Moradores de Campinas protestam contra projeto de reurbanização
Em abaixo-assinado, mudança no zoneamento do bairro Barão Geraldo vai sobrecarregar infraestrutura e meio-ambiente de toda a cidade
As chuvas de verão também cobram seu preço nas metrópoles. Ontem (27/02), a cidade de Campinas foi atingida por uma forte tempestade. O córrego da Avenida Orosimbo Maia transbordou e várias regiões ficaram alagadas.
Na Vila Itapura, um motorista ilhado dentro de seu veículo precisou ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros. Em uma escola da Cidade Jardim, estudantes precisaram subir em cadeiras quando as salas de aulas inundaram.
Para a vereadora Mariana Conti (PSOL), os efeitos da chuva são sinal do descaso da prefeitura em fazer os investimentos necessários em infraestrutura. E o futuro pode ser ainda pior, segundo ela, caso o prefeito Dário Saadi (PSDB) leve a cabo seu projeto de facilitação de grandes empreendimentos imobiliários.
“É o caso do PIDS em Barão Geraldo, o adensamento do Centro e no entorno do aeroporto. É uma cidade voltada para a especulação imobiliária e não para os moradores”, denuncia.
A criação do Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável de Campinas (PIDS) vem gerando polêmica no bairro Barão Geraldo. Trata-se de um projeto que altera o zoneamento de uma área de 17 milhões de m2, implantando um modelo urbanístico com novos modelos de moradia, negócios na área de ciência e tecnologia, serviços, lazer e cultura. Na prática, isso significa comprometer 10 milhões de m2 de área verde que terão o zoneamento modificado para permitir a implantação de grandes empreendimentos. Mais 5,6 milhões de metros quadrados seriam adicionados ao perímetro urbano de Barão Geraldo, cujo casario ganharia a vizinhança de prédios de sete andares e de uma tal “torre sem limite de pavimentos”.
Parte da comunidade acredita que o projeto compromete o bioma e a situação da região, e também antecipa problemas viários, de saneamento e infraestrutura pública com os novos empreendimentos e o aumento da população.
“Nossos centros de saúde serão ainda mais sobrecarregados, aumentarão os problemas de trânsito e não há nenhuma proposta de melhoria e manutenção das áreas já urbanizadas”, diz o grupo de moradores, que criou um abaixo-assinado para se contrapor ao projeto.
Especulação imobiliária
O projeto do PIDS foi apresentado no ano passado e segue em discussão pública desde então. Segundo a vereadora, iniciativas como essas beneficiam grandemente os especuladores, dispensados até dos custos que grandes empreendimentos costumam gerar a um município. Isso porque, há cinco anos, a prefeitura concedeu isenção da outorga onerosa pelo direito de construção. A prefeitura já admitiu que a benesse gerou um rombo no caixa, mas não divulgou nenhum levantamento do montante que poderia ter sido arrecadado no período.
“Os problemas da população de Campinas, como a melhoria dos serviços públicos, a garantia de direitos básicos como moradia e alimentação e a preservação do meio ambiente são deixados de lado enquanto há um esforço gigante de entregar o município na mão dos especuladores. Chega! O PIDS em Barão Geraldo trará impactos que serão sentidos em toda a cidade, além de reafirmar uma lógica excludente que permeia todo o município, inclusive em outros projetos novos em outras áreas”, argumenta Mariana Conti.