Apoio amplo fortalece pluralidade de chapa que concorre ao SindiSaúde-RS
Integrantes da “Lutar e Avançar” visam manter categorias mobilizadas em busca de direitos
Nos dias 22, 23 e 24 de agosto, os 7 mil associados do Sindisaúde-RS – considerado um dos mais atuantes sindicatos do Rio Grande do Sul – irão às urnas para eleger a nominata que comandará a entidade pelos próximos três anos.
O sindicato representa cerca de 70 mil profissionais (da área da saúde e técnicos) que atuam em hospitais públicos, privados e filantrópicos localizados na capital gaúcha, Região Metropolitana, Litoral Norte e parte da Região Sul do estado. A entidade também representa trabalhadores que atuam em clínicas, laboratórios, geriatrias e pet shops, além de autônomos e aposentados.
Duas chapas disputam o voto dos associados. A Chapa 1, “Lutar e Avançar”, representa o grupo que dirigiu o sindicato nos últimos três anos; e a Chapa 2, “Experiência e Renovação”, vêm em oposição. Conforme Etevaldo Teixeira – militante do PSOL, coordenador da Chapa 1 e seu representante na comissão eleitoral -, a ideia era formar uma chapa única, englobando todos os setores da categoria, mas a proposta foi rejeitada pelos oponentes.
“Fizemos reunião para propor que todos os setores vinculados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) fizessem uma chapa de consenso. A CUT concordou, mas um setor da base deles não quis, se articulou e montou a chapa. Essa oposição é totalmente vinculada ao PT, com representação de parcelas do Hospital de Clínicas como principal força de trabalho e alguma representação no Hospital Conceição”, conta.
Já a Chapa 1, liderada pelo eletricista Júlio Jesien, se caracteriza pela pluralidade, segundo o sindicalista.
“Tem gente do PSOL, do PT, sem partido, tudo para garantir que haja a melhor representação política da categoria, com os principais ativistas dos principais hospitais, delegados sindicais. É uma chapa que tem representação do Hospital de Clínicas, Conceição, Ernesto Dornelles, Santa Casa, São Lucas, Cardiologia, Hospital de Canoas, Hospital de Cachoeirinha, Viamão… Temos muita pluralidade. Nossa meta é manter a unidade e a mobilização da categoria”, afirma Etevaldo.
Pandemia x valorização profissional
Mobilizar e unir forças sempre foram palavras-chave no vernáculo das associações de trabalhadores, e a pandemia provou que mais do que discurso, elas precisam tomar funções práticas. Mesmo com risco de vida, os profissionais dos serviços hospitalares não interromperam as atividades e garantir que eles tivessem condições dignas para atuar em prol dos infectados e de seus familiares foi a maior luta da entidade no período.
“Muitos trabalharam horas a fio, sem descanso, porque era um momento de extrema gravidade que vivia o mundo, o país e o Estado. E assim como os trabalhadores não pararam, o sindicato não podia parar, tinha que defender seus trabalhadores, porque uma coisa era trabalhar e outra era estar risco de vida. Então o sindicato começou sua campanha pedindo equipamentos de proteção individual, os EPIs. Porque logo no início da pandemia, não tinha. Não tinha nem fornecedor, tinha que vir da China. E faltava não só aqui, faltava em quase todos os países”, lembra Etevaldo Teixeira.
Meses depois, nova mobilização. Após a produção das primeiras vacinas contra a Covid-19, a mobilização foi para exigir que os profissionais da saúde fossem os primeiros a ser protegidos pelos imunizantes.
“Isso foi uma luta política também, com os hospitais, com o governo, para que chegasse até aquilo. E com o governo negacionista que nós temos, foi uma luta permanente. O sindicato tinha os aplausos da sociedade, mas mais que a valorização moral, a questão material, as condições financeiras dos profissionais precisavam ser defendidas”, diz Etevaldo.
O sindicalista lembra que apesar de as unidades de saúde estarem lotadas nos primeiros meses da pandemia, os funcionários de hospitais públicos – como foi o caso, na Capital, do Hospital de Clínicas, que tem 6 mil trabalhadores, e o Grupo Hospitalar Conceição, com 10 mil.
“Nesse período, a reposição de salário foi parcelada e o governo ainda queria congelar. Foi a mobilização do sindicato que rompeu a lei 173 [Lei Complementar 173/2021, que estabeleceu o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19)] que previa congelamento de salários de funcionários públicos. O sindicato foi para várias audiências de mediação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para que se garantisse a reposição das perdas. Ou seja, a sociedade reconhece os trabalhadores, mas ao mesmo tempo essa valorização não tem reflexo nas condições materiais e de vida. Então essa é a importância do sindicato para os profissionais, até para mostrar como é a vida de um trabalhador que está defendendo a vida todos os dias”, diz.
Nas campanhas pelos servidores no período mais grave da pandemia, quase metade dos diretores do Sindisaúde-RS acabaram contaminados. Quatro chegaram a ser entubados, mas sobreviveram. Se reeleita, a Chapa 1, irá para a quarta gestão. Segundo Etevaldo, a oposição sempre existiu nos últimos pleitos – o que está longe de ser um problema dentro de eleições democráticas. Mas em sua avaliação, é preciso critério para fazer divisões em um cenário político e social em que vivemos.
“É importante que haja representatividade e se a categoria entende que há necessidade de divisão quando se precisa cada vez mais de unidade. Temos uma chapa que conseguiu agregar apoio do PSOL, da CUT, que é petista, através de seus sindicatos e de centrais. É um movimento exitoso que reconhece o trabalho do sindicato na pandemia. Um papel que não foi só para os trabalhadores da saúde, que rompeu sua corporação e foi além. O Sindicato fez parceria com o Sindicato dos Metroviários, e eles foram pioneiros na mobilização pelo Fora Bolsonaro, puxando as primeiras mobilizações em Porto Alegre e, depois, conseguindo agregar muito mais gente”, argumenta, referindo-se aos protestos que, na capital gaúcha, chegaram a reunir 50 mil pessoas.
Na avaliação de Etevaldo, o trabalho desempenhado importante que hoje é reconhecido por diferentes setores políticos e sindicais. A meta é seguir mostrando para a categoria que com unidade, com capacidade de direção se avança na sua politização e na defesa de direitos.