EUA | Caminhoneiros da UPS preparam-se para se juntar a onda de greves
97% dos filiados no sindicato de caminhoneiros deram até ao fim do mês para que a empresa aumente salários, compensando congelamentos anteriores e inflação
Via Esquerda.Net
Apresenta-se como o maior sindicato dos Estados Unidos e prepara-se para enfrentar a maior empresa de transportes do país. Os 340.000 motoristas da UPS representados pelo sindicato International Brotherhood of Teamsters votaram por 97% uma autorização para este entrar em greve caso as negociações que se têm arrastado desde há três meses não cheguem a bom cenário até ao próximo dia 31 de julho.
Agora, a meio da semana passada, sindicato e empresa romperam as negociações por causa da recusa de aumentos salariais que compensem a subida da inflação, de acabar com horas extraordinárias forçadas e as disparidades de rendimentos e contratar mais trabalhadores a tempo inteiro. A UPS alega queda de receitas de 6% este ano, apesar de estar a comparar com o ano anterior em que atingiu o seu máximo de sempre enquanto os salários dos trabalhadores continuavam congelados.
Segundo o Washington Post, antes da ruptura, outras exigências como a retirada de câmeras de vigilância nos caminhões e a instalação de melhores sistemas de ar condicionado, tinham merecido acordo por parte da empresa.
Na sua conta do Twitter, os Teamsters explicam que “não há negociações adicionais agendadas”, que a UPS se recusou a entregar uma proposta melhorada e declarou que “não tinha nada mais a oferecer”. Ao que Sean O’Brien, presidente do sindicato, retorquiu que “esta empresa de multibiliões de dólares tem muito para dar aos trabalhadores americanos – eles só não o querem fazer. A UPS tinha uma escolha a fazer e escolheu claramente seguir o caminho errado”.
O International Brotherhood of Teamsters, que representa 1,2 milhões de trabalhadores no seu total, começou entretanto a fazer “exercícios de preparação” para esta greve com piquetes informativos em vários pontos do país.
Onda de mobilização sindical continua
No feriado do 4 de julho, milhares de trabalhadores dos serviços de 19 hotéis de Los Angeles e Orange entraram em greve no que foi considerada uma ação inédita.
Para além disso, o Workers United continua a mobilizar processos de sindicalização na Starbucks que já chegaram a 250 locais de trabalho e o Amazon Labor Union tenta fazer o mesmo na Amazon, duas empresas das mais hostis a deixar sindicatos organizarem-se nas suas instalações. Estes processos têm inspirado trabalhadores de outras empresas como as lojas Apple ou os supermercados Trader Joe a avançar.
Tudo isto, segundo o El Diário, resultou num aumento de pedidos de criação de estruturas sindicais na Junta Nacional de Relações Laborais de 53% em 2022, com uma tendência a aumentar este ano e numa duplicação este ano do número de participantes em greves no país relativamente ao ano passado (119.000 trabalhadores participaram em 146 nos primeiros cinco meses do ano), o que é também seis vezes mais do que em 2021.
Uma sondagem da Gallupmostra que nos EUA as opiniões favoráveis acerca dos sindicatos alcançam os 71%, o nível mais elevado desde 1965.
Motoristas da Amazon em greve contra demissão coletiva de sindicalizados
O mesmo sindicato está a coordenar mobilizações solidárias com os motoristas e ajudantes da estação de entregas de Palmdale, na Califórnia, que tinham começado uma greve a 24 de junho e estão agora a percorrer outras instalações em Massachusetts, Califórnia, Nova Jérsia e Connecticut.
A empresa recusou-se a reconhecer a seção sindical – “ilegalmente”, dizem os Teamsters -, começou com várias “práticas laborais injustas” e acabou por despedir dezenas de trabalhadores por se terem organizado. O sindicato diz que vai avançar para tribunal sobre este assunto, enquanto a ação solidária se multiplica E irá manter a greve até que a Amazon reintegre os trabalhadores e inicie negociações sobre os baixos salários e condições de trabalho perigosas.
Os argumentistas continuam em greve, os atores também ponderam juntar-se
Enquanto a greve dos argumentistas convocada pelo Writers Guild of America continua desde 2 de maio, os 160.000 artistas filiados no SAG-AFTRA tinham decidido, com 98% dos votos a favor, que entrariam em greve se não houvesse acordo com os principais estúdios de Hollywood até ao passado dia 30. Decidiram prorrogar o prazo até à próxima quarta-feira mas também eles estão já organizar piquetes como forma de preparação da greve que se avizinha.
Numa declaração, Duncan Crabtree-Ireland, dirigente deste sindicato, insiste que quer chegar ao acordo “que os nossos membros querem e merecem”.
Em causa estão, como no caso dos argumentistas, por exemplo questões relacionadas com os novos serviços de streaming, com os trabalhadores a não beneficiarem justamente da reprodução do seu trabalho nestas plataformas, ao contrário dos seus patrões. Vários destes trabalhadores também têm manifestado receios sobre os efeitos da inteligência artificial no setor.