As lições e reflexões que o movimento indígena dá ao 59º CONUNE
Por um movimento estudantil combativo e independente!
Via Juntos!
O movimento estudantil combativo, nos últimos acontecimentos importantes da nossa geração, principalmente na luta contra políticas genocidas e de dinâmica fascista, nos mostrou que a organização de um movimento espontâneo, agitativo e feitos junto das bases, continua sendo o melhor apontamento para o que as lutas desse próximo período exigirão.
O 59° Congresso da União Nacional dos Estudantes, especialmente com o resultado do que foi o evento, infelizmente não conseguiu (por motivos propositais) costurar caminhos para esses apontamentos.
Essas lições de independência política já foram e continuam sendo dadas pelo Movimento Indígena que, em vários momentos históricos e, inclusive, fervorosos, nunca se deixam levar por “dividas” ou troca de favores. O MI encampou, e se orgulha disso, da luta pela campanha de Lula 2022, mas mais do que isso, a luta pelo Fora Bolsonaro, que era a prioridade do momento.
Passado isso, o momento de arrumar a casa aconteceu. A desmilitarização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), a criação do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a nomeação de coordenadores indígenas para Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), Coordenação Territorial Local (CTL-FUNAI), Coordenação Regional (CR-FUNAI) e Secretarias; a bancada do cocar. E, nem de longe, isso é pouca coisa, mas menos ainda são consideradas como “presentes” de governo ou moeda de troca. Governos passam, mas o movimento fica.
Segundamente, muito é de se preocupar qual é o movimento estudantil da UNE que está sendo construído sem a confirmação de presença indígena em espaços de linha política. Com toda certeza as lideranças qualificaram o debate em outro nível. A UNE precisa dialogar com lideranças que trazem em seu debate a construção de uma educação diferenciada, e que esteja na luta das demandas reais do movimento indígena, sem compactuação com a velha política bolsonarista.
E digo isso porque foi o Movimento Indígena que esteve nas ruas até o último dia, antes das eleições, pedindo pelo Fora Bolsonaro. E firmes, sabendo que aquela política genocida, envelhecida e podre era a principal ameaça de vida.
E por que estou fazendo esse resgate das nossas lutas para falar do 59° Conune?
Porque nós acreditamos e fazemos uma construção de luta que não deve a ninguém. Elegemos Lula, mas a lua de mel já passou. A luta por demarcação de terras continua, a batalha pelo fim do marco temporal segue viva e, principalmente, a morosidade do governo para cumprir políticas para nós, já não está nos descendo a goela.
Nunca precisamos ser submissos a A ou B para garantir nossas conquistas. Não temos políticos ou governos de estimação. A nossa construção é independente e feita por nós e para nós. Combativa que bota o dedo na ferida sem medo de retaliação, afinal, são séculos resistindo. As ideias bolsonaristas e as ameaças fascistas seguem disputando espaço, mas esse será o nosso freio? O medo? A covardia de disputar a política que nós acreditamos? Quem viveu/vive Belo Monte, as chacinas nos conflitos agrários, ataques de garimpeiros, o marco temporal, tetos de gastos, sabe que a luta é feita com pé no chão e braços dados, e não com aperto de mãos e reuniões de negociações em gabinetes.
É esse o espírito que o 59° Congresso da Une precisava agitar, porém, a frustração veio. Sem nenhuma surpresa. Esse movimento estudantil que leva a política na morosidade e com cautela, a ponto de recuar em momentos que previsa avançar no debate, tem muito que aprender com o que é verdadeiramente ser de luta e de ruas. Não que o MI seja o dono da verdade, mas sabemos que nesse quesito a luta ancestral já está muito a frente.
A União Nacional dos Estudantes não pode se submeter e aceitar restos de negociações do andar de cima. É esse o movimento que Honestino faria? Tenho certeza que não.
Desde quando o movimento estudantil parou de dar atenção para a substância e essência da política agitativa e de base, e a virar sua atenção somente para ritos, formas e burocracia? Esse movimento está fadado não somente ao erro organizacional, mas está levando toda uma história e vontade de luta de uma geração para um campo de inércia.
As lutas da nossa geração estão postas, cabe a nós toma-lás com as mãos, mirar a flecha no alvo correto da história, sem covardia.