Greve, bloqueios e manifestações: a França erguida contra a reforma do sistema previdenciário do Macron
Uma análise dos últimos dias da mobilização da classe trabalhadora francesa contra a reforma da previdência.
Escrito a partir de matéria de Fabienne Dolet publicada dia 8 no site do Noveau Parti Anticapitaliste.
Apesar das mobilizações recordes, o governo francês insiste e persiste em impor a sua reforma das aposentadorias. A tramitação da lei entre Assembleia Legislativa e Senado está sendo conduzida a toque de caixa sem verdadeiros debates: o objetivo do governo é “fechar” o assunto até o final de mês de março, no mais tardar. É só lembrar que quarta-feira, no rescaldo das imensas mobilizações sacudirem a França, foi o dia em que os senadores aprovaram o famoso artigo 7 da lei, aquele que trata da extensão até os 64 anos. Após este trâmite a promulgação da lei então só dependeria da caneta nervosa do presidente Emmanuel Macron.
Mobilizações sem precedentes dia 7 de março
No site do NPA, Fabienne Dolet faz o balanço das mobilizações do 7 de março: “os números das manifestações de rua de 7 de março mostram que eles eram pelo menos tão fortes, se não mais fortes, do que nos dias de janeiro e fevereiro. Nas grandes cidades, os desfiles foram eram sempre densos e compridos: 700.000 em Paris, 245.000 em Marselha, 120.000 em Toulouse, 100.000 em Lille, 75.000 em Nantes, 53.000 em Grenoble, 50.000 em Lyon, 40.000 em Rennes, 37.000 em Clermont-Ferrand. Em cidades de médio porte e pequenas cidades, os desfiles bateram novamente recordes de público: 45.000 em Cherbourg, 30.000 em Le Mans e Nice, 28.000 em Rouen, 25.000 em Toulon, 20.000 em Châteauroux e Lorient, 18.000 em Angoulême, 15.000 em Saint-Nazaire, 10.000 em Valenciennes, Auch e Lannion, 6.000 em Calais, 4.000 em Aurillac e 2.700 em Lisieux!”
Dia 8 de março, pelos direitos das mulheres
Em Paris, dezenas de milhares manifestaram e houve mais de 150 iniciativas feministas na França para incluir o direito ao aborto na constituição, contra as violências sexuais e sexistas e a contrarreforma das aposentadorias que só vai piorar a situação das mulheres que já tem aposentadorias 40% inferiores às dos homens.
Dia 9 de março nas universidades
A participação da juventude, estudantes e secundaristas, está sendo observada desde as primeiras manifestações de janeiro. Nesta quinta será um dia de mobilização nas universidades onde o tema da contrarreforma das aposentadorias entrara com outras reivindicações especificas como a reforma das bolsas e do “restaurante universitário por um euro”.
“Greves renováveis”
Varias greves renováveis foram lançadas nos setores da energia quimica, da eletricidade e dos transportes entre outros, Começaram dia 7 e 8, e a recondução deve ser avaliada hoje (quinta-feira, 09/03)
A greve continua firme nas refinarias tanto do grupo TotalEnergies como do grupo ExxonMobile, nenhuma gota de combustível sai. Por enquanto, os postos continuam sendo abastecidos a partir de estoques intermediários, mas o combustível começa a faltar, em particular no Oeste da França.
Os grevistas da EDF (concessionária de energia) assumiram o controle de partes das centrais nucleares, térmicas ou hidrelétricas e tiraram 15 000 megawatts da rede na tarde de ontem (8 de março), um número recorde. Caso pouco comum, na usina hidrelétrica de Marckolsheim, no rio Reno, os trabalhadores bloquearam a eclusa associada e pararam a navegação na maior artéria fluvial do oeste europeu por mais de 40 horas. Cortes seletivos são frequentes e operados pela iniciativa de trabalhadores da Enedis (principal distribuidor), como num deposito da Amazon, ou na cidade do próprio ministro do trabalho.
Nos transportes, todos os sindicatos da SNCF (companhia pública do transporte ferroviário) decretaram a greve renovável e o movimento está reduzindo a operação, com somente um trem de cada três estava rodando quarta. Situação similar na RATP (o metrô de Paris) onde somente entre um quarto e metade do serviço está mantido.
A greve dos agentes portuários através da operação “portos mortos” levou ao bloqueio dos portos de Marseille, Brest, Le Havre, Rouen, La Rochelle, Bayonne. A renovação da greve deve ser reavaliada esta quinta.
Os três incineradores de detritos de Paris estão parados: um por manutenção, mas os dois outros pela greve. O que fez um grevista piadista dizer “Macron não quer nos ouvir, ela vai ter que nos cheirar!“
Amplificar a mobilização
Voltando à matéria de Fabienne Dolet, “a batalha ainda não terminou, a próxima semana promete ser decisiva. A renovação da greve é agora uma estratégia coletiva na qual devemos confiar para que o governo se curve. Convencer as pessoas a se mobilizarem, permanecer mobilizadas, estender-se a outros setores diante da injustiça e da regressão social desta reforma e das políticas de Macron é a tarefa dos próximos dias“.
“O dia 8 de março foi anunciado como um dia sem precedentes de convergência das mobilizações feministas e das lutas contra esta reforma previdenciária. Nos próximos dias, sem esperar, devemos amplificar, continuar, bloquear. Podemos dar um impulso a esta dinâmica. Porque depois do dia 7, a prova está feita de que o movimento não está se atolando. Os dias 8 e 9 de março devem ser a ocasião para fazê-lo ampliar, e então vamos continuar e não desistir. Nós venceremos!”