Congresso do Partido Comunista Chinês: ficam os problemas – Parte 2

Congresso do Partido Comunista Chinês: ficam os problemas – Parte 2

Publicado originalmente no NPA.

Pierre Rousset 3 nov 2022, 16:13

Xi Jinping releito, ficam os problemas aos quais seu governo vai ter que se deparar. Dois números ilustram o caminho percorrido pela China:

– A China e os Estados Unidos têm mais da metade dos bilionários do mundo. Em 2021, tinha 1.058 bilionários na China (32,8% do total mundial) e 696 nos EUA (21,6%) (Hurun Global Rich List 2021).

– Se verifica também em relação às empresas de acordo com a classificação “Fortune Global 500” (2020). A China lidera com 124 empresas (24,8% do total), seguida pelos Estados Unidos com 121 empresas (24,2%).

Um dinamismo econômico que se esgota

Mas o dinamismo econômico interno da China está se esgotando, de acordo com os seguintes dados, tirados de um artigo da jornalista Helen Davidson (The Guardian, 20 de outubro):

– Queda do crescimento do produto interno bruto. Depois de dobrar de 2012 a 2021, o crescimento está diminuindo drasticamente a ponto de, pela primeira vez em trinta anos, ter ficado abaixo do da região Ásia-Pacífico.

– Desigualdades sociais. Durante o mesmo período, de acordo com dados do Banco Mundial, a renda nacional bruta per capita também dobrou para US$ 11.890 em 2021. No ano passado, o PCC declarou que havia erradicado a pobreza absoluta no país. Entretanto, a desigualdade de renda permanece alta e a epidemia de Covid teve muitas implicações para os trabalhadores chineses, especialmente aqueles que migram para cidades longe de suas aldeias de origem. Com níveis muito baixos de proteção social, os lares devem a economizar o máximo possível. A taxa de desemprego estrutural ultrapassou 5% desde 2019. De acordo com o Escritório Nacional de Estatística, atingiu um nível recorde de 19,9% em 2019 para a faixa etária de 16-24 anos.

– A crise no mercado imobiliário. O setor imobiliário captou uma grande proporção dos investimentos. Segundo a economista Mary-Françoise Renard (The Conversation, 18 de outubro), stricto sensu, ele representa 14% do PIB, mas 30% se incluirmos os setores envolvidos a montante (cimento ou aço, por exemplo) e a jusante (decoração, móveis). Estes setores são altamente interdependentes, o que os torna vulneráveis em caso de dificuldades. Isto é exatamente o que está acontecendo hoje. A urbanização e a necessidade de possuir propriedade para se casar estimularam a demanda, mas também incentivaram a especulação e a superprodução. A crise habitacional tem profundas consequências sociais: muitas pessoas investiram suas economias em apartamentos que talvez nunca sejam construídos ou em novas cidades que permanecerão fantasmagóricas. Ela está afetando todo o setor financeiro e uma crise de dívida ameaça. Os governos nacionais ou locais às vezes intervêm maciçamente para evitar que os desenvolvedores entrem em falência, mas isso não resolve nada.

– A crise demográfica. Ela está surgindo na China, como em grande parte do leste asiático. Apesar de seus melhores esforços, o governo não conseguiu reverter a tendência de queda nas taxas de natalidade; em 2021, caiu para seu nível mais baixo em 61 anos, com os jovens denunciando o alto custo de vida, papéis desiguais de gênero, perspectivas de carreira estagnadas e a falta de serviços de apoio à maternidade. Menos e menos pessoas se casam a cada ano.


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Pedro Micussi