Polícia investiga ameaças de morte contra Sâmia Bomfim
Líder do PSOL na Câmara recebeu mensagem de ódio por e-mail.
A Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito para investigar a identidade do autor de uma ameaça de morte e estupro conta a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Por e-mail, o agressor faz xingamentos à parlamentar, faz menções ao seu peso e ameaçou estuprá-la e assassiná-la na frente de seu filho, Hugo, de 1 ano.
Conforme Sâmia, a mensagem foi recebida na quinta-feira passada e ela decidiu divulgar após episódios semelhantes aconteceram com a ex-deputada Manuela D’Ávila e outras parlamentares.”Acha que vai continuar exercendo este cargo de deputada federal até 2023? Nana-nina-não [sic], sua vadia. Vamos te amarrar e te estuprar na frente do seu filho Hugo e do Glauber”, diz o agressor, referindo-se ao companheiro de Sâmia, o deputado federal Glauber Braga.
A líder do PSOL na Câmara crê que o autor do ataque deseja vê-la “paralisada e rendida”, mas que não dará jamais “esse prazer nem a ele nem a todos aqueles que me atacam diariamente. Me apoio na imensa maioria de pessoas que tenho a responsabilidade de representar na política”.
A denúncia das ameaças às autoridades está de acordo com a Lei de Combate à Violência Política contra Mulheres, estabelecida no ano passado e regulamentada este ano. A legislação estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, acrescentando o crime de violência política de gênero ao Código Eleitoral.
“A violência de gênero não pode ser naturalizada. Essa agressão fascista contra as mulheres na política precisa parar. É fundamental responsabilizar os autores de cada um desses ataques. Mas, ao mesmo tempo, é preciso derrotar quem os estimula. Desde já, agradeço por todo apoio. Seguirei firme, não abaixarei a cabeça e convido todas as mulheres a se levantarem contra o machismo estrutural que busca nos impedir de avançar. Estejam certos: não recuaremos um milímetro sequer”, destaca Sâmia.
Violência afasta mulheres da política
Embora correspondam a 53% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são sub-representadas na política. No ranking da ONU sobre representação política em mulheres em parlamentos, o Brasil figura em 140º lugar. Atualmente, elas ocupam 77 das 513 cadeiras da Câmara de Deputados, e apenas 12 das 81 vagas no Senado.Além do desinteresse de certos partidos em reforçar seus quadros femininos, a sub-representação de mulheres e outras minorias em cargos de poder está relacionada ao ódio ao qual são alvos na internet. Para aquelas que se aventuram, sobreviver na vida pública vem com o ônus de ser ofendida pessoalmente por milícias digitais e nunca avaliada pelo trabalho político. Conforme o Instituto Monitora, as candidatas que concorreram na última eleição recebiam em média 40 xingamentos por dia – só na plataforma Twitter -, a maioria envolvendo moral e aparência física; e o Observatório de Violência Política Contra a Mulher que aponta que 44% das candidatas a cargos eletivos nas Eleições Municipais de 2020 foram vítimas de atos violentos.