Em entrevista, Sâmia afirma que maioria não quer PSOL no governo Lula
À Folha, líder de bancada projeta resultado de reunião do Diretório Nacional do partido
Em 17 de dezembro, o Diretório Nacional do PSOL baterá o martelo sobre compor ou não o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Porém, segundo cálculos da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), a tendência é que o “não” prevaleça. Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, essa opção já reúne maioria dentro do partido.
“A gente quer ter liberdade para se posicionar como o PSOL sempre se posicionou, como a ala à esquerda no Congresso Nacional, e vocalizar pautas que a gente sabe que ninguém vai pautar”, diz Sâmia à coluna. “Temas relativos a direitos humanos, por exemplo, é muito comum que não sejam pautados em função de acordos feitos com fundamentalistas, com setores mais conservadores. A gente quer manter a independência para seguir pautando. Essa é a nossa vocação no Parlamento”, continua.
Entre parlamentares que apoiam a proposta estão os deputados federais Talíria Petrone (RJ), Glauber Braga (RJ), Erika Hilton (SP) e Fernanda Melchionna (RS).
“Apoiaremos o governo Lula nas boas lutas a favor do povo. Mas sem abrir mão da nossa independência política. O PSOL não compactua com a tal ‘governabilidade’ e nem pode estar refém das amarras do poder”, sustenta Fernanda.
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e o deputado federal eleito Guilherme Boulos (SP) são a favor de que o partido ocupe cargos no novo governo, tanto que fazem parte da equipe de transição de Lula. Para Sâmia, essa participação comprometeria a integridade da posição do partido sobre diversos temas. A postura independente da sigla foi traduzida, recentemente,por sua recusa em apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara, mesmo com apoio do PT e de outros partidos do campo democrático que apoiaram Lula.
“A estrutura de governo é muito sedutora. Não é um aspecto moral ou individual, mas ela molda a posição, ela molda a ideologia partidária. A gente acha que se o PSOL se enveredar por esse caminho agora, pode perder um pouco da sua função, da sua existência”, acrescenta.
Apoio com independência
Sâmia rebate críticas de que o PSOL tenha intenção de fazer oposição intransigente ao PT ou se alinhar à oposição, depois de ter ajudado Lula a vencer as eleições.
“A gente vai estar na linha de frente para garantir que o programa do Lula possa ser aplicado no Brasil. Mas a gente sabe que, pela própria composição [com outros partidos] que foi necessária ser feita, em especial no segundo turno, podem ter muitos temas com os quais a gente discorda”, afirma.