Mónica Baltodano se reuniu com Celso Amorim, principal assessor de Lula
Foto: Cortesía

Mónica Baltodano se reuniu com Celso Amorim, principal assessor de Lula

Ex-comandante guerrilheira denunciou no Brasil a ditadura de Ortega e a crise política nacional aos partidos políticos PSOL, PT, PDT e PSB
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26 abr 2023, 12:53

Publicado originalmente no El Confidencial. Tradução: Júlio Pontes.

A ex-comandante guerrilheira Mónica Baltodano denunciou a crise de direitos humanos e democracia que sofre a Nicarágua com a ditadura de Daniel Ortega, para representantes de partidos políticos, ministros e outras personalidade do Brasil, entre elas Celso Amorim, assessor principal de assuntos internacionais do Governo Luiz Inácio Lula da Silva. 

“Enfatizei que considerava importante que o Sul jogue um papel beligerante em relação a Nicarágua, porque esta situação não é um problema só da Nicarágua, afeta toda região. O que Ortega faz é um mau exemplo para os Governos, sobretudo da América Central, pelo que o Brasil e a liderança de Lula estão chamados a encabeçar um processo para pressionar a Nicarágua a voltar aos canais democráticos”, destacou. 

A historiadora exilada na Costa Rica, que viajou a convite do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e do Comitê de Solidariedade Brasileira com Nicarágua, lembrou a Amorim que, nos anos oitenta, surgiu a iniciativa do Grupo Contadora, por parte de diferentes Governos da região, e logo se negociaram os Acuerdos de Esquipulas, que favoreceram a transição democrática na Nicarágua. 

Lula quer ser “ponte”

Baltodano realizou também encontros com membros do Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Movimento Esquerda Socialista (MES), que é uma corrente política do PSOL. 

“Alguns dirigentes do PT, particularmente os dirigentes históricos, acreditam que a razão pela qual Lula não condena de maneira direta nos últimos tempos estas violações de direitos humanos” é porque quer jogar um papel conciliador ou de ponte. No entanto, esta postura não poderá ser mantida diante da falta de disposição de Ortega. 

“Há quem pensa dentro do PT, e nós pudemos constatar, que para que o Brasil pudesse jogar esse papel teria que haver um sinal, uma mostra de Ortega nessa direção. E como Ortega está fechado, é provável que não queira se abrir por esse caminho. Então, o PT e Lula, em particular, teriam que reconsiderar sua posição de guardar silêncio frente a tanta brutalidade e tanto atropelo”, explica. 

Nos encontros com os partidos políticos, Baltodano conheceu posturas de repúdio a violação de direitos humanos cometidas por Ortega, mas também grupos que pensam “que o que está ocorrendo na Nicarágua é a continuidade ou a segunda fase da Revolução”.

Além disso, a ex-guerrilheira constatou que setores de direito do ex-presidente Jair Bolsonaro usam a imagem de Ortega, como Governo de esquerda, para debilitar seus opositores. “Há uma ênfase do bolsonarismo em querer assimilar Ortega às pessoas de esquerda no Brasil, e semear o medo de que a esquerda no Brasil faça o mesmo: as perseguições aos sacerdotes, a imprensa livre, as organizações sociais, como fez Ortega”, disse.

Entre estes grupos políticos há vários que tem condenado as violações aos direitos humanos e crimes de lesa humanidade cometidos pela ditadura. O MES foi um dos grupos que participou da caravana que tentou entrar na Nicarágua para constatar a situação dos presos políticos.

Acolhimento a “apátridas” é bom sinal

A decisão do Brasil de oferecer nacionalidade aos nicaraguense que foram declarados “apátridas” por Ortega, foi tomada como um sinal de que a posição de Lula perante a crise da Nicarágua. Mude. “Essa declaração foi recebida por setores brasileiros como uma reconsideração em relação ao silêncio inicial, e da tentativa dos setores que primeiro publicaram uma saudação a essas eleições fraudulentas (de 2022)”, explica.

Em um encontro com a Chancelaria e o Congresso Federal lhe explicaram o procedimento que devem seguir os nicaraguenses “apátridas” para acolher a nacionalidade brasileira, que ao contrário de outras nações que também a ofereceram, o processo no Brasil é rápido. “Nos vão fazer a tradução e também um resumo que nós vamos fazer chegar a todos os 94 (opositores desnacionalizados) e aos 222 (ex-presos políticos desterrados) que estão nos Estados Unidos”, destaca. 

Baltodano, exilada na Costa Rica desde 2021, é uma dos 317 nicaraguenses destituídos de sua nacionalidade, e parte dos 94 cidadãos aos quais o regime ordenou confiscar seus bens e propriedades. 

Também realizou reuniões com a Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal do Brasil, que tem muita influencia no Governo. Além disso com membros da igreja anglicana e com mais de 200 pessoas de comunidades religiosas. 

A ex-guerrilheira comenta que não se pode dizer que a aproximação de Lula com a Rússia e China possa beneficiar a Ortega porque não se trata de um realinhamento ao estilo da Guerra Fria do século passado, porque no caso do gigante asiático o que há é um interesse comercial. 

“No caso da China, é claro que seu interesse principal é eminentemente comercial. Necessitam de matérias primas e necessitam de mercado para seus produtos. E segue uma lógica bem pragmática. Não parecem querer se envolver em conflitos de outro tipo. Estão na disputa de mercado e isso é claríssimo. E Nicarágua, para os chineses não representa nenhum interesse nessa direção”, opina. 

“O que devemos nos perguntar – prossegue – é se realmente o Brasil escolherá jogar um papel mais beligerante na América Central e particularmente Nicarágua, ou se concentrará nos grandes cenários. Não temos todavia claro, nem muita gente com quem temos falado. Lembremos que se passaram apenas 100 dias (do início do seu mandato) e então não está bem clara a rota que vão seguir”. 


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