PSOL vai pedir prisão de vereador gaúcho por fala racista e xenófoba
Em discurso na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, parlamentar ofendeu trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão na serra gaúcha
O PSOL do Rio Grande do Sul vai solicitar ao Ministério Público a prisão em flagrante do vereador Sandro Fantinel (Patriota) de Caxias do Sul, pelo crime de racismo. Nesta terça-feira (28/02), o parlamentar usou o plenário da Câmara de Vereadores para ofenderos trabalhadores baianos contratados para a colheita da uva na serra gaúcha, e que acabaram sendo submetidos a situação análoga à escravidão. O grupo de mais de 200 pessoas foi resgatado na última quarta-feira, em Bento Gonçalves, durante ação do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF).
“Com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente, que isso sirva de lição”, disse Fantinel no discurso racista e xenófobo.
Na fala, o parlamentar ainda sugeriu que agricultores, produtores e empresas agrícolas da região contratassem “trabalhadores argentinos”, que seriam “limpos, trabalhadores, corretos”
Presidente do PSOL-RS, a deputada estadual Luciana Genro anunciou que o partido também pedirá a cassação do parlamentar.
“É inaceitável esse discurso de ódio, que expressa um pensamento escravocrata, preconceituoso e intolerante. O vereador quer justificar o injustificável, que é o trabalho escravo. Precisa ser preso e ter seu mandato cassado e nós vamos lutar por isso”, disse Luciana.
Voz corrente
Os trabalhadores resgatados foram contratados da Oliveira & Santana, empresa que terceiriza mão de obra para a vindima. A empresa presta serviços para grandes vinícolas, como Salton, Aurora e Garibaldi, além de mais 23 propriedades rurais do segmento.
As más condições as quais os resgatados foram submetidos causaram escândalo em todo o país, mas no Rio Grande do Sul, em especial na Serra, não faltam vozes dispostas a transferir às vítimas a culpa pela ilegalidade. O Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) divulgou nota na qual assevera que suas associadas são inocentes, que desconheciam as práticas da Oliveira & Santana. A culpa, para o CIC-BG, são dos programas sociais como o Bolsa Família, já que não havia mão-de-obra em volume necessário para o trabalho da colheita e transporte da uva.
“Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade. É tempo de trabalhar em projetos e iniciativas que permitam suprir de forma adequada a carência de mão de obra, oferecendo às empresas de toda microrregião condições de pleno desenvolvimento dentro de seus já conceituados modelos de trabalho ético, responsável e sustentável“, diz trecho da nota.
Os trabalhadores escravizados pelos inocentes da serra gaúcha vieram da Bahia com promessas de salários em torno de R$ 3 mil. Porém, tal valor nunca era pago. O grupo recebia o vencimento com descontos referentes a compras de alimentos no mercadinho local, além de multas. Submetidos a jornadas exaustivas de mais de 17h, eram alocados em alojamento insalubre, sem higiene ou segurança e alimentado com comida estragada. Além disso, sofriam ameaças e agressões com armas de choque e spray de pimenta.