Extrema direita, ataque às escolas e o novo ensino médio
Nesses tempos difíceis e dicotômicos que vivemos, uma afirmação é certa: a extrema direita se articula para atacar os pilares da democracia e a educação.
Os sucessivos ataques que vimos nos últimos meses em escolas de São Paulo, que culminou com a morte na última semana da professora Elisabeth, evidenciam a escalada da violência no ambiente escolar. A morte é o auge dessa violência, mas no Brasil inteiro somam-se casos de intimidação aos profissionais da educação e entre alunos.
É preciso dar um basta, mas para isso, precisamos refletir de forma honesta como proceder nessa situação de intimidação.
A escola como reflexo de uma sociedade violenta
A sentença aqui é óbvia: o ambiente escolar carrega para si as contradições da sociedade. E podemos considerar uma das contradições mais alarmantes, que recai sobretudo nos mais pobres, a questão da violência. Estamos falando de uma população que está cada vez mais acostumada a conviver com um grau abusivo de violência no cotidiano, seja ela estatal ou oriunda de algum poder paralelo. E para violência abusiva não ser o estopim de uma rebelião que coloque os oprimidos em revolta, ela precisa também ser ideologicamente naturalizada. Essa é basicamente a trilha comum de uma sociedade burguesa.
Mas nos últimos quatro anos, com a ascensão do bolsonarismo, nós temos vivenciado uma escalada dessa violência também no âmbito institucional. Isso porque o bolsonarismo, enquanto projeto autoritário de poder, não pode credibilizar as instituições ou mesmo as regras vigentes. Afinal, são parte de uma sociedade distorcida, que o projeto autoritário que se apresenta como novo, quer eliminar.
Dessa forma os direitos das minorias, as liberdades de pensamento, as formas de convivência em sociedade e o respeito mútuo, passam a ser empecilhos para a construção desse novo futuro. E a construção dessa perspectiva autoritária precisa ser necessariamente violenta, pois precisa romper com todo o acúmulo da sociedade anterior, forçar setores sociais ao retrocesso.
A violência deixa de ser algo meramente disruptivo de uma sociedade problemática e passa a ser um método de resolução de conflitos e de diferenças. Esse comportamento foi largamente incentivado pelas maiores autoridades do país nos últimos quatro anos. E podemos observar claramente a escalada desse método nos mais variados ambientes.
A extrema direita nas escolas
É evidente que a educação pública experimenta um processo de sucateamento. Faltam professores, funcionários e boa parte das escolas têm estrutura precária. Um ambiente de abandono, propicia a violência. Mas esses são velhos elementos conhecidos dessa equação, o que há de realmente novo é o avanço da extrema direita no Brasil.
Em apenas três anos as células nazistas cresceram 300% no Brasil. Estrategicamente, tem como política de crescimento o recrutamento de jovens, que em linhas gerais, possuem um perfil de classe média baixa. Muitas vezes vêm de famílias problemáticas, áreas violentas e vivenciam algum tipo de opressão. Esse perfil não é à toa, afinal, são jovens que não possuem motivos para amar a atual sociedade, mas para odiá-la. E o ódio é o principal combustível da extrema direita.
Esse jovem cada vez mais sem direitos, sem qualquer perspectiva de futuro, sem confiança no Estado que sempre lhe oprimiu e descrente dessa sociedade que lhe causa tanta dor, só pode ser um alvo muito fácil para a cooptação de um projeto ideológico autoritário. As células fascistas e nazistas, vão proporcionar alguma explicação equivocada do por que tanto sofrimento e em seguida vão ensinar a redirecionar o seu ódio a alguma minoria.
Logicamente que em casos graves como os que aconteceram em São Paulo, existe a necessidade de que medidas judiciais e administrativas sejam tomadas. Mas isso não vai bastar. Nós estamos diante de um problema que é estritamente social e político. Que precisa de ação no âmbito investigativo, para desmontar essas células criminosas, mas precisa de mobilização social. Debater largamente o que está acontecendo no Brasil e atacar as condições que engendram a reprodução de uma ideologia violenta. Toda a categoria da educação precisa estar preparada para esse embate, afinal, são um dos alvos prioritários no processo de expurgo.
O novo ensino médio é mais um gol a favor do fascismo
Aqui nesse ponto o debate é bem simples. Pegue um jovem que cresceu em meio a violência, graves contradições sociais, privação de direitos e também material. Tendo uma vida difícil e sacrificante. Possivelmente alvo de preconceito e discriminação por toda uma vida. Não lhe ofereça a oportunidade de explicar do ponto de vista histórico e sociológico, as razões para essa contradição tão latente em sua vida. Não lhe ofereça a oportunidade de explicar a formação social absolutamente desigual desse país, não lhe ofereça a chance de explicar a divisão da sociedade em classes sociais e quem são os verdadeiros inimigos que temos que derrotar.
Ao invés disso, prepare-o não para uma perspectiva de que essa sociedade pode ser transformada, mas para uma lógica de adaptação a uma sociedade trágica como a nossa. Onde se esvai a possibilidade de um futuro melhor, não apenas para si, mas todos os seus. A escola quer preparar esse jovem para a sociedade como ela é. Assim o problema deixa de ser a formação social e seu funcionamento, passando a ser uma questão de adaptação individual.
É exatamente isso que o novo ensino médio se propõe a fazer. Preparar jovens que sejam funcionais para essa sociedade de exploração, sem oferecer qualquer compromisso no âmbito da ética. Isso não somente é extremamente perigoso, como é absolutamente funcional ao fascismo.
Desse jeito, derrotar o novo ensino médio é uma das tarefas prioritárias no conjunto do que temos que fazer no âmbito educacional, para enfrentar a ascensão da extrema direita