Após representação do PSOL, STF autoriza ação da PF contra empresários bolsonaristas

Após representação do PSOL, STF autoriza ação da PF contra empresários bolsonaristas

Grupo que defendeu golpe de Estado também teve contas bancárias bloqueadas.

Tatiana Py Dutra 23 ago 2022, 16:54

Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a  Polícia Federal (PF) cumpre nesta terça-feira (23/08) mandados de busca e apreensão contra oito empresários bolsonaristas que, em mensagens de um grupo de WhatsApp, defenderam abertamente um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições em 2022. As buscas estão sendo feitas em endereços relacionados ao grupo em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará.

Alexandre de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e relator do inquérito que investiga as ações das milícias digitais, determinou ainda o bloqueio de contas bancárias e das redes sociais de empresários do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens foram revelados pela coluna de Guilherme Amado, do portal Metrópoles. Entre os investigados estão Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.

Sobre o grupo recai a suspeita de que a defesa do golpe também se traduza em financiamento para atos antidemocráticos contra o STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou a pessoas ou instituições que se oponham ao autoritarismo de Jair Bolsonaro.

Na semana passada, as deputadas federais do PSOL Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA) encaminharam representação a Moraes pedindo investigação do caso. Segundo as parlamentares, as postagens são “informações falsas de fraude eleitoral e ameaças abertas ao estado democrático de direito, tendo tido, inclusive, postagens e vídeos retirados das redes sociais por flagrante divulgação de desinformação”.

Nesta terça-feira, Fernanda Melchionna comemorou a ação, embora esteja cética a respeito de punições aos envolvidos.

“Sabemos que os ricos dificilmente são responsabilizados pelos seus crimes no Brasil, mas não podemos negar o peso dessa operação. Acharam que iam atacar as liberdades democráticas sem consequências? Acharam errado”, comentou.

“Defender golpe de Estado é crime, investigação e punição é o mínimo! Defensores da ditadura merecem a lata do lixo da história”, afirmou a deputada Sâmia Bomfim.

As mensagens

A reportagem do Metrópoles acompanhou meses de conversas do grupo de WhatsApp e revelou trechos de algumas delas. Em 31 de julho, Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia e eleitor de Bolsonaro “desde o segundo mandato do ex-capitão” na Câmara dos Deputados sugeriu que o STF não poderia fraudar as eleições após 7 de setembro.

“Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, publicou.

Na sequência, José Koury, dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro, diz preferir uma “ruptura” do que petistas ao Palácio do Planalto.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, afirmou o empresário.

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da Mormaii, aquiesceu com frases como “Golpe foi soltar o presidiário”, “Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição. Já Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, comentou a mensagem de Koury com um emoji que significa “joinha”. André Tissot, do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, foi mais enfático em seu apoio:

“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, afirmou o bolsonarista.

Em outra troca de mensagens, datada de maio, José Koury sugeriu que os empresários pagassem bônus aos funcionários que votassem de acordo com os seus interesses.

“Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal pra todos os funcionários das nossas empresas”, disse Koury.

 “Acho que seria compra de votos… complicado”, respondeu Morongo.

Democracia sob ataque

O deputado distrital Fábio Felix (PSOL-DF) qualificou as palavras dos empresários como uma “grave ameaça a democracia”.

“Esses empresários precisam ser responsabilizados! É uma grave ameaça à democracia e o Brasil não é terra de ninguém que esses absurdos possam ser cogitados sem punição. Se a instituição Governo Federal não funciona, todas as outras estão atentas!”, disse.

A deputada estadual Luciana Genro, presidenta do PSOL no Rio Grande do Sul, resumiu a ação da PF em uma frase:

“Desrespeitar a democracia é crime!”


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