A caminho do pós-tucanato
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A caminho do pós-tucanato

Definições sobre São Paulo fazem parte de um dos mais importantes capítulos da disputa eleitoral.

Israel Dutra 4 jul 2022, 18:35

A eleição de São Paulo começa a ganhar contornos definitivos. A recente pesquisa Datafolha e a saída do carismático apresentador José Luiz Datena da disputa do Senado vão consolidando o quadro eleitoral. A liderança de Fernando Haddad indica uma confortável chegada ao segundo turno. O cenário sem Marcio França aponta 34% para Haddad, e Tarcisio e Garcia com 13%, empatados na disputa do segundo lugar.

No meio da renhida disputa eleitoral geral, São Paulo é um dos mais importantes capítulos. Faltando três meses para a eleição, os dados estão sendo lançados. Vejamos algumas questões:

  • A importância de São Paulo para Lula. Além da densidade geral do maior colégio eleitoral do país, podemos elencar alguns elementos: 1) Pela primeira vez, o PT pode governar SP; 2) É o laboratório da aliança política com Alckmin e do modelo econômico; 3) neutralizar os tucanos, sinalizando para os mercados;
  • Os efeitos da saída de Datena: foi um revés para o Bolsonarismo, que perde aquele que seria o seu principal candidato. Isso muda o cenário da disputa ao Senado, deixando o caminho livre para a hipótese de Márcio França, na sua esperada composição com Haddad. O pacto entre PT e PSB deve ser celebrado nos próximos dias. Tirar França da disputa pavimenta a estratégia petista para São Paulo correr ao centro, utilizando o peso de Alckmin e França como herdeiros de uma fração dirigente do chamado período do tucanistão (1994-2022);
  • A crise dos tucanos é a crise do PSDB paulista. A retirada forçada de Doria no pleito presidencial foi o retrato acabado da crise orgânica do “tucanato”. Eleito com a força do “Bolsodoria”, em quatro anos o principal nome do PSDB viu seu prestígio derreter. A morte de Bruno Covas, deixando a cadeira da prefeitura nas mãos de um desconhecido e controverso Ricardo Nunes, foi outro golpe duro. A tarefa de Rodrigo Garcia é ingrata. Seu piso é baixo (entre 10 e 12%) e deverá ocupar um espaço bastante congestionado. Conta a seu favor com a máquina do governo, centenas de prefeitos e vereadores a serviço de sua política;
  • O bolsonarismo se arma para uma disputa inédita. Sua posição parlamentar é residual, destacando algumas figuras no parlamento e a prefeitura de uma cidade média, como Bauru, além do setor empresarial mais fidelizado pela extrema-direita, do qual Skaf é seu porta-voz. Tarcisio é do núcleo-duro de Bolsonaro – que não pode fazer alianças tácitas como foi o período de “Bolsodoria”. Tem que ter os seus próprios representantes, para os embates que virão, aventando sempre a possibilidade de não legitimar o resultado das urnas;
  • Estamos às portas de um “pós-tucanato”? O PT e Haddad se deram conta disso e investem num novo projeto. Não à toa, Fernando Haddad é escolhido: um tecnocrata, responsável pela renovação geracional do campo petista. Haddad publicou, recentemente, um ensaio sobre teoria, epistemologia e política, onde não deixa dúvidas sobre suas posições e visão de mundo. É parte do pensamento uspiano, ainda que renovado, que esteve na gênese do projeto do PSDB;
  • A ida de Alckmin para a chapa de Lula foi o maior símbolo dessa unidade. Alckmin e Haddad estiveram juntos para reprimir 2013. Foram derrotados juntos por Bolsonaro, expressando a “Nova República” em crise em 2018. Agora, retornam para um novo experimento político. O ideólogo político do “pós tucanato” é Gabriel Chalita, um dos responsáveis pela costura entre Alckmin e o PT;
  • O caminho para o “pós-tucanato” passa pela Faria Lima. Com Chalita, Walfrido Warde e outras relações do campo empresarial, o banqueiro Gabriel Galipolo, arrancam as bases políticos desse novo projeto;
  • Diante do quadro, confirmando França no senado, a vaga de vice de Haddad está sendo cobiçada por diferentes atores. Boatos na imprensa falam de Marina, PSOL e de Lu Alckmin. É evidente que dentro dessa estratégia de Haddad não cabe o PSOL, mesmo sendo sua ala moderada;
  • A decisão do PSOL, contudo, ainda não foi tomada. A condução da Direção Estadual para definir sua tática é deplorável. Não houve nenhum processo de consulta às bases, salvo uma reunião curta on-line, na qual não foi franqueada a palavra para a militância. Não foi definida a data de uma conferência para votar os nomes. As negociações são levadas a portas fechadas;
  • Ao contrário do quadro nacional, onde a hipótese de Lula vencer no primeiro turno responde à necessidade concreta de derrotar o projeto Bolsonaro, a definição que a direção do PSOL de São Paulo quer tomar para arrastar o Partido para a campanha de Haddad é baseada num pragmatismo;
  • Nós, que levantamos a pré-campanha de Mariana Conti, abrimos mão para uma candidatura que possa ter maioria dentro do PSOL. Isso significa que o campo Semente possa definir sua posição, para que possamos ter uma candidatura independente no primeiro turno, já se comprometendo em votar Haddad no segundo. Na última pesquisa, o espaço à esquerda expresso nas candidaturas do PSTU e PCB chega a 5%. O ideal seria que, em São Paulo, essas expressões eleitorais deveriam sair unificadas, se possível sob a bandeira do PSOL, que tem mais peso e presença política e social;
  • A tática de São Paulo responde à necessidades políticas e sociais. É preciso sinalizar um programa que dialogue com os setores avançados: qual a linha de financiamento das universidades estaduais paulistas, em crise aguda? Será revertida a recente reforma previdenciária dos servidores públicos estaduais? Qual a linha para o metrô de São Paulo? Como debater com as baixas oficialidades da Polícia Militar? Só um programa de ruptura no maior estado do país pode ocupar um espaço necessário para lutar no presente e construir um novo futuro.

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