Bancada feminina do PSOL barra homenagem a Damares na Câmara
Ex-ministra foi indicada a receber prêmio concedido a mulheres que contribuíram para a defesa dos direitos da mulher e em questões do gênero
A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) tem extensa folha corrida de desserviços prestados ao país. A ex-titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos subaproveitou recursos à disposição da pasta para implementar programas e políticas para mulheres, crianças, adolescentes negros e LGBTQIA+; usou da religião e de sua autoridade de pastora para insuflar uma turba de fanáticos para fazer protestos em frente a um hospital em que uma gestante de 10 anos, estuprada por um familiar, faria aborto legal; e contou histórias horrendas (e mentirosas) sobre crianças torturadas para fins se serem usadas em atos sexuais. Isso só pra ficar em três absurdos.
Paradoxalmente, seu nome foi indicado para a concessão do Diploma Mulher Cidadã Carlota Pereira de Queirós, concedido pela Câmara dos Deputados para mulheres que tenham contribuído para o pleno exercício da cidadania, na defesa dos direitos da mulher e em questões do gênero no Brasil.
A indicação, que partiu de uma colega de partido, a deputada Rosângela Gomes (Republicanos-RJ), foi rechaçada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na Câmara. A resistência maior ao nome veio da bancada do PSOL, com as deputadas Sâmia Bomfim (SP), Talíria Petrone (RJ), Fernanda Melchionna (RS) e Vivi Reis (PA).
“Queria colocar o meu repúdio e o meu lamento pela indicação da senhora Damares como possível agraciada pelo nosso prêmio Carlota. Esse prêmio tem um histórico importantíssimo de homenagem a mulheres que tiveram papel relevantíssimo. A Damares, de longe, não é parte desse seleto grupo que representa milhares e milhões de mulheres brasileiras, porque como ministra, foi uma inimiga das mulheres. Primeiro, por aceitar ser ministra da Mulher em pleno governo Jair Bolsonaro (…), que tem histórico de machismo e de desrespeito, que botou o pior orçamento da história para o enfrentamento da violência contra as mulheres. Quem aceita ser ministra da Mulher de um cara como esse?”, discursou a líder da bancada do PSOL na Câmara, deputada Sâmia Bomfim.
Sâmia afirmou que a atuação de Damares no ministério foi pior e mais perversa do que o próprio Bolsonaro, ao lembrar do episódio em que sugeriu que o problema da exploração sexual de meninas marajoaras seria resolvido com a construção de uma fábrica de calcinhas. Também lembrou do apoio que a senadora eleita deu a Bolsonaro, após o presidente da República revelar que “pintou um clima” com adolescentes venezuelanas em Brasília.
“Fica nosso repúdio e pelo muito para os deputados e deputadas desta comissão que verdadeiramente se preocupam com os direitos das mulheres que não votem nessa sujeita”, concluiu Sâmia.
A deputada Vivi Reis (PSOL-PA) destacou a inexistência de políticas públicas na proteção de crianças, adolescentes e mulheres na gestão Damares Alves.
“As meninas e mulheres da região do Marajó e das regiões ribeirinhas da amazônia vivem em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, são abusadas e exploradas sexualmente, não tem o que comer, não tem condição de sobreviver porque não tem política pública. E por que não tem? Porque não se garantiu orçamento adequado para a execução de políticas públicas nessa gestão que estava como ministra Damares Alves. Como nós vamos agraciar como um prêmio, um diploma emitido por essa Câmara dos Deputados, uma mulher que em vez de proteger o direito das crianças, das adolescentes e das mulheres do nosso país fez justamente o contrário?”, questionou.
As agraciadas
Ao fim da sessão, o rol das mulheres a serem distinguidas com o o prêmio Carlota Pereira de Queirós foram:
Elaine Pimentel – Carmin Feminismo Jurídico
Muna Zeyn – Rede Nacional Feminista de Mulheres, Muna Zeyn
Simone Franceska – primeira comandante mulher do 14º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Barcarena (PA)
Dalva Paes da Silva – presidente do Centro de Estudos e Apoio aos Municípios e Empresas
Erica Veras – promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte
A sessão solene de entrega do Diploma Mulher Cidadã Carlota Pereira de Queirós será realizada no dia 5 de dezembro, às 10h, no Plenário Ulysses Guimarães da Câmara dos Deputados.