Carta de Dora María Téllez, ex-comandante guerrilheira nicaraguense
A combatente histórica expressa sua gratidão ao movimento internacional de solidariedade contra a ditadura nicaraguense.
Savannah, Georgia 6 de março de 2023
Queridas amigas e amigos:
Escrevo para expressar minha gratidão pela carta pública que vocês assinaram, preocupados com minha situação na prisão e exigindo minha libertação, assim como a das demais presas e presos políticos nicaraguenses. Enquanto estive na prisão, recebi notícias, por meio de meu irmão, sobre a generosa solidariedade que vocês demonstraram.
Cada assinatura e cada atividade realizada atingiu as grades daquela cela e junto com a resistência da maioria dos nicaraguenses conseguiram abrir a porta de metal que se fechava sobre nós, possibilitando nossa libertação, uma vitória sobre a opressão em que o regime da família Ortega Murillo mantém a Nicarágua. Fui acusada e condenada por fazer uso da liberdade de expressão que a Constituição da Nicarágua concede a cada cidadão.
Fui submetida a um julgamento sumário, com provas falsas e sem direito a defesa. Cada presa e preso político passou por um caminho semelhante. Fomos submetidos a um sistema carcerário de total privação e quatro mulheres estivemos em regime de isolamento durante vinte meses. Agora, duzentas e vinte e duas pessoas estamos livres, embora tenhamos sido banidas e nossas nacionalidades arrancadas de nós, junto com outros 94 nicaraguenses. Nossas famílias são assediadas e a pensão que recebíamos foi cancelada.
Nos cárceres continuam 37 presos políticos, entre eles o Bispo de Matagalpa, Monsenhor Rolando Álvarez. Graças a gestos como o de vocês, duzentos e vinte e duas pessoas, temos a oportunidade de nos recuperarmos para continuar lutando por uma Nicaragua com democracia, oportunidades, equidade e paz. Por tudo isso, muito obrigada do fundo do meu coração.
Abraços,
Dora María