Vereadora de Campinas lança campanha Escola sem Fascismo
Proposta de Mariana Conti visa a qualificação de docentes para combater ideologias extremistas, enquanto parlamentares de direita tentam impor militarização das escolas
Parlamentares de esquerda da Câmara de Vereadores de Campinas tentam barrar a criação de uma Frente Parlamentar da Escola Cívico-Militar. O requerimento de autoria de Nelson Hossri (PSD) seria votado no último dia 8 de fevereiro, mas a apreciação foi adiada por falta de quórum.
A militarização de escolas públicas é tema de debates recorrentes pelo menos desde 2019, quando o município foi indicado pelo governo federal para receber uma unidade cívico-militar na Escola de Ensino Fundamental Odila Maia Rocha de Brito. O processo acabou suspenso pelo Ministério da Educação (MEC) em abril de 2020, por conta dos prazos necessários para consulta pública e questões burocráticas que envolveriam a implantação. Também pesou na decisão a forte resistência de pais, alunos e docentes.
No ano seguinte, porém, o assunto voltou à tona na Câmara, por meio de proposta do vereador Major Jaime (PP). A Casa chegou a definir os integrantes de uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para analisar e discutir a militarização. A proposta, porém, não prosperou.
Em janeiro de 2022, na abertura da gestão do prefeito Dario Saadi (PSDB), o novo secretário de Educação de Campinas, José Tadeu Jorge, descartou a possibilidade de adotar o modelo cívico-militar na rede de educação básica do município. No entanto, disse não se opor à ideia de o governo federal construir uma unidade extra para esta finalidade.
Vereadora do PSOL, Mariana Conti qualifica como “esdrúxula” a retomada dessa pauta por parlamentares de extrema direita e da base do governo municipal na Câmara. Segundo ela, há debates mais urgentes relacionados à Educação, e a frente não é uma delas.
“Essa gente acha que a escola cívico-militar é a solução para todos os problemas. É uma proposta esdrúxula de militarizar todos os aspectos da vida, inclusive a educação. As experiências que a gente tem visto em estados e municípios que militarizaram perceberam que isso gera muitas violências. São inúmeros os casos de abuso de poder, de violência contra estudantes, professores e de assédios, todos por parte dos militares, que não têm o papel de educar. Quem educa são os professores, os educadores, que precisam ser valorizados, e não os militares. Vamos enfrentar esse debate porque queremos uma escola com democracia, respeito e sem violência”, defende a vereadora.
Campanha Escola sem Fascismo
Presidente da CPI Antifascista da Câmara, Mariana se preocupa com o recrudescimento do nazismo na Grande Campinas que pode, sim, afetar as escolas. O relatório da comissão identificou 16 núcleos regidos por ideologias nazistas e fascistas na região – que exercem forte impressão entre os jovens, especialmente os brancos de classe média.
Desde 2018, a cidade tem registrado casos de agressões e ameaças promovidas por grupos radicais. No ano passado, um grupo de motoqueiros cujas roupas continham insígnias fascistas desembarcou em um bar próximo à moradia estudantil da Unicamp onde era realizada uma festa de forró. Armados, atacaram e ameaçaram pessoas de origem africana que trabalham no bar.
Na manhã de segunda-feira (13/02), um adolescente de 17 anos jogou uma bomba de fabricação caseira em uma escola de Monte Mor, vizinha a Campinas. O rapaz, que usava uma suástica em um uniforme de inspiração militar, ainda portava um revólver e uma machadinha. Apesar do susto, ninguém se feriu. O jovem foi apreendido.
Para Mariana Conti, os discursos de ódio da extrema direita, que tentam militarizar as escolas ou impedir o pensamento crítico, favorece episódios dessa natureza. Por isso, ela acaba de lançar a campanha Escola Sem Fascismo. A proposta prevê a qualificação dos profissionais da Educação para atuar na prevenção e no combate ao discurso de ódio e apologia ao nazismo, fascismo, neonazismo, neofascismo, integralismo e ideologias similares.
“Queremos construir uma educação antifascista, livre da extrema-direita que promove a violência e atentados terroristas. A nossa atuação na CPI Antifascista nos trouxe a urgência desse tema e os eventos recentes só reafirmam essa necessidade. Aos que incentivam a violência, diremos em alto e bom som: Não Passarão! Vamos varrer mais esse entulho do legado nefasto e fascista deixado por Bolsonaro “, propõe a vereadora.
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