As eleições no Equador e as fakenews na “esquerda”
A campanha de difamações contra a candidatura de Yaku Perez atinge diversos setores da esquerda internacional
Foto: Cecilia Velasque / Twitter
Estamos na semana decisiva para o processo eleitoral equatoriano, cujo primeiro turno ocorre dia 20 de agosto.
Ela se dá no contexto de uma mudança de qualidade na vida política do país, com o crescimento do poder do narcotráfico e dos grupos armados, que se multiplicam na terra arrasada das políticas neoliberais. O Equador ganhou manchetes internacionais com o assassinato de lideranças políticas de diferentes corrente, entre elas o candidato presidencial Fernando Villavicencio.
O Equador acumula um recente histórico de enfrentamentos de massas contra os últimos governos, tendo como epicentro o levante de outubro de 2019. O protagonismo indígena e popular paralisou o país, derrotou o “pacotaço” neoliberal e feriu de morte o governo de Lenin Moreno. Há um marco regional que confere centralidade para essa disputa: o fracasso do processo constituinte no Chile, a eleição de Petro e Francia na Colômbia, a sublevação peruana. Mas também o recente pleito argentino para escolha de candidatos, onde o fascista Javier Milei foi o mais votado. As eleições colocam, por fim, um holofote sobre os dilemas civilizacionais de nosso continente e de nossa época, uma bifurcação de rumos ambiental e civilizatório, com o simultâneo plebiscito sobre a não extração de petróleo no Parque Yasuni.
O fim do governo Lasso foi antecipado em função da crise social potencializada por suas políticas neoliberais. Para não sofrer o impeachment pelo Congresso, o presidente Guillermo Lasso decretou a “morte cruzada”, a convocação, constitucionalmente prevista, de novas eleições para o Congresso e a presidência.
Nelas, se destacam a candidatura do Movimento Revolução Cidadã, o partido de Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017, cuja chapa é encabeçada por Luisa Gonzalez. Temos duas candidaturas de extrema-direita, as de Otto Sonnenholzner e Jan Topic, que surfam na escalada dos problemas da inseguraça pública, com a proliferação dos cartéis e do crime organizado controlando os presídios, que sustentam políticas ultra-repressivas, inspiradas nas do presidente Nayib Bukele de EL Salvador. E a aliança de movimentos indígenas, ambientalistas e feministas representada por Yaky Peréz e Nory Pinela na lista “Claro que se puede”.
Yaku Peréz volta a se apresentar como candidato depois de ter ficado fora do segundo turno, nas eleições de fevereiro de 2021, por apenas 0,35% dos votos, com uma grande suspeita de fraude que favoreceu a Guillermo Lasso. Este foi para o segundo turno e foi eleito contra o candidato então apoiado por Rafael Correa, Andres Arauz. A chapa Yaku e Nori articula o fortalecimento dos direitos sociais com a defesa da natureza e a crítica do neoextrativismo e ao desenvolvimentismo predador. Ganha assim o apoio da maioria da CONAIE e do Pachacutik, organizações decisivas do movimento indígena e tece laços fortes com os movimentos ambientais e de mulheres.
É lamentável, no quadro de uma eleição tão decisiva, que circulem novamente, em alguns setores, calúnias e fakenews que procuram deslegitimar a chapa de Yaku e Nori junto à opinião pública progressista. A origem é novamente o site Grayzone, no qual Ben Norton levanta suspeitas de Yaku ser um “agente da CIA”, através de distorções de falas e edições de posições colocadas fora do contexto. Um de nós já analisou longamente as “fakenews” desse site na campanha equatoriana de 2021 (ver aqui), mas destacamos que essa é também a origem de fakenews posteriores contra Monica Baltodano, que combate a ditadura orteguista, e de propagandas de apoio à outras ditaduras alinhada com os governos da Rússia e da China (como a de Asad, na Síria).
Há setores políticos progressistas em nosso continente que pretendem ter o monopólio da esquerda e mobilizam provocadores com Ben Norton. Não aceitam as críticas feitas a eles por correntes indígenas e ambientalistas que criticam sua políticas neoextrativistas e fossilistas, que supostamente promoveria o “desenvolvimento nacional”. Não é nossa posição. Por isso apoiamos, no Brasil, os equatorianos que defendendo o “Si” no plebiscito de Yasuni e o voto em Yaku Peréz e Nori Pinela.