Diretório Nacional confirma independência do PSOL ante ao governo Lula

Diretório Nacional confirma independência do PSOL ante ao governo Lula

Partido decidiu manter apoio à gestão petista diante dos ataques da direita sem, no entanto, ocupar cargos na nova administração

Tatiana Py Dutra 17 dez 2022, 16:19

Em reunião realizada neste sábado (17), em São Paulo, o Diretório Nacional do PSOL definiu sua posição acerca da participação no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como havia antecipado a líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), prevaleceu a posição da maioria, de não ocupar cargos na nova gestão. A resolução nacional deve servir de parâmetro para os diretórios estaduais estabelecerem sua relação com os governos estaduais.

Em contrapartida, a sigla garantiu apoio à gestão petista quando for atacada pela direita e  especialmente no cumprimento de pautas populares. O PSOL lutará pela concretização das promessas de campanha, como o combate à fome, a geração de empregos, a revogação do teto de gastos, a construção de um orçamento democratico, além de medidas econômicas e sociais como a taxação das grandes fortunas, a taxação dos lucros e dividendos, etc. O compromisso do PSOL ficou estabelecido na resolução “PSOL com Lula contra o bolsonarismo e pelos direitos do povo brasileiro”.

“Consideramos essa uma grande vitória, uma vitória estratégica, não só tática. Embora a resolução tenha um limite de não declarar que o PSOL é independente, ela deixa claro de que o partido vai apoiar o que o governo oferecer de útil para o povo. O partido vai enfrentar a extrema direita e não aceitará a tentativa de deslegitimar o governo – porque temos uma extrema direita golpista -, mas também terá uma posição independente, no sentido de defender a classe trabalhadora. Por não ter compromisso governamental com medidas que não atendam o povo, pelas razões que sejam, como a necessidade de o PT negociar com partidos burgueses por governabilidade. Não aceitaremos medidas de ataque ao povo e, não compondo o governo, o partido garante sua autonomia na prática, para manter posições que sejam claramente de esquerda”, comentou o presidente do PSOL em Porto Alegre e liderança do Movimento Esquerda Socialista (MES), vereador Roberto Robaina.

A decisão do Diretório Nacional era aguardada com muita expectativa pela militância do partido. Nos dias que antecederam o evento, o PSOL viveu um intenso debate acerca dos rumos táticos e estratégicos a seguir. Uma parte desse debate – inclusive, foi levado a público, via imprensa – apresentava, basicamente, duas posições. 

O debate que cruzou o PSOL foi a participação no novo governo, com postos e cargos em ministérios ou órgãos da administração pública. Os defensores dessa ideia – entre eles, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e o deputado federal eleito, Guilherme Boulos – a justificavam pela necessidade de, supostamente, “levar o governo eleito mais para a esquerda”. Mas a maior parte do PSOL alegava a importância de não compor o governo para preservar um compromisso fundante do partido, o de se manter fiel às bandeiras da classe trabalhadora, dos movimentos sociais, por meio da militância e da luta parlamentar. A independência permitiria uma defesa mais clara dessas pautas ante a uma nova gestão que se aliou e agora tem compromissos a cumprir com os setores burgueses mais diversos. 

“Para esse setor do do partido, também não haveria possibilidade de disputar o governo Lula pela esquerda, porque o novo governo já tem uma orientação, que é a dada pelo Lula, pelo PT, em composição com partidos burgueses. O pensamento hegemônico da chapa e da aliança Lula-Alckmin é de uma colaboração de classes sociais que vai no sentido de manter o regime democrárico burguês inalterado, e da exploração da classe trabalhadora como lógica do funcionamento econômico do país. Compor o governo seria comprometer o PSOL”, avalia o vereador, um dos fundadores da sigla.

Esses pontos de vista foram reexaminados na reunião do Diretório Nacional. Favoráveis à participação no governo Lula, as correntes Primavera e Revolução Solidária (liderada por Boulos) acabaram tendo que incorporar, para não perder a maioria, a proposta de não aceitar compor o governo. Já haviam recuado antes, e apresentado que a resolução final do partido incluísse a não indicação de cargos para o governo Lula. Mas a sugestão foi questionada, corretamente, pela Insurgência, corrente aliada deste setor mas que não aceitou tal formulação, já que não vetaria a participação de integrantes do partido por convites, por exemplo. O questionamento teve apoio de outras correntes da chamada esquerda do PSOL, como o MES e o Fortalecer, o que encaminhou a negociação para uma resolução final alinhada com a posição de autonomia do PSOL.

Leia aqui a íntegra da resolução nacional.

(Texto em atualização)


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 12 nov 2024

A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!

Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6x1
A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi