Lviv: onde não há guerra, mas se ouve

Lviv: onde não há guerra, mas se ouve

Relato de Alfons Bech desde Lviv.

Alfons Bech 5 maio 2022, 10:48

Cheguei a cidade de Lviv. Formo parte de uma delegação internacional que fará contato com sindicatos, associações civis e de esquerdas. Somos duas dezenas, 24 pessoas. Na delegação há sindicalistas, feministas e ecologistas da França, Estado espanhol, Bélgica, Suíça; representação de partidos políticos da França, Suíça, Alemanha; e parlamentares da Polônia, Dinamarca e Finlândia. Formamos parte da Rede Europeia de Solidariedade a Ucrânia, uma rede que agrupa já 178 nomes de 17 organizações da Europa, 2 dos Estados Unidos e Canadá e várias pessoas.

Durante a viagem de ônibus da fronteira da Polônia até Lviv a prova de existe uma guerra em marcha é precisamente a passagem de um país para outro. Ali se pode ver filas de refugiados, cabines preparadas para recebê-los e algum ônibus com placa de ajuda humanitária. Também há uma grande fila de caminhões que querem entrar na Polônia, parados. Não tenho explicação do porquê.

Na entrada de Lviv vimos o único posto de controle. Mas uma vez já na cidade as ruas aparecem limpas, as pessoas passeiam com normalidade. Chegamos ao hotel e temos o primeiro contato político com a organização anfitriã, o Movimento Social. Trata-se de uma organização que tem um caráter político de esquerda, mas não constituídos ainda como partido político. Dedicam-se a ajudar a resistência, em particular a classe trabalhadora. Oferecem assistência legal a sindicatos, sindicalistas, trabalhadores. Também põem em contato sindicatos e outras associações civis, como feministas, ecologistas ou outras de outros países que querem trabalhar em solidariedade com Ucrânia. Sua composição é de pessoas jovens, muitas delas estudantes e também profissionais e intelectuais.

Nos contam a grosso modo que a situação da classe trabalhadora está completamente condicionada pela lei marcial, a causa da guerra. Estão proibidas as greves; os trabalhadores essenciais podem ser obrigados a trabalhar até 12 horas; a maioria dos trabalhadores do Estado não foram pagos. Os sindicatos aceitam estas duras medidas. Amanhã falaremos com representantes dos sindicatos e saberemos com mais detalhes as implicações da guerra.

A palestra de introdução inclui uma visita ao sótão do hotel, um lugar reduzido com uma cozinha e quatro mesas de jantar onde, em teoria, todos os clientes e empregados do hotel deveriam descer, caso se escute o alarme de bombas. “Isso é o que recomendamos”, nos dizem.

Logo nos levam a visitar Lviv. Uma cidade preciosa que foi centro turístico durante muitos anos por ser bem conservada e cuidado. Hoje o único “turismo” é político e de solidariedade. Kiev, a capital é o centro para as visitas oficiais, de chefes de governo, autoridades de renome internacional. Mas Lviv é um centro mais operativo (e mais tranquilo e apropriado) para poder fazer reuniões, palestras, acordos, sem tanta pressa. Para conhecer melhor o ativismo, pois os que se dedicam a essa relação internacional vivem ou viajam para esta cidade.

O trajeto de ônibus que tomamos nos mostra um detalhe de como é a cidadania de Lviv: como a porta da frente onde se paga está cheia, vemos que sobem pela porta de trás. Imediatamente penso “eles entraram sorrateiramente”. Mas não: dão o bilhete de 10 cópecs ao passageiro do lado e este vai passando até que chegue ao condutor, que também cobra. E não é só isso: às vezes recebe o troco pelo mesmo meio. O companheiro Olivier Besanecot que também observa a operação, comenta “isto em Paris seria impossível”. Eu creio que o mesmo de Barcelona.

Nossa delegação estava prestes a entrar em um bar quando escutamos um som que parece um alarme. Ninguém presta atenção. Nos olhamos entre nós e nos perguntamos: “você ouviu um alarme?”. Todos acenam com a cabeça, mas soa outra vez e as pessoas seguem tomando suas cervejas tranquilamente na rua. Por precaução decidimos entrar no bar.

Falando com um anfitrião, um cientista que tem família e agora se dedica a esta tarefa política, seu rosto muda quando lhe pergunto quando tempo crê que pode durar esta guerra. “Não, nada posso saber. Não depende de nós”. Em muito tempo a resistência Ucrânia teve que amadurecer e assumir tarefas imensas.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi