A construção da esquerda para o estado de Goiás – Uma luta contra o epicentro do conservadorismo

A construção da esquerda para o estado de Goiás – Uma luta contra o epicentro do conservadorismo

Estado é comandado por famílias que detém o poder político e agrário há séculos.

“Um político nunca deve semear ódio ou medo, mas sim a esperança.” (Papa Francisco)

A esquerda, nacionalmente e, até mesmo, internacionalmente, está precisando se reestruturar. Vimos, a partir de 2014, uma onda crescente de partidos de direita e extrema direita chegando ao poder. Uma hipótese apontada seria, possivelmente, a de que a esquerda não tenha mais o discurso cativante que sempre teve ou, apenas, pela ideia de que a política também é movimento e, por isso, vão existir oscilações nas formas de governabilidade. Porém, em alguns estados e países não ocorrem essas oscilações. Um exemplo desses é Goiás, que há anos sofre com o coronelismo no Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual. 

Os governadores de Goiás têm em sua história desde apoio ao golpe de 1964, à lideranças nazifascistas, assim como participantes da conhecida Marcha da Família com Deus Pela Liberdade. Todos com forte poder político no interior do Estado. Não é à toa que o Movimento de Esquerda Socialista (MES) tenha aparecido pela primeira vez em terras goianas há pouco tempo – sendo seu início marcado pela publicação, neste site, do artigo intitulado “Goiás: o epicentro do conservadorismo no Brasil e as alternativas políticas presentes”. 

O Estado está na lista dos mais conservadores do país, com apoio direto a Bolsonaro em 2018 (o atual governador e sua base aliada o apoiaram diretamente). Além disso, apresenta permanência de valores coloniais, coronelistas, cristãos e pecuaristas. Essa última, com uma política de exploração via agronegócio. 

Atualmente, o Estado tem como governador o senhor Ronaldo Caiado. A família Caiado é uma das mais tradicionais e ocupa Goiás desde o século XVII, não apenas com seus latifúndios, mas também politicamente. Esteve presente em quase todos os períodos históricos, com exceção de quando foi retirada do poder pelo interventor de Vargas, Pedro Ludovico Teixeira, no dia 23 de março de 1937. A mudança não foi apenas do representante oficial, mas também da capital, que passou da Cidade de Goiás para a planejada e moderna Goiânia. No entanto, o ideário de modernidade de tal atitude não se refletiu nos costumes, que continuaram moralistas. O poder político, tampouco, mudou: continuou na mão dos conservadores e coronéis.  

Diante de problemas sérios – como o aumento de 50% no número de feminicídios desde 2018, e o 13º lugar do ranking de estados mais perigosos para a população LGBTQIA+ no país –, Goiás não tem transparência, sequer, no fornecimento de seus dados. Isso prejudica áreas estratégicas, às quais poderiam servir para avaliar as políticas públicas. A Segurança Pública  é o setor mais nebuloso, afinal, o lema atual da gestão é (em transcrição ipsis litteris da propaganda governamental): “Agora, ou o bandido muda de profissão ou muda do estado de Goiás”. Nada diferente do slogan do presidente da República, Jair Bolsonaro: “bandido bom é bandido morto”. 

Soma-se a esse cenário uma política de intolerância à cultura popular, com censura a artistas e produtores culturais; mais de oito anos sem concursos públicos e casos escancarados de racismo, como o da ‘Chacina da Chapada’, quando a Polícia Militar matou quatro pessoas da comunidade quilombola Kalunga.   

O que fazer? 

Primeiramente, o que já estamos fazendo: avaliar a atual condição do Estado para apoiar candidaturas que tenham, realmente, projetos de mudança radical, que gritem pelo direito de existir dos corpos femininos, LGBTQIA+, negros e indígenas; que proponham um novo modelo econômico (observando que capital goiana é uma das cidades mais desiguais do mundo).  

Esse programa político anticapitalista transformador é apresentado pelo Movimento de Esquerda Socialista com dois nomes. Na pré-campanha para deputado estadual, Rafael Gomes; e para deputada federal, Mariana Lopes. Ambas as candidaturas trazem pautas urgentes e necessárias para termos um caminho melhor, uma esperança para os corpos marginalizados, para o meio-ambiente, mulheres, lgbtqia+, negros e indígenas. 

É urgente a construção de uma esquerda para o estado de Goiás, marcado, entre outras coisas, também por uma política machista, ao ponto de aprovar com 21 votos favoráveis e nenhum contrário, um Projeto de Lei (PL) que permite aborto em unidades do sistema público de saúde apenas com autorização jurídica – além de ter uma cláusula que dita ainda que, mesmo autorização judicial, o Estado tem o direito de interpor recursos processuais “cabíveis” contra o aborto. Ou seja, além de retirar o direito das mulheres, o Estado ainda pode intervir em decisão judicial em casos de estupro.

Tal projeto é de autoria de um deputado estadual do mesmo partido de Bolsonaro, o PL. A nova lei precisa de sanção do governador mas, vindo de um governo autoritário e conservador, praticamente não existe perigo de não ser sancionado. Por isso, a urgência de um projeto de esquerda que lutará contra essa política violenta.

E existe em Goiás uma esquerda? Particularmente, não acredito que nos espaços de decisão política exista uma esquerda radical nem, minimamente, em crítica direta ao Partido dos Trabalhadores – que enquanto partido organizado, não buscou união dos movimentos de esquerda no Estado ou diálogo com os partidos. Existem casos isolados de parlamentares que se identificam com pautas progressistas, mas uma esquerda orgânica, capaz de mudar os rumos, ainda não existe.  

É urgente uma esquerda radical e socialista para o estado de Goiás, com um projeto de políticas públicas para a classe trabalhadora; pelo direito de existir de todos os corpos; por uma política feminista que seja capaz de barrar projetos de leis machistas e misóginos; de romper com o agronegócio e com o coronelismo, retirando fora a elite goiana, representada por famílias que estão no poder há anos; pelo direito à cultura em suas mais variadas formas de expressão; que dialogue com o movimento sindical. 

Uma esquerda, em suma, libertadora, precisa ser – e está sendo – construída com urgência em Goiás. O povo tem pressa, a elite não! Pelo direito a ter esperança! 


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