Parlamentares do PSOL repudiam racismo religioso propagado por bolsonaristas

Parlamentares do PSOL repudiam racismo religioso propagado por bolsonaristas

Primeira-dama fez postagem que estimula intolerância contra religiões de matriz africana.

Tatiana Py Dutra 10 ago 2022, 19:17

A Constituição Brasileira prevê a liberdade de crenças e proíbe a intolerância a quaisquer práticas religiosas. Nossa legislação ainda considera crime praticar, induzir ou incitar a discriminação por meio de discurso de ódio ou pela fabricação e distribuição de conteúdo discriminatório, inclusive pela internet. A pena é de um a três anos de prisão, além de multa.

Contudo, o governo Bolsonaro ignora a legislação e, em uma de suas práticas populistas, se aproveita de determinadas crenças para pautar decisões – um acinte em um estado laico – e não se encabula de estimular o preconceito, especialmente contra religiões de matriz africana. Uma recente demonstração disso foi dada esta semana pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tida como principal cabo eleitoral para a reeleição do marido por sua influência entre os eleitores evangélicos.

Dias após afirmar, em um evento religioso ao qual compareceu com o marido, que o “Planalto era consagrado a demônios e hoje é consagrado ao senhor Jesus”, Michelle compartilhou no Instagram uma publicação que afirmava que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “entregou sua alma para vencer essa eleição”.

“O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje, para não ser proibido de falar de Jesus amanhã”, escreveu a autora do texto, da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos-SP).

A postagem compartilhada por Michelle é um vídeo que exibe encontros do petista com lideranças de religiões de matriz africana. Além de endossá-lo, a esposa do presidente Jair Bolsonaro (PL) comenta:

“Isso pode, né! (sic)  Eu falar de Deus, não!”.

Repúdio

A ignorância e o preconceito propagado por postagens como a endossada por Michelle foram alvo de críticas de deputados do PSOL, que denunciam os riscos da Intolerância Religiosa.

“São discursos como esse que fomentam ataques a terreiros e afro-religiosos. Campanha de ódio não pode ter vez nas redes!”, comentou a deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA)

“Intolerância religiosa é crime! A publicação de Micheque, típica do bolsonarismo, estimula o ódio contra os praticantes das religiões de matriz africana e racismo religioso. É preciso condenar esse discurso, que leva à destruição de terreiros e a violência contra seus praticantes”, acrescenta a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

“Michelle Bolsonaro usando de racismo religioso e o preconceito contra as religiões de matriz africana para fazer campanha para seu marido tão racista quanto. Que nojo!”, afirmou o deputado distrital Fabio Félix (PSOL-DF).

Falsa controvérsia não esconde violência

A postagem da primeira-dama foi replicada por uma conta falsa no Twitter, o que gerou controvérsia sobre a autoria do post. Mas o compartilhamento original, do Instagram, é de uma conta verificada de Michelle Bolsonaro. Além disso, a tentativa de criar uma cortina de fumaça não contornou o fato de que o preconceito religioso é prática recorrente entre os bolsonaristas.

O vídeo em questão, inclusive, já foi usado anteriormente para atacar as religiões afro. Em janeiro, um dos vídeos foi manipulado para sugerir que Lula declarava ter uma relação com o demônio. A Coalizão Negra por Direitos chegou a fazer uma representação à Justiça apontando a promoção de discurso de ódio. Como reflexo disso, são os terreiros os maiores alvos de ataques e perseguições de fanáticos. No Distrito Federal, correspondem a 59% dos casos. No Rio de Janeiro, chega a 92%.

Na avaliação do sociólogo Guilherme Nogueira, o racismo religioso remonta aos tempos de Brasil Colônia, porém se amplia com a ascensão política dos fundamentalistas neopentecostais. Seu poder de influência em questões de Estado acabou por neutralizar medidas estatais para combater a violência.

“Ao propor a volta às tradições no cotidiano social em períodos de instabilidade, o que acontece de fato é a propagação de um discurso de ódio, que visa dizimar outras religiões, em especial as afro-brasileiras. Isso tudo é amplificado quando esses grupos conseguem cargos no governo e neutralizam as ações estatais que poderiam ser usadas para reduzir a intolerância”, diz.

Exemplo disso é a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que tinha medidas concretas para combater o racismo religioso, até ser incorporada ao Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos (MMFDH). O Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa e de Promoção de Políticas Públicas para as Comunidades Tradicionais de Terreiro, publicado em 2016, continha ações de promoção de igualdade étnico-racial, além de reconhecer a intolerância religiosa contra religiões afro-brasileiras como expressão de racismo. Atualmente, o documento sequer está disponível na internet. Isso simboliza o desinteresse do Estado em combater a intolerância religiosa.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi