Oposição ao governo na Câmara se movimenta para punir Augusto Nardes
Em áudio vazado em grupo bolsonarista, ministro do TCU anuncia ‘movimento muito forte’ nas Forças Armadas em alguns dias
A antes obscura teia bolsonarista desenvolvida dentro das instituições brasileiras emerge a cada dia, e a mais recente “surpresa” vem do Tribunal de Contas da União (TCU). A jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, publicou em sua coluna de domingo (20), um áudio de teor golpista do ministro Augusto Nardes, endereçado a um grupo de ruralistas via WhatsApp.
“Demoramos, mas, felizmente, acordamos. O que vai acontecer agora? Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo, semana ou duas. Ou talvez, menos que isso, que vai acontecer um desenlace forte na nação. Imprevisíveis. Portanto, a fala desse cidadão é para despertar o produtor rural também porque não adianta só o caminhoneiro trabalhar”, disse Nardes em trecho da mensagem.
No fim do áudio, que conta 8min32s, o ministro diz ter feito sua parte em 2014, quando era presidente do TCU. Ele disse ter alertado a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) sobre o “que ia acontecer no país”. Em 2015, Nardes rejeitou as contas da presidência, indicando as tais pedaladas fiscais que justificaram o impeachment.
“Eles nunca aceitaram o diálogo, eles foram pro confronto e agora é um confronto decisivo, eles vão vir para um confronto que nós todos sabemos quais são as consequências, mas nós tomamos uma decisão importantíssima em 2015, quando eu tive a coragem, em 130 anos, pela primeira vez, de tomar uma atitude de reprovar as contas porque encontramos 340 bilhões em 2015 e 2016, e tudo mostra que vai acontecer novamente”, previu Nardes.
Reações
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) informou que o partido apresentou requerimento para que Augusto Nardes vá à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos. Em entrevista ao SBT Online, a parlamentar comentou a postura do ministro do TCU.
“Os áudios do Augusto Nardes são absolutamente inaceitáveis. Um ministro do Tribunal de Contas da União deveria servir como um juiz, para fiscalizar a boa utilização dos recursos públicos, e não para estimular o golpe, estimular a extrema direita, e estimular a caserna. O que o Augusto Nardes faz, nesse vídeo absurdo, aparentemente distribuído em grupos do Whatsapp, é justamente estimular uma extrema direita autoritária e golpista, que de forma ilegal e anticonstituciona, fazem uma tentativa de defender o golpe militar Então, nós fizemos um requerimento de conmparecimento, de convocação, do ministro Augusto Nardes na Câmara dos Deputados, e o PSOL estará lá para que esses requerimentos sejam aprovados e a gente possa cobrar dele essa postura que é inaceitável”, afirmou Fernanda.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou, na segunda-feira (21) o pedido de afastamento do ministro. Rodrigues solicita a investigação da conduta do ministro e a responsabilização de outras pessoas envolvidas no possível “crime contra a ordem democrática“. Na petição, o senador pede ainda que Nardes deponha sobre todas as informações proferidas em seu áudio, o afastamento provisório do ministro, perda do cargo e suspensão dos direitos políticos, caso a investigação confirme a denúncia.
“Aparentemente, os discursos dessas autoridades, infelizmente, encontram ouvidos e incentivam práticas reprimidas naqueles que não sabem viver em sociedade, uma vez que não conseguem respeitar os mínimos direitos dos seus semelhantes“, diz o documento.
Já o Partido dos Trabalhadores (PT) protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra Nardes, pedindo seu imediato afastamento e a instauração de investigação por pelo menos cinco crimes: violação a instituições democráticas, golpe de estado e ao processo eleitoral, e também acusa Nardes de apologia ao crime, crime de responsabilidade e improbidade administrativa.
Desculpas
Após a divulgação dos áudios, Nardes publicou uma nota minimizando o fato. No texto, disse que “lamenta profundamente a interpretação que foi dada sobre um áudio despretensioso gravado apressadamente e dirigido a um grupo de amigos”. Porém, dada a repercussão, o ministro solicitou um conveniente pedido de afastamento das funções por motivos médicos.
Aliado de Jair Bolsonaro, Nardes era filiado ao PP quando foi indicado ao cargo de ministro do TCU, em 2005. Na trajetória, se destacou por ser o relator do processo que analisou as contas presidenciais da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) que serviram de base para o impeachment em 2016.
O nome do ministro também foi mencionado em uma das delações premiadas da Operação Lava Jato. Em 2018, o ex-subsecretário de Transporte do Rio Luiz Carlos Velloso afirmou que o ministro recebeu R$ 1,2 milhão na corretora Advalor, uma das empresas investigadas. O irmão do ex-subsecretário, Juscelino Gil Velloso, contou que pagou até “mensalidades escolar” para Nardes. A denúncia não prosperou.
Depois, Nardes foi alvo de inquérito sobre o pagamento de propina a integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda. O procurador-geral da República, Augusto Aras, se posicionou pelo arquivamento, que foi ratificado pelo STF em 2019,.