As eleições no Equador e as fakenews na “esquerda”
F3u5aXjWMAEGg73

As eleições no Equador e as fakenews na “esquerda”

A campanha de difamações contra a candidatura de Yaku Perez atinge diversos setores da esquerda internacional

Israel Dutra e José Correa Leite 17 ago 2023, 17:48

Foto: Cecilia Velasque / Twitter

Estamos na semana decisiva para o processo eleitoral equatoriano, cujo primeiro turno ocorre dia 20 de agosto.

Ela se dá no contexto de uma mudança de qualidade na vida política do país, com o crescimento do poder do narcotráfico e dos grupos armados, que se multiplicam na terra arrasada das políticas neoliberais. O Equador ganhou manchetes internacionais com o assassinato de lideranças políticas de diferentes corrente, entre elas o candidato presidencial Fernando Villavicencio.

O Equador acumula um recente histórico de enfrentamentos de massas contra os últimos governos, tendo como epicentro o levante de outubro de 2019. O protagonismo indígena e popular paralisou o país, derrotou o “pacotaço” neoliberal e feriu de morte o governo de Lenin Moreno. Há um marco regional que confere centralidade para essa disputa: o fracasso do processo constituinte no Chile, a eleição de Petro e Francia na Colômbia, a sublevação peruana. Mas também o recente pleito argentino para escolha de candidatos, onde o fascista Javier Milei foi o mais votado. As eleições colocam, por fim, um holofote sobre os dilemas civilizacionais de nosso continente e de nossa época, uma bifurcação de rumos ambiental e civilizatório, com o simultâneo plebiscito sobre a não extração de petróleo no Parque Yasuni.

O fim do governo Lasso foi antecipado em função da crise social potencializada por suas políticas neoliberais. Para não sofrer o impeachment pelo Congresso, o presidente Guillermo Lasso decretou a “morte cruzada”, a convocação, constitucionalmente prevista, de novas eleições para o Congresso e a presidência.

Nelas, se destacam a candidatura do Movimento Revolução Cidadã, o partido de Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017, cuja chapa é encabeçada por Luisa Gonzalez. Temos duas candidaturas de extrema-direita, as de Otto Sonnenholzner e Jan Topic, que surfam na escalada dos problemas da inseguraça pública, com a proliferação dos cartéis e do crime organizado controlando os presídios, que sustentam políticas ultra-repressivas, inspiradas nas do presidente Nayib Bukele de EL Salvador. E a aliança de movimentos indígenas, ambientalistas e feministas representada por Yaky Peréz e Nory Pinela na lista “Claro que se puede”.

Yaku Peréz volta a se apresentar como candidato depois de ter ficado fora do segundo turno, nas eleições de fevereiro de 2021, por apenas 0,35% dos votos, com uma grande suspeita de fraude que favoreceu a Guillermo Lasso. Este foi para o segundo turno e foi eleito contra o candidato então apoiado por Rafael Correa, Andres Arauz. A chapa Yaku e Nori articula o fortalecimento dos direitos sociais com a defesa da natureza e a crítica do neoextrativismo e ao desenvolvimentismo predador. Ganha assim o apoio da maioria da CONAIE e do Pachacutik, organizações decisivas do movimento indígena e tece laços fortes com os movimentos ambientais e de mulheres.

É lamentável, no quadro de uma eleição tão decisiva, que circulem novamente, em alguns setores, calúnias e fakenews que procuram deslegitimar a chapa de Yaku e Nori junto à opinião pública progressista. A origem é novamente o site Grayzone, no qual Ben Norton levanta suspeitas de Yaku ser um “agente da CIA”, através de distorções de falas e edições de posições colocadas fora do contexto. Um de nós já analisou longamente as “fakenews” desse site na campanha equatoriana de 2021 (ver aqui), mas destacamos que essa é também a origem de fakenews posteriores contra Monica Baltodano, que combate a ditadura orteguista, e de propagandas de apoio à outras ditaduras alinhada com os governos da Rússia e da China (como a de Asad, na Síria).

Há setores políticos progressistas em nosso continente que pretendem ter o monopólio da esquerda e mobilizam provocadores com Ben Norton. Não aceitam as críticas feitas a eles por correntes indígenas e ambientalistas que criticam sua políticas neoextrativistas e fossilistas, que supostamente promoveria o “desenvolvimento nacional”. Não é nossa posição. Por isso apoiamos, no Brasil, os equatorianos que defendendo o “Si” no plebiscito de Yasuni e o voto em Yaku Peréz e Nori Pinela.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi