Aftersun, o que ficou de mim
Resenha do filme “Aftersun” (2022) – Charlotte Wells
“Pai, o que você fazia quando tinha 11 anos?” Essa foi a pergunta que me fisgou no início do filme Aftersun (Charlotte Wells). A mesma pergunta foi feita por mim ao meu pai seis meses antes de ver o filme. Ou melhor, não a mesma, porque no ano passado não fiz 11 anos. Ainda assim, acredito que toda a narrativa do filme se resume nessa pergunta, que remete a uma memória que não é aquela apresentada em Aftersun, mas a memória que Sophie busca conhecer.
Depois de indicar pra tantos amigos sem sucesso, não vou comentar aqui nenhuma outra cena do filme com o objetivo fazer que alguém assista. Mas talvez o maior spoiler, não só do filme mas da vida, seja dizer que nós ,como filhos, não só queremos saber quem foram nossos pais (ou tias, avós, irmãos e primos mais velhos) sem nós. Mas também buscamos saber onde eles se limitam.
Sophie só tem 11 anos e já tem muitas dúvidas sobre quem ela é, quem ela quer ser e quem ela vai ser. Enquanto ela busca atentamente isso, olhando o pai em cada detalhe, nós buscamos desesperadamente entender cada silêncio presente no roteiro.
Não há nenhuma coincidência entre a pergunta de Sophie e a pergunta que fiz ao meu pai ano passado. Os encontros aleatórios tem por trás trabalho e reflexão, da mesma forma que um jogador treina sem saber exatamente como virá o gol. No caso de Charlotte, sua genialidade está em conhecer essa dinâmica entre o pai que tenta por tudo não faltar para a filha que busca sutilmente saber onde ele falta.