TLS nas eleições do Sinpro
Nos dias 24, 25 e 26 de outubro desse ano realizarem-se as eleições para a escolha da diretoria do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP).
Nos dias 24, 25 e 26 de outubro desse ano realizarem-se as eleições para a escolha da diretoria do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP). A disputa ocorreu entre a “Chapa 1 – Experiência e Luta para os Novos Tempos”, composta por membros da atual diretoria e a “Chapa 2 – Oposição Sinpro”, composta por professores e professoras que atuam nos mais diversos campos da esquerda, inclusive na TLS. Apesar da vitória da chapa de situação, o resultado das eleições mostra o esgotamento de um modelo sindical afinado às demandas patronais e muito àquem às necessidades da classe trabalhadora.
O expressivo resultado obtido pela “Chapa 2 – Oposição Sinpro” (45% dos votos válidos) e a vitória de Lula contra Bolsonaro nas eleições presidenciais evidenciaram que a classe trabalhadora está disposta a reverter o estado de precarização das relações de trabalho. Além disso, os trabalhadores e as trabalhadoras estão mais comprometidos com as lutas do que com as negociações, que muitas vezes não garantem a manutenção nem mesmo a ampliação de seus direitos.
Chapa 1 – um modelo sindical anacrônico
A atual diretoria do Sinpro está no poder desde a década de 80 e jamais havia enfrentado uma oposição formal nas eleições. Nos últimos anos, essa gestão tem desmobilizado politicamente professores e professoras nos seus locais de trabalho, boicotando a atuação dos delegados sindicais. Na última negociação do PLR/Abono, ocorrida em 2021, trabalhadores e trabalhadoras foram expostos em negociações diretas com os patrões, enquanto o Sinpro paralelamente negociava com o sindicato patronal, usando ítens da Convenção Coletiva como moeda de troca. Na ocasião, foi acordado que o Sindicato abria mão da entrada dos seus representantes nas escolas, que poderiam ser substituídos por um quadro de avisos, num sinal de desmobilização política.
O ano de 2022 mostrou como a diretoria atual dialoga ideologicamente mais com os patrões do que com sua própria base. No 8o Congresso de Ensino e Pesquisa do Sinpro-SP, os representantes das entidades privadas de ensino tiveram um espaço privilegiado para propagandear a Reforma do Ensino Médio, fortalecendo o discurso de que a Reforma privilegia as necessidades da classe trabalhadora, quando sabemos que ela obedece às diretrizes das mercadológicas para a Educação. A denominação da Chapa 1 “Experiência e Luta para os Novos Tempos” camufla uma gestão sindical alheia às urgências dos novos tempos, que pedem radicalidade na luta política, protagonismo e autonomia para a classe trabalhadora.
Chapa 2 – Oposição e alinhamento com a base
O surgimento da “Chapa 2 – Oposição Sinpro-SP” remonta a 2017 e é fruto da auto-organização de professores e professoras com um histórico de atuação à esquerda. Naquela ocasião, como resposta à reforma trabalhista promovida pelo governo de Michel Temer e para proteger a Convenção Coletiva da categoria, a base forçou a diretoria do Sinpro-SP a declarar greve. Apesar do movimento ser vitorioso, muitos foram demitidos por causa da sua atuação política e pela ausência de respaldo do Sindicato.
A partir de então, os docentes começaram a exigir que seu Sindicato tivesse uma atuação política focada mais na mobilização política e menos em negociações. O exemplo de descompasso entre a categoria e o Sinpro se deu na questão do pagamento das horas de trabalho tecnológico, já garantida pela Convenção Trabalhista, quando a diretoria insistiu em judicializar as negociações, fragilizando ainda mais as conquistas.
No governo Bolsonaro, diante de um sindicato indisposto à luta política no chão das escolas, os professores e professoras que resistiam em se auto-organizar politicamente se tornavam cada vez mais presas fáceis de seus patrões, que por sua vez se tornavam mais poderosos devido às gigantescas corporações educacionais de capital aberto que começaram a pilhar a Educação Básica brasileira. Em 2020, com a pandemia da Covid-19 e a crise sanitária e laboral gerada por ela em 2020, a condição docente se tornou insustentável e, mesmo assim, a diretoria do Sinpro SP levou meses para convocar uma assembleia.
Nas negociações para que fosse garantido aos trabalhadores e trabalhadoras as mínimas condições de trabalho diante do risco que a Covid19 gerava, os docentes começaram a ser abandonados à sua própria sorte, sem o respaldo por parte do Sindicato. Nas assembleias virtuais subsequentes, cuja dinâmica era imposta de maneira antidemocrática, muitos foram impedidos de participar. Quando a categoria entendeu que atuação da diretoria era insuficiente diante da seriedade da crise, professores e professoras decidiram que era hora de mudar os rumos do sindicato e disputar as eleições de seu sindicato.
TLS – A importância da experiência na luta política
A disputa, refletida no resultado final, seu deu em condições desiguais. A Chapa 1 contou com toda a máquina sindical a sua disposição, que lhe permitiu saber antecipadamente a quantidade de associados e a distribuição de professores nas escolas e organizar-se com antecedência. A chapa contava também com mais recursos econômicos e tempo disponível, pois muitos de seus membros se dedicavam apenas à atividade sindical. A Chapa 2, por sua vez, contava com recursos financeiros muito inferiores e seus membros só podiam se dedicar à disputa nas horas em que não estavam trabalhando em sala de aula. Como não dispunha da estrutura sindical, a chapa contou com a garra e a coragem dos seus membros, o apoio de boa parte da base e a solidariedade de companheiros de luta, como a TLS.
O apoio da TLS foi determinante para o sucesso da Chapa 2. Se por um lado a presença de uma chapa de oposição depois de quase 40 anos foi resultado de um ato de coragem e radicalidade, por outro lado esses mesmos 40 anos resultaram na ausência de tradição de lutas políticas nas eleições do Sinpro-SP. Uma eleição para diretoria de sindicato não significa disputar apenas questões políticas com a categoria, propondo o rompimento com velhas práticas que não mais dão conta da necessidade de uma classe. A disputa de uma eleição requer também disputar a logística do pleito, como definir quais serão os locais de votação, quem serão os mesários, ou escrutinadores e os fiscais
A experiência acumulada pela TLS ao longo de várias disputas sindicais, sua visão sobre a totalidade do processo impediu que a Chapa 2 não se perdesse nos meandros da disputa. O apoio da TLS permitiu a distribuição estratégica dos mesários, que se mostraram essenciais para a garantia da segurança das urnas e sua atuação foi chave para a lisura do processo de apuração.
A presença da TLS não se restringiu às dinâmicas internas do processo eleitoral, mas garantiu lastro político à Chapa 2, através das manifestações de apoio da vereadora por Luana Alves (SP) e da Deputada Federal Sâmia Bomfim. O apoio dessas parlamentares mostrou que a chapa não se resumia às disputas sindicais, mas que estava comprometida com a classe trabalhadora, ao anticapitalismo e às demandas feministas.
No final, a atuação da TLS junto às eleições do Sinpro mostrou a importância dos partidos políticos disputarem os sindicatos, proporcionando aos trabalhadores e trabalhadoras organizados o dinamismo necessário para a promoção dos embates políticos. Em que se pese a vitória da Chapa 1, representante e herdeira do velho sindicalismo, o resultado obtido pela Chapa 2 é o réquiem para o sindicalismo pelego e prelúdio para um sindicalismo que vem da base e que caminha com a base.