Ao MES, o que é do MES
Resposta à Revolução Solidária
Foi com surpresa que nos deparamos com a nota da Revolução Solidária. Uma surpresa desagradável. O texto faz uma série de afirmações com as quais concordamos plenamente. No entanto, sem motivo, demonstração ou prova alguma, atribui ao Movimento Esquerda Socialista (MES) deliberações e autorias que não condizem com a verdade. A nota reivindica a importância de Guilherme Boulos como liderança do PSOL e seu papel na construção do partido, afirmação que consideramos válida e até óbvia. Afirma ainda algo que consideramos importante: não há nenhum sentido na “informação” acerca da possibilidade de saída de Boulos para o PT, o que nos parece útil esclarecer diante da “reportagem” publicada em um jornal de pequena circulação, que, com tal manchete, ganhou repercussão nas redes sociais.
O que nos pareceu totalmente injusto na nota da Revolução Solidária é a tentativa de passar a ideia de que o MES tivesse algum interesse nessa “notícia”, o que é um absurdo. Seria um absurdo fazer esse tipo de alusão, assim como é um absurdo tentar atribuir ao MES plantar algo mentiroso. Não devemos alimentar intrigas, tampouco aceitar calúnias. Esse é o método do stalinismo. Como corrente trotskista, sabemos a tragédia que tal método mentiroso produziu no movimento socialista. Por isso, apelamos aos companheiros da Revolução Solidária que tenhamos respeito mútuo. Divergir é parte do processo, mas a argumentação clara e honesta deve sempre se impor.
De nossa parte, aliás, não trabalhamos com a hipótese de Boulos sair do PSOL. Como muito bem disse nossa deputada federal Sâmia Bomfim, acreditamos que ficar no PSOL, independentemente das decisões que o partido adote sobre a participação ou não no governo, é da vontade do próprio deputado federal recém-eleito, não apenas dos companheiros de sua corrente, uma vez que sabemos do compromisso dele com o programa do PSOL e com a própria militância, que o ajudou a ter mais de 1 milhão de votos na última eleição, sendo o mais votado de São Paulo à Câmara Federal.
A nota da Revolução Solidária também comete outro equívoco. Mas é um erro político, portanto, tem outra dimensão metodológica, de menor gravidade. Aponta que as posições do MES são uma posição de minoria. Não parece ser a realidade. Como não é segredo para ninguém dentro do PSOL, o MES defende que o partido não componha o governo e mantenha uma posição de independência. É uma posição clara e, ao contrário do que diz a nota da Revolução Solidária, tem eco na maioria das correntes que compõem o PSOL, como deve se confirmar na reunião do diretório nacional no próximo sábado. Entendemos que aceitar cargos no governo torna nossa luta por pontos programáticos fundamentais às melhorias para a classe trabalhadora bastante engessada. E qual nosso compromisso maior se não com as causas mais caras ao povo, como o combate à fome, a geração de empregos, a taxação das grandes fortunas e o fortalecimento de políticas sociais que reduzam a miséria? Não foi por outra razão o apoio e o esforço de toda a militância do PSOL para eleger Lula e derrotar Bolsonaro e seu projeto criminoso. Temos certeza de que esse compromisso sustenta nossa unidade.
Respeitamos a posição da Revolução Solidária e do próprio Boulos de querer participar do governo e integrá-lo a partir de cargos. Não vamos fazer notas e mais notas criticando-o por ter dito amplamente em jornais – neste caso, em jornais mais relevantes – que “não devemos dar as costas ao presidente Lula” como se essa fosse a posição do MES. Trata-se de um posicionamento político de Boulos quanto às posições do MES, embora tenhamos uma posição de defesa do governo contra os ataques da extrema direita, o que é o oposto de dar as costas. No entanto, essa posição perpassa o respeito à independência do PSOL e ao seu programa histórico, resistindo a qualquer tentativa de ataque aos interesses do povo, algo sempre à espreita em um governo enormemente amplo, cuja gerência evidentemente está nas mãos da burguesia. E ampliar nossos trabalhos de base, fortalecer movimentos sociais e organizar a representatividade do povo são tarefas já postas no PSOL como prioridades. É assim que defenderemos o governo. É assim que nos municiaremos contra a extrema direita, que se mantém organizada e está longe de ser liquidada.
Assim, é fundamental que o debate sobre este e quaisquer outros temas seja respeitoso entre todos. Não queremos criar animosidades internas com afirmações que não são verdadeiras. Não interessa ao MES levar adiante hostilidades e intrigas baseadas em inverdades ou suposições apócrifas. Evidentemente que isso também não interessa à Revolução Solidária. Respeitar posições e argumentos sempre foi, desde sua fundação, a base do PSOL. Se não nos sustentarmos pela capacidade de debater e divergir com argumentos, estaremos num terreno pantanoso, com riscos graves de sermos inundados pela conveniência perigosa das mentiras. Foi uma nota desrespeitosa com o MES, cuja conduta – e todas as correntes do PSOL devem reconhecer isso – sempre foi de se posicionar claramente e com firmeza na defesa do que acredita.
Nossa confiança é de que os companheiros da Revolução Solidária tenham sido vítimas de uma exaltação momentânea e atuaram sem a devida reflexão, talvez sem a dimensão do que afirmações irreais podem produzir de danoso a um debate político qualificado. No PSOL, o método do diálogo e da discussão elevada por argumentos é o que sempre encontrará terreno fértil. É assim que nosso partido cresceu e seguirá crescendo.