Argentina 1985. Brasil 2023.
Argentina, 1985 fala muito sobre Brasil 2023. E, o que é mais importante: é preciso não esquecer e não perdoar!
Argentina, 1985 é um documentário muito importante para que nosso pais vizinho lamba as feridas de uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina.
Mas é, sem dúvida, um filme mais que necessário para nós aqui no Brasil.
Para o Brasil de 2022 e para o Brasil pós-bolsonaro.
Em 1985 a Argentina havia se livrado de uma das mais sangrentas, hediondas e perversas ditaduras de um mórbido período de ditaduras na América Latina.
Claro que ditaduras trazem em si e por si um germe de perversão mas, essa na Argentina dos anos 1980, superou 30 mil mortos.
Mortos nas condições em que se especializaram as ditaduras latino-americanos: sádicas, bélicas e perversas.
Enquanto no Brasil vivíamos as “Diretas Já” como experiência de uma suposta normalidade pacífica e democrática, no país vizinho rolava um processo muito duro de ajuste de contas.
Com todas a ameaças e temores que os fachos (fascistas, como eles chamam por lá) tentaram impor – a ameaça das armas, do caos, da violência – se realizou um TRIBUNAL que resultou em justiça.
Justiça que por aqui não tivemos e, como resultado vimos, 30 anos depois de tudo que aconteceu por lá, a eleição de um escroque que por quatro anos foi presidente de nosso país, enquanto exaltava torturadores que se deliciavam com mulheres tendo ratazanas enfiadas em suas vaginas.
Entre outras bizarrices.
Já passou da hora de parar de normalizar “bizarrices”.
Já passou da hora do nosso acerto de contas!
“Argentina, 1985” é um filme necessário.
Ricardo Darín, maduro, se apresenta seguro para um script que facilmente poderia parecer óbvio. Não é. Nunca foi óbvio.
A direção de Santiago Mitre é sóbria na medida, e de nenhuma forma isenta.
Nunca piegas e busca não escorrer para o drama, que obviamente existe.
No equilíbrio entre o caos e a barbárie, dá ao espectador o direito acreditar que pode julgar, como nos “Filmes de Tribunal”, numa dinâmica interessante para o público que não está acostumado a “documentários” e que não conhece esse capítulo abominável de nossas histórias.
Argentina, 1985 é um bom filme. Muito bom!
Mas, mais que isso, é um filme imprescindível para o Brasil de inícios de 2023.
Como no filme diz o procurador (e deve ser o que disse nos autos do processo, não sei):
“Sadismo não é uma ideologia política. Nem uma estratégia bélica. Mas uma perversão moral”.
Argentina, 1985 fala muito sobre Brasil 2023.
É preciso assistir.
E, o que é mais importante: é preciso não esquecer e não perdoar!