano, mais endógeno, então não há transformação», aponta o porta-voz do CADTM.

Acrescenta ainda que, em geral, as economias do mundo estão numa conjuntura que mostra as deficiências do «modelo neoliberal implementado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)», uma vez que, além de cerca de vinte países que estão em inadimplência [pt: incumprimento] parcial no pagamento de suas dívidas, vários outros estão à beira desta situação.

Por exemplo, a Ucrânia, «que tem uma dívida com o FMI de mais de 15 bilhões [pt: mil milhões] de dólares, e como não está em condições de pagar, dada a guerra, chegou a um acordo com o Banco Mundial para receber um crédito de 8 bilhões de dólares para manter os pagamentos», explica o historiador.

«Todos os elementos de uma grande crise estão reunidos, mas uma nova crise de pagamento da dívida ainda não explodiu», adverte ele. Depende de como os bancos centrais dos Estados Unidos e da União Europeia se movimentarem, mas ainda haverá uma saída de capital e várias economias endividadas com a pandemia poderão se desestabilizar, acredita ele.

Neste sentido, é necessário que os países dependam menos da dívida externa e interna através de uma política fiscal justa que tribute as empresas mais ricas e as grandes transnacionais, assim como assegure que a banca seja mantida como um serviço público e não como um negócio. «É muito importante permitir que os agricultores tenham acesso ao crédito a taxas de juros muito baixas», explica Toussaint.

O mesmo com a energia, «para fazer algo melhor do que quando foi nacionalizada», não apenas para dar controle ao Estado, mas «para que os usuários e a sociedade controlem as empresas para evitar a burocratização e os projetos não realmente adaptados à população». Mesmo na produção, promover pequenas unidades mais próximas de onde as pessoas consomem energia para evitar desperdícios.

Fonte: La Jornada, 4/05/2022
Traduzido da versão francesa por Alain Geffrouais


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